Carantonha- s.f.-contorsão do rosto, esgar, máscara, cara feia, carranca, caraça. * Em criança, na região de onde sou natural, e onde então vivia, quando se brincava ao carnaval, o artefacto que nos ocultava o rosto, era a carantonha porque por norma era coisa feia. O tempo passa, a evolução acontece, e hoje, pelo menos quando jogamos ao carnaval, usamos uma máscara. Ou será que não a usamos todos os dias?
terça-feira, 31 de março de 2009
Histórias com barbas...
domingo, 29 de março de 2009
Ano Internacional da Astronomia
Para celebrar, aqui ficam três poemas alusivos:
MENINO QUE VAIS NA RUA
Menino que vais na rua,
não cantes nem chores: berra!
Cospe no céu e na lua
e aprende a pisar a terra.
Aprende a pisar o Mundo.
Deixa a lua aos violinos
dos olhos dos vagabundos
e dos poetas caninos.
Aprende a pisar a vida.
Deixa a lua às costureiras
- pobre moeda caída
de quem não tem algibeiras.
Aprende a pisar no chão
o silêncio do luar
sem sentir no coração
outras pedras a gritar.
Pisa a lua sem remorsos,
estatelada no solo...Não hesites!
Quebra os ossos
dessa criança de colo.
Pisa-a, frio, com coragem,
sem olhos de serenata:
que isso que vês na paisagem
não é ouro nem é prata.
Menino que vais na rua,
não chores, nem cantes: berra!
ou, então, salta p'rá lua
e mija de lá na terra.
José Gomes Ferreira
POEMA DO HOMEM NOVO
Niels Armstrong pôs os pés na Lua
e a Humanidade saudou nele
o Homem Novo.
No calendário da História sublinhou-se
com espesso traço o memorável feito.
Tudo nele era novo.
Vestia quinze fatos sobrepostos.
Primeiro, sobre a pele, cobrindo-o de alto a baixo,
um colante poroso de rede tricotada
para ventilação e temperatura próprias.
Logo após, outros fatos, e outros e mais outros,
catorze, no total,
de película de nylon
e borracha sintética.
Envolvendo o conjunto, do tronco até aos pés,
na cabeça e nos braços,
confusíssima trama de canais
para circulação dos fluidos necessários,
da água e do oxigénio.
A cobrir tudo, enfim, como um balão ao vento,
um envólucro soprado de tela de alumínio.
Capacete de rosca, de especial fibra de vidro,
auscultadores e microfones,
e, nas mãos penduradas, tentáculos programados,
luvas com luz nos dedos.
Numa cama de rede, pendurada
da parede do módulo,
a majestade augusta do silêncio,
dormia o Homem Novo a caminho da Lua.
Cá de longe, na Terra, num burburinho ansioso,
bocas de espanto e olhos de humidade,
todos se interpelavam e falavam,
do Homem Novo,
do Homem Novo,
do Homem Novo.
Sobre a Lua, Armstrong pôs finalmente os pés
.Caminhava hesitante e cauteloso,
pé aqui,
pé ali,
as pernas afastadas,
os braços insuflados como balões pneumáticos,
o tronco debruçado sobre o solo.
Lá vai ele.
Lá vai o Homem Novo
medindo e calculando cada passo,
puxando pelo corpo como bloco emperrado.
Mais um passo.
Mais outro.
Num sobre-humano esforço
levanta a mão sapuda e qualquer coisa nela.
Com redobrado alento avança mais um passo,
e a Humanidade inteira,
com o coração pequeno e ressequido,
viu, com os olhos que a terra há-de comer,
o Homem Novo espetar, no chão poeirento da Lua, a bandeira da sua Pátria,
exactamente como faria o Homem Velho.
António Gedeão, Novos Poemas Póstumos
O PRIMEIRO ASTRONAUTA
O primeiro astronauta
devia ter sido
Silvestre José Nhamposse
Só ele
teria sacudido os pés
à entrada da Lua
Só ele
teria pedido
com suave delicadeza:- dá licença?
Mia Couto, Raiz de Orvalho e Outros Poemas
sexta-feira, 27 de março de 2009
Dia Mundial do Teatro
Ainda com a memória fresca do post anterior, e ao ler no jornal a notícia da comemoração da reconquista de Chaves aos franceses, durante as Invasões Francesas, lembrei-me de um outro garanhão, este, humano. Falo do nosso D. João VI. Aquando da primeira invasão, o nosso rei, ainda como príncipe regente, cargo que assumiu por doença (loucura) de sua mãe D. Maria I, foi aconselhado a refugiar-se no Brasil. E assim fez. Estabeleceu-se na ilha de Paquetá, na baía de Guanabara, frente ao Rio de Janeiro. Dizem os historiadores que D.João era assumidamente um garanhão e um bom comedor. Gostava imenso de comer comida e… Só legítimos, teve cinco filhas e quatro filhos. Dos bastardos não reza a história. Mas dizem as más línguas que quatro não eram dele. Não admira, pois a digníssima esposa, D. Carlota Joaquina, além de terrível manipuladora era horrenda, dizem, - e talvez por isso - uma insaciável ninfomaníaca. Mas isso são outras histórias. Voltemos ao nosso D. João e à sua fama de mulherengo, bem retratada no seguinte poema do poeta brasileiro Raimundo Calado:
D.JOÃO VI E A MULATA
Quando a corte de D. João VI
chegou a Paquetá
tudo servia de pretexto
para sussurrar e criticar
certa mulata que havia lá!
Dizem que ela era um perigo
que ela era uma tentação.
E que um marquês de nome antigo
desdenhava do rei
não cumpria a sua lei
para ser só dela o cortesão…
Mas quando alguém o censurasse
pedindo ao rei que a exilasse
pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha
de frango ou de galinha
e sempre respondia:
- Já lhes disse que aqui em Paquetá
eu sigo as leis da corte de Lisboa.
E não me digam que a mulata é má
porque eu decreto que a mulata é boa.
- E não me digam que a mulata é má
pois eu decreto que a mulata é boa.
Certa noite muito escura
a moça se assustou
vendo surgir uma figura
gorda a ofegar
que sem falar
nos gordos braços logo a apertou.
Ela sentiu-se muito aflita
como dizer que não
até na treva era bonita.
E lá fez de conta
que ficava tonta
sem saber quem era seu D. João.
Mas quando alguém o censurasse
pedindo ao rei que a exilasse
pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha
de frango ou de galinha
e sempre respondia:
- Já lhes disse que aqui em Paquetá
eu sigo as leis da corte de Lisboa.
E não me digam que a mulata é má
porque eu já sei que a mulata é boa.
E não me digam que a mulata é má
Porque eu já sei que a mulata é boa.
quinta-feira, 26 de março de 2009
"Tê-los no sítio"
É assim mesmo. Todos sabemos que alguém que “os tem no sítio”, é alguém que enfrenta os acontecimentos com coragem, alguém que não se deixa abater facilmente, alguém que, como popularmente se diz, “pega o touro pelos cornos”. Por oposição, temos aquele que foge dos problemas “com o rabo entre as pernas”, enfim, o covarde. Só no parágrafo anterior já utilizámos três ditos populares para definir a personalidade de alguém. Isto, no ponto de vista do humano, pois no reino animal não sei se será assim. Por exemplo, um cavalo que não “os tenha no sítio”, não desempenha as suas tarefas com dignidade? Pelos vistos é o que parece, ainda que no caso particular de este ter o destino traçado para ser o garanhão do estábulo. É, pelo menos o caso do puro sangue lusitano, que a seguir se dá conta. Vem nos jornais que o Afonso Henriques – é o prosaico nome do garanhão – ganhou o concurso de “Modelo e Andamentos”, mas está em risco de perder o título por não “os ter no sítio”. Expliquemos: o garanhão sofre de uma doença, criptorquídia, (que nome bonito!) que impede a descida dos testículos ao escroto, tornando o animal infértil. Ora o regulamento só permitia a participação de animais com capacidade reprodutiva, o que não era o caso deste potencial garanhão. E por não os ter no sítio, assim se perde um título. Olha se o nosso primeiro monarca, lá onde está, sabe disto!
A propósito, sabeis, carantonhas, a origem da palavra testículo? Não? Então aí vai: À letra, do latim testis (testemunho) e diminutivo iculu, a palavra significa directamente “testemunhuzinho” ou “provazinha”. Testemunho, prova, de quê? Pois, da virilidade masculina. (Testemunhuzinho retirado de Dicionário da Origem das Palavras, de Orlando Neves). Já agora, a título de curiosidade, pesquisem a origem grega da palavra orquídia, e chegarão ao significado da criptorquídia, aí em cima.
Quero-o depressa que vou partir.
Esperam-me prados com tantas flores,
Que só cavalos de várias cores
Podem servir.
Dalguma nuvem que ande no céu.
Quero-a evasiva - nimbos e cerros -
Sobre os valados, sobre os aterros,
Que o mundo é meu.
Voa, cavalo, galopa mais,
Trepa às camadas do céu sem fundo,
Rumo àquele ponto, exterior ao mundo,
Para onde tendem as catedrais.
Antes que murchem todas as flores.
Tenho a loucura, sei o caminho,
Mas como posso partir sózinho
Sem um cavalo de várias cores?
sábado, 14 de março de 2009
Há dias em que te amo menos
foto "roubada" com a devida vénia, a flaviasilva.wordpress.com
Há dias, quando procurava alguns poemas, e tentava dar uma arrumação às várias centenas de cópias de poemas e textos que existem cá por casa, fiquei agradavelmente surpreendido, pois encontrei um texto-poema, ou se se quiser, um poema em prosa, com o qual tinha perdido o contacto. Devo dizer, que para mim, é um excelente poema, de que gosto muito. Por dois motivos, um deles por isso mesmo, por ser excelente, e o outro, porque em 1990 me permitiu “brilhar” num curso de teatro do Inatel, realizado na Costa da Caparica. Explico: num exercício de dicção e interpretação foi dado esse texto aos vinte alunos do curso. No final das leituras, a minha interpretação foi considerada exemplar. Fiquei inchado, claro! Sei também que o poema agradou à minha amiga, a poetisa Maria Mamede, que inspirando-se nele escreveu, como é seu hábito, um bonito poema. Não me lembro do teu poema, Maria, mas espero que mo relembres. Então, para saciar a vossa curiosidade, carantonhas, aqui fica o poema. Infelizmente não sei quem é o autor.
Há dias em que te amo menos. Talvez, porque nesses dias, não vestes uma blusa verde. Talvez não seja isso e sim o facto de não levantares os braços e não sorrires abertamente ao declamares os versos que te fiz. Há, de facto, dias em que te amo menos. Durante tempo quis evitar pensar as razões porque isso me feria especialmente nos dias em que não mordes as palavras – como costumas morder as minhas mãos. A pouco e pouco tenho aceite amar-te menos alguns dias para saber os que te amo mais.
Há dias em que te amo menos. São iguais a todos os dias só que passam devagar e me deixam um travo amargo na garganta. Há também os outros dias e são esses que aproveito para viver.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Recados ao pilha-galinhas
Dos Jornais: Marcado para 20 de Abril no Tribunal da Maia, o julgamento de um homem que em 2007 terá arrombado um galinheiro e pilhado duas galinhas no valor de 50€.
Ó pilha-galinhas sem vergonha, só duas galinhas? Bem, avaliadas em 50€, deveriam ser quase avestruzes! Meu caro pilha-galinhas, deves ser muito ingénuo, ou então muito pouco inteligente. Galinhas a esse preço, era para abafar logo um galinheiro inteiro, mas daqueles grandes, nada de mixuruquices. E então sim, tinhas oportunidade de fundar um Banco (não, não, não é banca, essa coisa de mercado, é mesmo banco) de Galinhas. E assim, ficavas rico num instante. Não vês o exemplo que anda aí, de alguém que fundou um banco para pilhar os clientes? Não deves ver muita televisão ou ler jornais, pilha-galinhas desgraçado! E vais ver, olha o que te digo, que apanhas pela medida grande, pela desfaçatez de só teres pilhado duas galinhas. Mais uma coisa te digo. Quando saíres da “pildra” ainda andarão por aí à solta, sem serem julgados, ou com julgamento a prolongar-se indefinidamente uns “maganões” autores de grandes negociatas. Vê lá se aprendes com eles. Assim, vai contando com um julgamento rápido e um castigo exemplar. Apesar de tudo, desejo-te sorte. Ah, mais uma coisinha, não te esqueças de evocar lapsos de memória. Dá sempre resultado. Até ao dia 20 de Abril, meu caro.