sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Vencido, mas não convencido

E não é que mais uma vez fui vencido?
Se repararem aí em baixo (Acabem com a guerra, porra), Carantonhas que me seguis (será que são realmente só três?), vereis uma amálgama de opinião e poesia. Mas a mensagem não foi estruturada assim. Por sei lá que manigâncias, ó máquina, resolveste que tinha que ser assim e zás, há que contrariar cá o rapaz. Pese embora com algum cepticismo, estou quase tentado a acreditar que tu material (máquina maldita) tens sempre razão. Isto para não dar parte de fraco, pois quem não domina ainda a técnica para te domesticar sou eu. E nem chamando em meu auxílio todos os deuses ex machina, consegui vencer-te. A única coisa que me deixaste corrigir foi um latinório que habita o texto. Mas o que eu não te perdoo é teres transformado, máquina maldita, o poema do Manuel Alegre, um soneto latino, em soneto inglês.
Para ti, máquina, um poema de J.C.Ary dos Santos.
Agora vê lá o que fazes. Porta-te bem, senão despeço-te!

P.S.- Reparaste, máquina maldita, na fotografia, o pormenor do cãozinho no bornal do soldado?


O OBJECTO

Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa de um cão.

Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo forem janela?
Mas s e forem de pirraça
e logo forem cadela?

E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.

E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.

E se o prato for de merda
e o literato for da esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão

Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são.

José Carlos Ary dos Santos, in Obra Poética, Edições Avante, Lisboa, Março de 1994

2 comentários:

Anónimo disse...

Ainda bem que a máquina prega estas partidas.
A necessidade aguça o engenho, até das palavras.
Continuarei a ser um dos 3.
Talvez mais.

Pedro.

De Amor e de Terra disse...

Pois é Micos, tu e eu e as máquinas (estas, evidentemente) sobre as quais ainda não possuímos domínio.
Bom, mas como diz o nosso Povo:-"Bai dando pró gasto"!..

Beijo

Maria Mamede