segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lembrando António Aleixo


E
s
e

d
e
s
e
n
h
o

é
da autoria de Tossan.
Hoje é dia de lembrar o poeta popular António Aleixo. Natural de Vila Real de Santo António, onde nasceu em 18/2/1899, veio a falecer em Loulé em 16 de Novembro de 1949.
Ninguém, estou certo, desconhecerá as suas quadras, por as ter lido ou ouvido cantadas.
Quem não conhece, por exemplo:
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Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério
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ou
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Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão
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De ascendência proletária - seus pais eram operários - embora homem humilde e simples, era semi-analfabeto, pois sabendo ler escrevia com muitos erros. A sua vida, foi uma vida de pobreza, mudanças de emprego, emigração (França), tragédias familiares e doenças. Foi tecelão, polícia, pedreiro, guardador de gado e por último cauteleiro. Cantava as suas quadras pela feiras e romarias, sendo por isso conhecido por poeta-cauteleiro. As vicissitudes porque passou, vieram a traduzir-se numa tuberculose, que o levou, na esperança de cura, até ao sanatório da Quinta dos Vales, em Coimbra, onde encontrou o seu conterrâneo Tossan (António Santos) que o havia apresentado ao dr. Armando Gonçalves, médico que conseguiu o seu internamento. Foi Tossan quem lhe foi corrigindo a escrita e que o incentivou a elevar a sua cultura pessoal. Foi o seu período mais fértil. Aqui nasceram os seus Autos: Auto do Curandeiro, Auto da Vida e da Morte e Auto do Ti Jaquim, que não terminou. Foi em Coimbra que conheceu o dr.. Joaquim Magalhães, que coligiu ,e organizou para publicação, as suas quadras. Em Coimbra conheceu e privou com alguns intelectuais, entre eles o Dr. Paulo Quintela, Miguel Torga, Joaquim Namorado, Deniz-Jacinto e Arquimedes da Silva Santos, seus admiradores. Esteve em Coimbra por duas vezes, mas não conseguiu vencer a doença, que já lhe havia roubado uma filha. Regressou a Loulé, onde veio a falecer.
Fiquemos com algumas quadras menos conhecidas:
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Só desejo dar um beijo
no rosto duma mulher,
se for maior o desejo
do que o beijo que eu lhe der
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Sem que o discurso eu pedisse,
ele falou; eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei.
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Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
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Se o hábito faz o monge
e o mundo quer-se iludido,
que dirá quem vê de longe
um gatuno bem vestido?
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Meu amor vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.
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Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
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Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
digo verdades a rir
aos que me mentem a sério

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