Li há dias num jornal, não me lembro já qual, e disso me penitencio, uma notícia que me provocou dois sentimentos antagónicos, pela afirmação nela proferida: riso e estupefação. Estupefação, não por vir de quem vem, mas pelo quis significar. Riso, porque me fez recordar que na "arca do velho" havia qualquer coisa de final semelhante, mas com intenções diferentes. Explico: a notícia era sobre futebol; referia que já havia sido encontrado o local de estágio da selecção nacional, na África do Sul. Profusamente ilustrada por fotografias do local, era complementada por uma afirmação do presidente da FPF, mais ou menos assim:(não me lembro das palavras exactas): "não conheço o local, não estive lá, mas pelas fotografias, gostei". É ridículo, (se o ridículo matasse... já não havia presidente) mas o que lhe havemos de fazer!
Da "arca do velho" veio o que se segue: um dos meus mestres de teatro, Monteiro de Meireles, trabalhou muitos anos com uma colectividade ribeirinha da margem direita do Douro, fronteira ao Porto. O casal de carantonhas seniores cá de casa, trabalhou lá com ele; há por ali, numa gaveta, prémios que o atestam. Um dia, o mestre, por razões que para a crónica não interessam, incompatibilizou-se com a direcção da casa e abandonou. Passados poucos anos, alguns elementos do grupo, sentindo-se orfãos do seu competente director, resolveram sondá-lo sobre a possibilidade de regressar. Não dando muitas esperanças, assentiu receber os directores da colectividade, que no dia aprazado lá estavam. Já a conversa ia a meio quando alguém perguntou se o mestre tinha visto a última peça levada a cena pelo grupo. Monteiro de Meireles, vendo ali uma oportunidade para os desencorajar, respondeu: "não vi, mas pelas fotografias não gostei". De nada valeu a resposta. Algum tempo depois lá estava a dirigir o grupo. Infelizmente, por pouco tempo. Faleceu meses depois.
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