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É assim mesmo. Todos sabemos que alguém que “os tem no sítio”, é alguém que enfrenta os acontecimentos com coragem, alguém que não se deixa abater facilmente, alguém que, como popularmente se diz, “pega o touro pelos cornos”. Por oposição, temos aquele que foge dos problemas “com o rabo entre as pernas”, enfim, o covarde. Só no parágrafo anterior já utilizámos três ditos populares para definir a personalidade de alguém. Isto, no ponto de vista do humano, pois no reino animal não sei se será assim. Por exemplo, um cavalo que não “os tenha no sítio”, não desempenha as suas tarefas com dignidade? Pelos vistos é o que parece, ainda que no caso particular de este ter o destino traçado para ser o garanhão do estábulo. É, pelo menos o caso do puro sangue lusitano, que a seguir se dá conta. Vem nos jornais que o Afonso Henriques – é o prosaico nome do garanhão – ganhou o concurso de “Modelo e Andamentos”, mas está em risco de perder o título por não “os ter no sítio”. Expliquemos: o garanhão sofre de uma doença, criptorquídia, (que nome bonito!) que impede a descida dos testículos ao escroto, tornando o animal infértil. Ora o regulamento só permitia a participação de animais com capacidade reprodutiva, o que não era o caso deste potencial garanhão. E por não os ter no sítio, assim se perde um título. Olha se o nosso primeiro monarca, lá onde está, sabe disto!
A propósito, sabeis, carantonhas, a origem da palavra testículo? Não? Então aí vai: À letra, do latim testis (testemunho) e diminutivo iculu, a palavra significa directamente “testemunhuzinho” ou “provazinha”. Testemunho, prova, de quê? Pois, da virilidade masculina. (Testemunhuzinho retirado de Dicionário da Origem das Palavras, de Orlando Neves). Já agora, a título de curiosidade, pesquisem a origem grega da palavra orquídia, e chegarão ao significado da criptorquídia, aí em cima.
QUERO UM CAVALO DE VÁRIAS CORES
Quero um cavalo de várias cores,
Quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Quero uma sela feita de restos
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Quero que as rédeas façam prodígios:
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Deixem que eu parta, agora, já,
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sózinho
Sem um cavalo de várias cores?
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sózinho
Sem um cavalo de várias cores?
Reinaldo Ferreira
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