terça-feira, 11 de novembro de 2008

No dia de São Martinho vai à adega...

“No São Martinho vai à adega e prova o vinho”. “No dia de São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa castanhas e prova o teu vinho”. “No dia de São Martinho come-se castanhas e bebe-se vinho”. Tudo isto é verdade, mas não tem qualquer relação directa com o Santo. Só que é no tempo frio que se mata o porco e é na altura das festividades em honra do santo que o vinho atinge a sua maturidade e está pronto a ser bebido. Daí o aproveitamento pagão da quadra.
Martinho nasceu no então império romano, em Panónia, hoje Hungria entre 315 e 317. Era filho de um soldado romano e como mandava a tradição, filho de militar segue a vida militar. Entrou para o exército aos 15 anos e chegou a cavaleiro da guarda imperial. Vem desse tempo a mais conhecida lenda sobre o santo. Num dia de rigoroso Inverno, com chuva e trovoada, Martinho seguia a caminho de França, e então apareceu-lhe um homem muito pobre, meio desnudado e cheio de frio, que lhe pediu uma esmola. Martinho não tinha nada para lhe dar e então com a espada rasgou a sua capa ao meio, deu metade ao pobre e seguiu o seu caminho. Os seus camaradas de armas riram-se dele, por ficar com a capa rasgada. Este facto presume-se como verdadeiro. È aqui que entra a lenda. Foi então que a tempestade parou e um sol quente e radioso surgiu no céu. Foi o sinal do céu para compensar a bondade e as qualidades humanitárias do Santo. Daí a expressão “verão de São Martinho”. A partir desse dia Martinho começou a olhar para os cristãos de outro modo, sente-se um homem novo, é batizado em 337 ou 339 e dedica-se então a pregar o amor entre todos, pois percebe que os outros não são seus inimigos mas seus irmãos. O seu exemplo de despojamento leva a que o considerem santo. É na realidade o primeiro santo não mártir.

Deixo-vos aqui algumas quadras populares relacionadas com o santo e com as festividades pagãs:

S. Martinho ao dar a capa
Não teve frio, em verdade
Pois nada aquece melhor
Que o fogo da caridade

Tua capa S. Martinho
Deu calor a mais alguém.
Quantos com capa maior
Não agasalham ninguém.

S. Martinho ao fazer bem
Foi poeta com certeza!
- Faz poesia também
Quem sabe amar a pobreza

S. Martinho com a espada
Cortou sua capa ao meio,
Mas quanta língua danada
Só corta o casaco alheio.

Nem com capa a gente escapa
S. Martinho nesta vida:
Dona castanha tem capa
E mesmo assim é comida

No dia de S. Martinho
Olhei-te e não te esqueci.
Fui à feira atrás do vinho,
Vim da feira atrás de ti.

Se quem bebe muito vinho,
S. Martinho, faz pecado,
Tenho o inferno certinho,
Mas vou p’ra lá consolado!

Deu S. Martinho o capote
Ao pobre, por caridade.
Se ele visse o teu decote
Dava-te, ao menos, metade.

S. Martinho se viesse
A este mundo outra vez,
Não tinha pano que desse
P’ra tapar tanta nudez.

As tuas saias, Maria,
De curtas, subiram tanto,
Que S. Martinho até disse;
- Já não se pode ser santo.

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