quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

PALAVRAS


Foto in reclamatione.wordpress.com
Há palavras que nos mordem. Palavras que nos magoam. Palavras que nos agridem, que nos doem. Mas há também palavras que nos beijam. Palavras que nos acariciam. Palavras que nos abraçam, outras que nos emocionam. Há palavras que nos confortam. Palavras que nos enchem de alegria. Palavras que nos trazem tristeza. Há palavras que nos comprometem. Outras que nos defendem. Há palavras frágeis (são como um cristal as palavras - Eugénio de Andrade). Há também palavras “amigas, companheiras, namoradas” (Joaquim Pessoa). Há palavras de que gostamos. Há também as que detestamos.
Há uma palavra que eu detesto: tolerância, palavra hoje tão em voga e tão maltratada. Vem do latim tolerare, capacidade para suportar ou aceitar. Tolerar, no sentido mais comum que aplicamos à palavra, é ter a capacidade de aceitar as diferenças do outro. Mas se por natureza somos iguais, não faz sentido falar em tolerância uma vez que todas as ideias e convicções são legítimas, porque são produto de homens livres e com iguais direitos. É isto que normalmente o ser humano não compreende e então lá vem a tolerância no seu sentido pejorativo: a aceitação contrariada de qualquer coisa que não podemos impedir, o que nos conduz a algo ainda pior: a intolerância. E se quem tolera está teoricamente numa posição de superioridade em relação ao tolerado, e pode ou não tolerar, podemos estar a um pequeno passo da violência. Há também quem defenda que a aceitação da identidade cultural do Outro não significa que o aceitemos como igual, nem sequer que aceitemos conviver no mesmo espaço. Se isto não é a negação da tolerância!!
É por isso que eu costumo dizer que prefiro que me ignorem a que me tolerem.

São como um cristal,
as palavras.
Algumas um punhal,
um incêndio.

Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.

Inseguras navegam:
arcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes, leves.
Tecidas são de luz e são a noite.
E mesmo pálidas,
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?
Quem as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade, in Coração do Dia (1958)

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Meu Amigo, concordo com o teu ponto de vista...

E Gosto, gosto muito de Eugénio de Andrade!

Bj


Maria Mamede