Há dias, o jornalista Manuel António Pina, na sua crónica diária no JN, esta com o título “Apague-se a História”, contava-nos que um procurador brasileiro quer que seja retirada do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, a notação “cigano” no seu sentido pejorativo: “que, ou aquele que trapaceia, velhaco, burlador”. Diz o procurador “por semear a intolerância étnica”. Diz-nos MAP que “é o método de recalcamento típico das hordas do política e linguisticamente correcto: matar o mensageiro quando ele dá notícia de acontecimentos que… não deveriam ter acontecido”. E então teria que chegar a vez dos dicionários, “enquanto não chega a descafeinização das línguas de todos os usos e sentidos preconceituosos que nelas se foram acumulando ao longo dos séculos”.
“A língua portuguesa, por exemplo, seria limpa do uso de “judeu” ou “escocês” no sentido de avarento, “judiarias” no sentido de maldades, ou ainda expressões como “trabalhar como um negro”, “trabalhar como um mouro”, “trabalhar como um galego”, “gozar como um preto”, etc…Isto é, seria limpar da sua História. E, já agora, porque não limpar a própria História dos factos feios e deixar só os bonitos e “correctos”?”
É aqui que estou em desacordo com MAP, pelo menos no que à nossa História diz respeito. Que em inúmeros factos e fastos está cheia de inexactidões, criadas no tempo dos quarenta e tal ano de obscurantismo que nos governou. Era preciso mostrar ao mundo que na nossa História não havia misérias, só grandezas. E então havia que “dourar” as histórias. Querem factos? Dois ou três. Temos aquela “santa” rainha que enquanto o seu marido-rei se dedicava a escrever cantigas de amigo “ai deus i u é”, dava umas escapadelas até junto do(s) escudeiro(s) para que este(s) a ajudassem na colheita das rosas. Ou então aquele nobre aio que de corda ao pescoço, se foi entregar, com a família, ao rei de Leão. A história não nos diz porquê. Mas nós sabemos. Ou a daquele outro “santo” que rezava, “borrado de medo”, atrás de um penedo enquanto a batalha decorria. Como estes, há muitos outros factos “adocicados” na nossa História. Seria bom que a História fosse refeita. Eu sei, eu sei, a confusão que isso iria causar! Fora isto, que nos valha São Pancrácio ou então Nossa Senhora das Coisas Impossíveis.
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