quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Nunca mais...




Faz hoje 64 anos que se cometeu deliberadamente um dos maiores crimes contra a Humanidade. Aconteceu no final da II Grande Guerra, no Japão, em Hiroshima, onde foi lançada a primeira bomba atómica de que há memória, de seu nome "Litle Boy", nome fantástico para tal monstro de morte. O gesto ignomínioso foi ordenado pelo presidente americano, Truman. Três dias depois, 9 de Agosto, o alvo escolhido foi Nagasaki. A escolha destas duas cidades teve um cunho politico e económico, uma vez que eram as regiões mais desenvolvidas do Japão. Estima-se que tenha havido, aproximadamente, duzentas mil vitimas mortais. Historicamente, estes são até agora (e espera-se que nunca mais) os únicos ataques em que foram utilizadas armas nucleares. Mas nunca se sabe, pois o Homem (devia ser com letra pequena, mas fica o benefício da dúvida) não tem vergonha, mas sim uma grande falta de respeito pelo seu semelhante. Veja-se os crimes mais recentes contra a humanidade. Era bom que todos pusessemos a mão consciência e dissemos a uma só voz "Nunca mais".


HORA H

A Primavera cheira a laranjas.

(Há umas granadas de mão, redondas, e pequenas, a que chamam laranjas.)

O cheiro das laranjas enche a noite luarenta de mistérios.

(Dizem que as noites de luar são as melhores para bombardeamentos aéreos)



POEMA DA MORTE NA ESTRADA

Na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
estão quinhentos mortos com os olhos abertos.

A morte, num sopro, colheu-os aos molhos.
Nem tiveram tempo para fechar os olhos.

Eles bem sabiam dos bancos da escola
como os homens dignos sucumbem na guerra.
Lá saber, sabiam.
A mão firme empunhando a espada ou a pistola,
morrendo sem ceder nem um palmo de terra.

Pois é.
Mas veio de lá a bomba, fulgurante como mil sóis,
não lhes deu tempo para serem heróis.

Eles bem sabiam que o último pensamento
devia estar reservado para a pátria amada.
Lá saber, sabiam.
Mas veio de lá a bomba e destruiu tudo num só momento.
Não lhes deu tempo para pensar em nada.

Agora,
na berma da estrada, nuns quinhentos metros,
são quinhentos mortos com os olhos abertos.

Os dois poemas acima são de António Gedeão, do livro Linhas de Força


A ROSA DE HIROXIMA

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexactas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioactiva
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atómica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

Vinicius de Moraes

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