Pelo menos dois jornais desportivos de hoje colocavam na sua primeira página títulos mais ou menos assim: (cito de memória) "não gozem mais connosco", ou "não gozem mais com o povo". Isto, a propósito da desavergonhada e escandalosa exibição da nossa selecção "futeboleira". Como é que é possível não querer que os nossos "meninos" do chuto (na bola) gozem com a "maralha", se o indivíduo que ocupa o cargo de secretário de estado do desporto (para tal personagem, só grafado com letra pequena), entidade que também tutela o futebol, é o primeiro a dar o exemplo. Refiro-me à despudorada conferência de imprensa da passada 5ª-feira, sobre o processo instaurado ao seleccionador nacional.Para justificar o injustificável. Como é possível não dizer nada, e no nada que disse, dizer tantas asneiras? Começo a pensar (não sei se tarde demais) que, de facto, com tais governantes, este pobre país vai mesmo pró galheiro. Mas isto não é de agora, já vem de longe. Veja-se o que nos dizia António Nobre em 1889 num seu soneto:...( mal despontava para a vida inquieta,/logo ao nascer mataram-lhe os ideais...) e no terceto final: Nada me importas, País! seja meu Amo/ O Carlos ou o Zé da T'reza... Amigos,/Que desgraça nascer em Portugal. Mas também Jorge de Sena no seu poema "A Portugal", de 1961, que começa assim: "Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Não é ditosa, porque o não merece./Nem minha amada, porque é só madrasta./Nem pátria minha, porque eu não mereço/a pouca sorte de nascido nela." e que acaba "... eu te pertenço. ès cabra, és badalhoca,/ és mais que cachorra pelo cio,/és peste e fome e guerra e dor de coração./Eu te pertenço mas ser's minha, não." E termino com a opinião de Alexandre O'Neill: "Ó Portugal, se fosses só três sílabas,... ó Portugal, se fosses só três sílabas/de plástico, que era mais barato/" e cujo termo é como ides ler: "Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,/golpe até ao osso, fome sem entretém,/perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,/rocim engraxado,/feira cabisbaixa,/meu remorso,/meu remorso de todos nós..." Como vêem! E para que não se perca tudo, aconselho-vos a ler os três poemas na íntegra.
Bom domingo.
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