sexta-feira, 5 de junho de 2009

Exames

Nas escolas estamos em cima da época de exames. Pensando nisso, fui à arca do velho ver se por lá havia algo sobre o tema. E encontrei. Um pequeno contarelo (passe a redundância). Então aqui vai, em jeito de era uma vez…

“… o jovem da nossa história vivia num meio rural, no seio de uma família modesta, mas honrada. Frequentou a escola da aldeia e depois, o colégio, na vila. Que se chamava colégio Infante D. Henrique. Apesar de na aldeia passar um ribeiro, pomposamente crismado de Rio Lindo, e de a nascente da vila passar o rio Cértima, não sei o que teria andado o Infante a fazer por aqueles lados. Adiante. Nos intervalos dos estudos ajudava, trabalhando para a casa. Apanhava erva para os animais, ia à lenha, para alimentar o fogo da lareira e ajudava o seu avô nas artes da lavoura. Quando completou o 5º ano (o do antigamente), o seu pai, que vivia e trabalhava na cidade grande, chamou-o para passar férias com ele. E disse-lhe: “agora ficas cá, pois quero que vás frequentar no ICP (Instituto Comercial do Porto), um curso de Habilitação à Faculdade de Economia O nosso jovem, que gostava de Letras e detestava a matemática, quase ficou mudo. Mas obedeceu. Resultado: andou três anos para fazer matemática do 1º. ano e frequentou mais dois do 2º., que não completou. O curioso, é que o tal curso não tinha a cadeira de Filosofia, necessária para o completar. Tinha que ser feita por fora. Assim, o nosso jovem, já espigadote e mais ou menos conhecedor das coisas boas da cidade e também de alguns dos seus perigos, estudando pelo compêndio, sem explicador, propôs-se a exame. Na primeira vez, por meio valor, não foi à oral. Na 2ª.vez conseguiu. Passava-se isto por 1957 ou 58. Apresentou-se a exame e quando chegou a sua vez lá estava ele perante o júri. O nosso jovem, que sempre fora mais bem sucedido a escrever do que a enfrentar provas orais, estava algo receoso. E tinha razão, como se verá. Diga-se que naquela época as provas escritas eram compostas por oito questões, mas lá vinha o aviso “responda a quatro e só a quatro questões”. Ele respondia a tudo, pois estava convencido que sempre lucraria alguma coisa. A primeira pergunta, fácil, foi respondida. A segunda, a construção de um silogismo, foi respondida, até que… “e agora diga-me que regra aplicou “. Aqui, o nosso actor teve uma “branca” e disse ao professor que não se lembrava e propôs que o exame continuasse, que quando se lembrasse responderia, ou então que o professor interrompesse e perguntasse. Interrompeu logo ali, isto é, ficou calado a olhar fixamente o aluno, e este à espera. Como esta já fosse demasiado longa (parecera-lhe uma eternidade), desceu do estrado, pegou nos livros, de cima da carteira, e saiu. Quando ia a transpor a porta, “faz favor. Você é um aldrabão. A prova dizia para responder a quatro, e só a quatro questões, e você respondeu a todas”. Sem pensar nas implicações que a sua atitude poderia ter, pois nunca se sabia se num aluno, num professor ou num contínuo estava um "bufo" ou um”pide”, o nosso jovem respondeu: “Vá-se f…., vá p’ro c……”. E saiu de cena definitivamente. No dia seguinte, foi consultar a pauta dos resultados. Todos os que naquela sala se tinham apresentado a exame tinham passado, menos um. EU”.
Que vos aproveite este contarelo que não foi assim tão breve.

1 comentário:

Pedro disse...

Pois,
Pelos vistos a fama e a vontade de insultar os professores já vem de longe.
Nos anos 70 era eu um estudante recebi muitas vezes a instrução em casa para chegar à escola e dizer:
" ò Srª Professora, o meu pai mandou dizer que a senhora é burra."
E tudo isto porque tinha comentado em casa qualquer coisa que a professora tinha dito na aula.
Claro que nunca disse nada à professora.
Na altura havia respeito, quiçá medo, dos professores e eu sempre fui muito respeitador, quiçá medricas, para o fazer.
Se fosse agora...
Com os alunos, professores e pais de agora.
Chegava á escola, dizia que o meu pai lhe tinha chamado puta, que no dia seguinte ia lá foder-lhe os cornos se ela me castigasse e no fim, a professora cheia de medo das consequências todas que o caso podia ter na carreira dela, metia o rabinho entre as pernas e dava-me razão no que quer que fosse.
Sinais dos tempos...
Não sei de quais gosto mais.
Mas, destes, não são de certeza.
Se calhar, estivemos no 8, chegamos ao 80 e daqui a uns anos chegaremos ao 40.
Haja esperança que a minha filha venha a usufruir desse 40.
Embora, quero sempre que ela tenha a oportunidade de às vezes se sentir no 8 e dar um berro no 80.
Ela que escolha.
O ideal está sempre no meio mas para o alcançar há que saber tocar os extremos.

Pedro.