Já aqui falei dele, há uns dias, quando escrevi sobre António Aleixo. Chamava-se, artisticamente, Tossan, nome de batismo António Santos. Era artista plástico e escrevia poesia de pendor surrealista e humorístico. Aviso aos "futeboleiros": o poema que vai ficar aí em baixo não tem nada que ver com o derby lisboeta que hoje se disputou. Era para ter sido já posto aqui no blog, mas a circunstância que o legitimaria gorou-se. E porque tenho comigo uma cópia manuscrita e assinada, de onde faço a transcrição, entendi que hoje ficaria bem aqui, numa homenagem ao futebol.
Instalem-se, carantonhas, e usufruam. Uma sugestão:procurem ler o poema ao ritmo de um jogo de futebol. Verão que se divertem
ODE AO FUTEBOL
Rectângulo verde
meio de sombra
meio de sol
vinte e dois em cuecas
jogando futebol
correndo
saltando
ziguezagueando
ao som dum apito
dum homem magrito
também em cuecas
e mais dois carecas
com uma bandeira
de cá para lá
de lá para cá
"Bola ao centro
bola fora
fora o árbitro"!
~
E a multidão
lá do peão
gritava
berrava
gesticulava
e a bola coitada
rolava no verde
rolava no pé
de cabeça
em cabeça
a bola não perde
um minuto sequer
e zumbindo no ar
como um besoiro
toda redonda
toda bonita
vestida de coiro
O árbitro corre
o árbitro apita
o público grita
bola nas redes
Laranjadas
pirolitos
asneiras
palavrões
damas frenéticas
gordas
esqueléticas
esganiçadas aos gritos
todas à uma
todos ao um
ao árbitro roubam o apito
Entra a guarda
entra a polícia
os cavalos a correr
os senhores a esconder
uma cabeça aqui
um pé acolá
ancas
coxas
pernas
pé
cabeças no chão
cabeças de cavalo
cavalos sem cabeça
com os pés no ar
fez-se em montão
a multidão.
E uma dama excitada
que era casada
com um marido
distraído
no meio da bancada
que estava à cunha
tirou-lhe um olho
com a própria unha
À unha, à unha!
Ânimos ao alto!...
E no fim
perdeu-se o campeonato!
Sem comentários:
Enviar um comentário