Último dia de agosto, o mês tradicional de férias. Mês em que tradicionalmente se quer mar, água a gosto, sol para bronzear o corpo massacrado por um ano de trabalho. Agosto, mar, gaivotas, uma bebida fresca ao entardecer, música suave, e um poema de David Mourão-Ferreira
PARAÍSO
Deixa ficar comigo as madrugada
para que a luz do sol me não
constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um
posto,
onde eu ouça o estertor de uma
gaivota…
Crepite, em derredor, o mar de
Agosto…
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito…
Podes partir. De nada mais preciso
Para a minha ilusão do Paraíso.
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