Olha a neve, olha a neve! Ah, que alegria! Hoje, no norte do país foi de facto uma alegria imensa para jovens, adultos, e outros de mais ou menos idade. Aqueles que nunca viram neve rejubilaram porque tiveram neve nos sítios onde habitam e onde não é habitual havê-la. Rejubilaram também aqueles que praí há vinte anos tinham visto cair lá nos seus povos , porque o tempo lhes resolveu pregar uma partidazita, uns interessantes flocozitos de neve. Enfim, rejubilou o norte, e hoje ainda, espera-se que rejubile o centro (Lisboa) pois alguém prometeu que em Lisboa vai cair neve. E então amanhã é que vai ser! Pelo que se vai ver e ouvir nos telejornais, no país não caiu neve, só em Lisboa. Perceberam? Não? Então Carantonhas, Lisboa é o país, o resto é paisagem, carago!
Para ilustrar poeticamente esta mensagem deixo-vos, caros Carantonhas, a Balada da Neve de Augusto Gil.
BALADA DA NEVE
Batem leve, levemente
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim..
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente, e quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pézitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
Sofra tormentos enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.
Augusto César Ferreira Gil, nasceu em Lordelo do Ouro, Porto, e faleceu em Lisboa. Desde muito jovem viveu na Guarda, de onde os seus pais eram naturais. Aí fez fez os estudos primários. Depois em Coimbra formou-se em Direito e exerceu advocacia em Lisboa onde foi Director Geral de Belas Artes. Foi também Governador Civil da Guarda, a "sagrada Beira.
A sua poesia, numa obra extensa, dividida entre a sátira contundente e o puro lirismo, sofre influências do Parnasianisno e do Simbolismo.
2 comentários:
Somos três, (não olha que somos quatro), mas bons... Consegues um poema k explique porque carga de agua neva de norte a sul e aqui na minha terrinha não? Porque não seria noticia? ora porra...
Olá Vô Miquinhos, bom dia Amigo!
Ao agradecer-te a passagem e as palavras, as tuas e as outras dos dois Poetas, desejo-te (e aos teus, evidentemente) um Ano de Paz e Luz (duas outras palavras de que muito gosto).
Agradeço ainda os votos de "Palavras", que espero a mi venham e a ti e outros, muitos, sejam devolvidas, para serem lidas e ditas.
Beijos
Maria Mamede
PS.:-continuo gostando muito de Augusto Gil; da sua Balada da neve e do Passeio de Santo António, duma forma especial.
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