Eles não querem ser julgados.Eles julgam. Eles acusam, não querem ser acusados. Eles condenam, não querem ser condenados. Eles são os bons, os outros são os maus. O programa dos outros não presta. Querem o deles, que é excelente, mas nunca o apresentam. Eles querem subir ao topo sem esforço, nunca degrau a degrau. Eles querem chegar todos ao topo. Os outros que se lixem. «Pimenta no .. dos outros é refresco».
A meta deles (delas?) é: 15h30. Eles, são eles, não
são os outros! Políticos? Não! No falar deles, estes (alguns) não são gente séria, eles é que são. Eles são os que dizem "na presente conjectura", quando querem dizer, "na presente conjuntura". E depois ouvimos uma teenager (ou será tineiger?) responder muito candidamente à pergunta. -"Quem foi Catarina Eufémia? - "Foi uma cantora". Culpa deles? Não! Dos outros. Como no poema de Sophia, "Perdoai-lhes Senhor/Porque eles sabem o que fazem
AS PESSOAS SENSÍVEIS
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
de comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
~Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto
LENGALENGA
são eles são eles
os homens das peles
são eles são eles
sei lá que esquimós
querem-nos as peles
querem-nos a nós
são eles são eles
querem-nos as peles
são filhos do vento
da noite-pavor
e buscam traição
aonde há amor
são eles são eles
morcegos morcegos
batendo na luz
mordendo nos cegos
são eles são eles
os homens das peles
apagando os nomes
no fundo dos pegos
são eles são eles
sei lá que esquimós
querem-nos as peles
querem-nos a nós
Eduardo Olímpio
Eduardo Olímpio, nasceu em Alvalade do Sado em 1933. Como ele próprio se define, foi «experimentador de profissões» durante um período longo de tempo: caixeiro, livreiro e editor e tradutor. Sempre se recusou a exposição mediática. Dono de um humor sadio e sabiamente popular, é um genuíno contador de histórias. A sua escrita essencialmente, ironia, protesto e revolta. Autor, entre outros de Eramos Oito na Pensão Celeste (romance); Moça Querida (c0ntos) e António dos Olhos Tristes (histórias)
1 comentário:
Olá Micos, boa tarde.
Mais um que (nos/me) trazes e que nunca li, nem me lembro de te ouvir dizer.
Muito bom!
Gostei muito da "mistura", com o Poema de Sophia.
Bj
Maria Mamede
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