Do rio que tudo arrasta
se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem.
Bertold Brecht (10 de Fevereiro de 1898, Augsburg - 14 de Agosto de 1956, Berlim) foi um destacado dramaturgo, poeta e encenador do século XX. Influenciou profundamente o teatro contemporâneo, através dos seus trabalhos artísticos e teóricos, especialmente através da companhia que fundou, o Berliner Ensamble. Com o advento do nazismo e a eleição de Hitler em 1933, exila-se na Áustria, depois Suiça, outros países, até chegar aos Estados Unidos. Obras teatrais mais conhecidas: Mãe Coragem, A boa alma de Setzuan, A vida de Galileu, O círculo de Giz Caucasiano e Ópera dos Três Vinténs.
O "Ensina-me"
Quando era novo, mandei fazer numa tábua
A canivete e nanquim a figura dum velho
A coçar-se no peito por causa da sarna
Mas de olhar implorativo porque esperava que o ensinassem.
Uma segunda tábua para o outro canto do quarto,
Que devia representar um moço a ensiná-lo,
Nunca mais foi feita.
Quando era novo tinha a esperança
De encontrar um velho que se deixasse ensinar.
Quando for velho, espero
Que se encontre um moço e eu
Me deixe ensinar
Bertold Brecht, in "Lendas, Parábolas, Crónicas, Sátiras e Outros *Poemas", tradução do Dr. Paulo Quintela.
Para terminar, um texto de Brecht, que é a perfeita evocação da consciência política "O Analfabeto Político", de flagrante actualidade:
"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e enche o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política,nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais"
1 comentário:
Este senhor Bertold foi/é, realmente, um foco de luz para gerações intranquilas.
Na verdade, a política é uma porcaria das antigas que, por ser tão porcaria, nos obriga (a nós, irrequietos carantonhas) a atenções tão permanentes e tão quase impossíveis. E é à sombra desta gente inquieta, que existirão sempre pessoas que, não querendo saber de política, nunca chegarão a ser presas por, somente, se queixarem da vida.
Há alguns anos, não era assim.
Um abraço para o meu amigo Carantonha-mor,
Nelson Ferraz
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