Carantonha- s.f.-contorsão do rosto, esgar, máscara, cara feia, carranca, caraça. * Em criança, na região de onde sou natural, e onde então vivia, quando se brincava ao carnaval, o artefacto que nos ocultava o rosto, era a carantonha porque por norma era coisa feia. O tempo passa, a evolução acontece, e hoje, pelo menos quando jogamos ao carnaval, usamos uma máscara. Ou será que não a usamos todos os dias?
segunda-feira, 8 de março de 2010
Mulher I
No Dia Internacional da Mulher, alguma poesia de mulheres, ou sobre mulheres.
O primeiro é um poema de Vinicius de Moraes
POEMA PARA TODAS AS MULHERES
No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza, não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder-te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto,dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha, quero o colo de Nossa Senhora!
Um poema da poetisa Maria Mamede:
Sempre que te imaginava
Cobria-te de estrelas
E via-te
Cavalgando um cavalo de vento
Que de crinas soltas, negras como a noite,
Desaparecia no espaço
Voando até outras galáxias...
Agora, que te conheço,
Cubro-te de Sol,
E coroo-te de miosótis!
(Azul e oiro sempre formaram uma combinação perfeita).
Claro que o nosso romance há-de acabar;
Nessa altura, voltarei a cobrir-te de estrelas,
Mas levarei comigo os miosótis!...
Da poetisa angolana, Alda Lara:
TRAMPOLIM
Mãe:
Deixa-me saltar no Trampolim...
Deixa-me ser como os outros,
Gritar,
Empurrar,
Saltar nos trampolins que há por aí!...
Mãe:
Não me prendas mais...
Já que não posso ser acrobata,
Serei palhaço
A fingir que também
Sou capaz,
De dar saltos no espaço!...
...Mas ficar, não!
Deixa-me tentar...
Deixa-me saltar no trampolim!...
Por fim, um poema, ou texto poético, se quiserem, de Nelson Ferraz:
por ti, a alma do ventre sobrevive a pedaços de tempo que são notícia
e a vida ainda não se magoa nas arestas dos olhos que são muitos
por ti, inventou-se um culto que tem seios como searas
e colos como cais
e ternura como árvores
por ti, há pessoas com óculos,
na televisão, nos jornais e nas rádios, só para dizer:
- Hoje é o Dia Internacional da Mulher!
eu sei que tu não cabes num dia inteiro
mas, por ti, não digo nada.
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