sexta-feira, 15 de julho de 2011

Gatos especiais


"O gato é o único grande sedutor que sabe onde e quando deve parar, para não passar de sedutor a seduzido"
(Anónimo)

"Prefiro os gatos aos cães, pois não há gatos polícias."
Jean Cocteau 

Gosto de gatos. Também gosto de outros animais domésticos. Mas gosto particularmente de gatos. Gosto da  forma como brincam, como mostram quando estão zangados, de como não nos ligam nenhuma quando os chamamos, de como são independentes. Gosto de gatos. Tive a Baby (ou ela teve-me) durante 18 anos. Morreu depois do Nicola, gato vadio que eu acolhi e tratei quando uma “besta” o encontrou de cabeça metida num saco de restos, e o quis matar à paulada. Viveu lá em casa cinco anos. Partiu levado por uma doença congénita. E aqui me confesso: nunca chorei tanto por ninguém, como chorei pelo Nicola. Agora tenho o Nico, duas cores, preto e branco, o dono da casa, o nosso “menino”. Portanto, gosto de gatos. Ponto.
O meu amigo e colega N.F., também gosta de gatos. Como ele, por feitio, não gosta muito de se expor (por isso o identifico pelas iniciais do nome), terei que cometer uma pequena e inofensiva “traição” (outros dirão, uma inconfidência) pois vou falar da sua gata, que lá em casa todos tratam como se fosse uma pessoa da família. Infelizmente por doença, a gata foi submetida a uma cirurgia e ficou paralisada das patas traseiras, o que origina enormes dificuldades à sua locomoção.
Então, exteriorizando o carinho a afeição e o amor que lá em casa todos tem pela gata, o meu amigo, como bom poeta que é escreveu em sua homenagem o poema que fecha este texto.

KELLY
(uma gata especial, quase pessoa)

ainda tens pássaros nos olhos
mesmo que de fugida
agora.
e os degraus da escada castanha
também os tens nos olhos
mesmo que num esboço
agora.
e esse azul esse belíssimo azul
que eram lagos nos teus olhos
ainda o tens
mesmo que um azul baço
agora.
ainda tens nos teus olhos
o jogo das escondidas que repetias
no mesmo sítio de sempre
mesmo que já não jogues
agora.
agora ainda tens nos olhos
a mesma nesga delicada de ternura
felina e doce e brava
e
com uma dignidade enorme e cheia de silêncios
arranhas a vida numa serena decadência
que os biscoitos não escondem.
agora
lá no fundo desses teus olhos incrivelmente belos
há uma paisagem desconhecida
que de uma forma rebelde e injusta
desenha colos intranquilos
nos teus ronrons.

Nelson Ferraz in “Gondomar Económico”, Julho de 2011

2 comentários:

Nelson Ferraz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson Ferraz disse...

Pois é, amigo.
Quem gosta de animais, talvez seja, por isso mesmo, um poucochinho mais feliz.
Um abraço,
N.F.