sexta-feira, 15 de abril de 2011

O rei da comédia

C
H
A
R
L
E
S

C
H    Celebram-se hoje os 122 anos          
P    do nascimento do rei da comédia.
L
I
N

(16-04-1889 Londres- 25-12-1977 Corsier-sur-Vevey)

"A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos".
(Charles Chaplin)

Tributo a Charlot, com um poema de Eduardo Valente da Fonseca

O CHARLOT É QUE SIM

Creio que uma das muitas pessoas que têm razão no 
mundo é Charlot.
É certo que passa fome, tem o seu frio no Inverno
e as botas todas gastas,
mas ri-se de muita coisa,
despreza admiravelmente a ordem
e vai aguentando as cacetadas e prisões e outras 
violências.
No entanto,
o multimilionário Rockefeller é que passa por inteligente
e empreendedor e grande,
e honesto e moralista,
e benfeitor também quando é preciso.
É evidente que o Rockefeller até trabalha aos domingos,
e que isso vai ficar na história dos grandes feitos de hoje,
mas o que mais me alegra são as vagabundagens
do Charlot,
e o orgulho dele contra as moedas acumuladas,
e aquele chuto na ponta do cigarro ao ir para a prisão,
e esse infinito voltar de costas às fardas,
e o comprar comovidamente flores à rapariga cega,
e dar-lhe a mão depois
 e entristecer dos pobres serem tristes.
... É por isso que nunca sonho com o Rockefeller.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Convocar a memória

Facto incontestável é o de que a história do homem é feita de memórias. Lembrei-me disto, quando ontem li e recordei que foi precisamente há 50 anos, que um cidadão russo, de seu nome Iuri Gagarine, foi o primeiro homem que a 350 Kms acima do nosso planeta, o sobrevoou numa  volta completa. Foi ele, que lá de cima, gritou: «A terra é azul». Foi Gagarine, que por associação de ideias, me deu a oportunidade de convocar a memória, e chamar para uma conversa, talvez mais real do que imaginária (seria eu a sonhar?), a Baby, o Nicola e o Lucky. Conversa breve e cheia de nostalgia (uma espécie de saudade que não tem retorno). Mas que deu para saber que ainda andam lá por cima a espicaçar a paciência do velho que está sentado na lua, e os afasta atirando-lhes  uma mão cheia de pó das estrelas, que costumamos ver a brilhar no céu em noites de luar. Ficou combinado que de vez em quando, quiçá inesperadamente, podem aparecer. Serão bem-vindos.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ode ao futebol

Diziam que o ciclo dos outros tinha terminado, que era o início de um novo ciclo (o seu). Eram (ainda dizem que são) os melhores. Bolsaram soberba e sobranceria quanto baste para alimentar os media, para alimentar o instinto básico dos adeptos. Armaram-se em paladinos do "fair play", que acabaram para deitar ao lixo. Sempre se disseram prejudicados por terceiros, e nunca assumiram os próprios erros. E tudo isso deu no que deu. Tiveram agora a resposta.
Para eles aqui fica a Ode ao futebol, de Tossan

ODE AO FUTEBOL

Rectângulo verde
meio de sombra
meio de sol
vinte e dois em cuecas
jogando futebol
correndo
saltando
ziguezaguando
ao som dum apito
dum homem magrito
«também em cuecas»
e mais dois carecas
com uma bandeira
de cá para lá
de lá para cá

Bola ao centro
bola fora
fora o árbitro

E a multidão
lá do peão
gritava
berrava
gesticulava
e a bola coitada
rolava no verde
rolava no pé
de cabeça
em cabeça
a bola não perde
um minuto sequer
e zumbindo no ar
como um besoiro
toda redonda
toda bonita
vestida de coiro

O árbitro corre
o árbitro apita
O público grita
bola nas redes

Laranjadas
pirolitos
asneiras
palavrões
damas frenéticas
gordas
esqueléticas
esganiçadas aos gritos
todos à uma
todos ao um
ao árbitro roubam o apito

Entra a guarda
entra a polícia
os cavalos a correr
os senhores a esconder
uma cabeça aqui
um pé acolá
ancas
coxas
pernas
cabeças no chão
cabeças de cavalo
cavalos sem cabeça
com os pés no ar
fez-se em montão
a multidão.

E uma dama excitada
que era casada
com um marido
distraído
no meio da bancada
que estava à cunha
tirou-lhe um olho
com a própria unha

À unha, à unha!
ânimos ao alto!...
E no fim
perdeu-se o campeonato!

No fundo

O meu comentário. No fundo.
Luzes do estádio apagadas e aspersores de rega ligados. Onde está o fair play que tanto apregoavam?
Como diria o cónego Remédios: «Não havia nexexidade» 

Campeões


Comentários? Para quê? A cinco jornadas do fim!

Chegou e disse

Ontem, ao passar na RTP, ocasionalmente, por um concurso, retive duma conversa entre o concorrente e o apresentador, acerca da pergunta que havia sido feita, já não sei a que propósito, o seguinte comentário, um dito conhecido e habitual em certas ocasiões: "chegou e disse, tirou o chapéu e foi-se". Daí ter-me vindo à memória um texto de Mário-Henrique Leiria, que talvez, quem sabe, tenha sido inspirado nesse dito. Ei-lo:

HISTÓRIA EXEMPLAR 

«Entrei.
- Tire o chapéu - disse o Senhor Director.
Tirei o chapéu.
- Sente-se - determinou o Senhor Director.
Sentei-me.
- O que deseja? -investigou o Senhor Director.
Levantei-me, pus o chapéu e dei duas latadas no Senhor Director.
Saí.»

Carantonhas, se sorriram, tenham uma boa semana de trabalho. Se não sorriram, tenham-na também.

sábado, 2 de abril de 2011

Dia Mundial do Livro para a Infância

Eu sou o mundo, e o mundo sou eu,
porque através do meu livro
posso ser quem quiser.
Palavras e imagens, versos e prosa,
levam-me a lugares vizinhos e distantes.

Na terra dos sultões e do ouro,
mil histórias se revelam,
tapetes voadores, lâmpadas mágicas,
Génios, Ghouls e Simbad,
contam os seus segredos a Sherazade.

A cada palavra em cada página,
viajo no tempo e no espaço.
e nas asas da fantasia
o meu espírito atravessa terra e mar.


Quanto mais leio, mais compreendo
que, com o meu livro,
estarei sempre
na melhor das companhias.
(Cartaz e mensagem do Dia Mindial de 2009)

Em 1967, a UNESCO instituiu o Dia Mundial do Livro para a Infância (em Portugal insistimos - quanto a mim erradamente, mas quem sou eu? - na designação Livro Infantil, teatro infantil, cinema infantil) e designou como promotor o IBBY (International Board on Books for Young People). Comemora-se em 2 de Abril, em honra do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen, nascido nesta data, e que dedicou a sua vida a escrever histórias para crianças. Disse um dia ( cito de cor) “a minha vida é uma história maravilhosa”. O propósito da criação deste dia, foi o de despertar nas crianças o interesse pela literatura. Como curiosidade, diga-se que a literatura para a infância surgiu no séc. XVII, com Fénelon, “com a função de educar moralmente a criança”.

(François Fénelon, foi um teólogo católico, poeta e escritor francês, cujas ideias liberais sobre política e educação, esbarravam contra o “status quo” da Igreja e do Estado dessa época.)

Ler é aprender, ler é saber, ler é crescer. Portanto, carantonhas pais, avós, tios, tias, primos, padrinhos, outros parentes e amigos, os livros precisam de ser manuseados, precisam que lhes sintam o volume, o cheiro. Vamos lá a transmitir isso às crianças, e a incentivá-las à leitura. Elas vos agradecerão.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Mário ou ele próprio o Outro



In Memoriam

António Mário Lopes Pereira Viegas, tout court Mário Viegas. Foi um dos maiores (senão o maior) actores da sua geração.Foi também encenador e "dizedor " de poesia; fez cinema. Irreverente e egocêntrico quanto baste. Da profissão herdou a efabulação e o lado mistificador. Tornou-se um mito. No dia 1 de Abril de há quinze anos, enganou-se ou quis enganar-nos, saiu de cena e procurou outro palco, e decerto não me engano se disser que agora, ou mais logo, lá estará junto dos parceiros que representou ou disse, divertindo-se a dizer Mário Henrique-Leiria, ou mesmo Tossan. E, se lá onde está, for permitido beber, de copo na mão. Com gin.