Desde sempre o Homem se interrogou sobre a sua origem, sempre pensou que havia “algo”, “uma força”, “um ser superior” que o havia criado, que justificasse a sua existência. E então criou ele próprio, não uma, mas várias imagens de seres que justificassem as suas emoções, os seus sentimentos, as suas grandezas e as suas misérias, mas também a existência de tudo o que o rodeava. E assim nasceram os deuses Havia deuses para tudo. Que foram colocados no lugar ideal, o Olimpo Com o correr do tempo o Homem foi evoluindo e entendeu que era uma chatice pedir contas ou explicar-se perante tantos deuses. Achou que era uma trabalheira. E então pensou, pensou, e reuniu-os todos num só, que tivesse o poder de todos os outros que já existiam, e criou-O. Deu existência ao Ser Supremo, ao Todo Poderoso, um ser omnipresente (que tem o dom da ubiquidade), omnipotente (que tem todo o poder) e omnisciente (que tudo sabe). E chamou-lhe Deus e colocou-O no céu. E delegou Nele a responsabilidade de tudo. Até do caos que é o mundo actual. Ou não tivesse sido Ele o criador de Babel. Em suma, de vez em quando é preciso perdir-Lhe responsabilidades, Mas…
Responsabilidades
Gostava de deitar Deus no meu colo
e dar-lhe uns açoites no rabo.
Deus é uma criança malcriada.
Uma criança caprichosa que tem mais brinquedos
do que aqueles que pode usar.
Nós somos apenas bonecos abandonados
aos quais o dono arrancou os braços.
Um jogo de estratégia em que as baixas não contam.
Gostava de pôr Deus de joelhos, virado para a parede,
pôr-lhe umas grandes orelhas de burro,
mandá-lo para a cama sem jantar,
obrigá-lo a escrever um milhão de vezes:
Tenho de ser responsável,
tenho de acabar os trabalhos.
Infelizmente Deus é apenas uma criança malcriada,
não se lhe podem pedir responsabilidades.
Deveria castigar-se era os pais,
os que o criaram
Jorge Espina
(A tradução é minha)