Hoje tinha pensado falar de palavras. Aqui chegado, e a esta hora, verifico que estou "seco". Nem a imaginação nem as palavras me surgem. E porque não quero maltratá-las, pois como diz Eugénio de Andrade, "são como um cristal as palavras", vou deixar que falem por mim a fotografia acima e o próprio Eugénio.
LUME DE INVERNO
O lume. O lume rasteiro. O lume
ainda. Vem de tão longe. Da casa
térrea sobre a eira,
casa onde qualquer coisa pequena
pulsava.: um coração,
a água do cântaro,
o trigo a crescer.
Era tão pequeno que não sabia
como pedir uma laranja,
um pouco de pão.
Menos ainda, um beijo.
Parecia só saber
estender as mãos para aquele sol
rasteiro e para o olhar
que dos sortilégios do lume
o defendia.
Eugénio de Andrade- In Os Sulcos da Sede - Editora Fundação Eugénio de Andrade
1 comentário:
Ás vezes...
Basta-nos apenas isto.
Passar por aqui, ler um bocadinho, sorrir e ir dormir mais aconchegado.
E não são mesmo preciso mais "palavras". Há silêncios que sabem tão bem!
Este.
Pedro.
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