sexta-feira, 31 de julho de 2009

Regresso


fotografia actual, obtida por Amílcar Mendes



Caros carantonhas, cá estou de regresso e pronto a deixar aqui, de vez em quando, um ou outro escrito que julgue de interesse. Regresso da Costa Nova, praia, onde estive quase dois meses, com dias para todos os gostos e que tentei aproveitar o melhor possível

A fotografia que fica aí em cima não é de duas casas geminadas, muito menos gémeas, isto é, nascidas no mesmo parto, nem se trata de mãe e filha, como possa parecer. São simplesmente duas casas a imitar os antigos palheiros da Costa Nova do Prado.

Voltarei ainda aqui para continuar a falar da praia, até porque quero falar do palheiro de José Estêvão e de Eça de Queirós, seu frequentador.

Deixo aqui uma outra fotografia, de autor desconhecido, mas identificada como sendo do ano de 1870, e que nos mostra como a Ria de Aveiro estava bem próxima das casas, ao contrário de hoje, bem longe destas, em virtude do espaço que lhe foi roubado.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Tempo de romarias, tempo de festas

Santo António já se acabou/O São Pedro está-se a acabar/S. João, S. João, S. João/Dá-me um balão para eu brincar. Era assim que se cantava (desconfio que ainda hoje se canta) cá pelo Norte na época dos Santos Populares. Estes já ficaram para trás mas as festas populares e as romarias continuam por todo o lado, principalmente no norte do país. É também altura de muitos portugueses da diáspora regressarem temporariamente às suas origens. É o tempo de o povo se manifestar, dar largas à sua alegria (nesta altura todas as agruras se esquecem, penso eu), descomprimir de um ano de trabalho árduo. É também boa altura para o povo manifestar a sua veia poética, nas cantigas ao desafio que se cantam em despique por vezes duro. E assim nascem muitas vezes os versos - quadras populares - que passam a andar na boca desse mesmo povo. Quadras muitas vezes de sentido crítico, e algumas (muitas) legando-nos um forte conceito de moralidade. Dito isto, porque não algumas quadras populares. Vamos a isso.

Debaixo do verde pinho
Se derrete a neve pura...
Amar a quem nos não ama,
É refinada loucura.

Ó meu amor a quem deste
O teu lenço de pintinhas?
Com quem foste repartir
O amor que tu me tinhas

O padre quando diz missa,
Abre o livro e diz: oremos.
Também te digo amor,
Desta feita acabaremos.

Não há pau como o carvalho,
Nem lenha como a de azinho;
Nem filhos como os do padre
Que chamam ao pai, padrinho.

Que triste sorte é a minha,
Tudo é o que Deus quer,
Inda hoje me casei
Já me pariu a mulher.

Todo o pássaro bebe água,
Só a coruja bebe azeite;
O seu canário, menina,
Come carne, bebe leite.

Ó meu amor, se tens penas
Eu ponho água a aquentar
As penas, com água quente,
São boas de depenar.

Menina, prenda o seu cuco,
Que me vai ao meu quintal.
Se lhe solto o meu canário,
O seu cuco fica mal.

Ó menina, dê-me, dê-me,
Uma vez não marca raia:
Um velo de lã merina,
Que tem debaixo da saia.

Sete vezes fui casada;
sete homens arrecebi.
Para falar a verdade
Inda 'stou como nasci.

À prima mais se lhe arrima,
Lá diz o velho ditado.
Ouve a voz do povo ó prima
E vem deitar-te a meu lado.

E por aqui me fico. Usufruam, carantonhas. Até um dia destes.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sonhos... que dão em azar

Eu sei que há por aí carantonhas que não perdoam, mesmo estando o Carantonha Mor em gozo de prolongado e merecido período de férias, a sua ausência do contacto virtual. Para não vos desapontar, numa vinda à civilização (isto é, à cidade), e na falta de inspiração, que espero não seja prolongada, resolvi recorrer a terceiros para vos deixar um texto com algum humor, que é aquilo que com frequência me falta. Fiquem então com um texto de António Manuel Revez (quem é este gajo?) do seu livro "O Pénis do Jeremias".

Sonho de menino

"Sempre quis ser Disc Jockey. D.J. Mesmo antes de ter querido ser bombeiro, no segundo ano do ciclo. O que é que era advogado, ou médico, ou engenheiro, ao pé de D.J.? Nada. Isso qualquer um é, ou podia ser. D.J. era com o ser astronauta, só para eleitos. Ter todas as mulheres da discoteca vidradas em mim, pôr toda agente a dançar, escolher a música ao meu gosto, , beber à borla, engatar miúdas, ser conhecido e famoso. O que é que um homem podia querer mais? E tinha as condições ideais para isso. Era ágil de mãos, tinha bom gosto, dormia pouco, aguentava a bebida, adorava as luzes da discoteca, e tinha uma carinha laroca de invejar.
Por isso, ainda hoje, cada vez que observo os corpos em silêncio a desenharem coreografias estranhas na pista da disco do meu bairro, me pergunto, com um diploma de jardineiro no quarto, porque é que tive que nascer surdo-mudo"

Deus, não pode bafejar toda a gente com a perfeição, digo eu. E digo mais, sem querer substituir-me a qualquer deus, a perfeição só está ao alcance dos eleitos. Porra, mas quem são os eleitos? É melhor ficar por aqui. Tenho dito.

Já sei quem é "o gajo". António Manuel Revez, nasceu em 1969 em Almada. Quando era criança gostava de desenhar cavalos e naves espaciais. Depois quis ser tenente da Marinha e acabou a estudar Filosofia em Coimbra. Depois quis saber Sociologia e fez o mestrado em Évora. Vive no Alentejo. Tem uma cicatriz na perna esquerda. É casado com uma mulher fascinante e pai adoptivo de uma linda pastora alemã. Tem publicado textos de todo om feitio em jornais e revistas de toda a espécie, à excepção de boletins paroquiais. Também escreve peças de teatro. É professor e vai regularmente a discotecas. Gosta de cores garridas, de adormecer a ver filmes japoneses, e de fazer compras ao domingo à tarde. (Texto retirado do sítio Wook)

A ser verdade tudo isto, deve ser um "gajo porreiro".