Carantonha- s.f.-contorsão do rosto, esgar, máscara, cara feia, carranca, caraça. * Em criança, na região de onde sou natural, e onde então vivia, quando se brincava ao carnaval, o artefacto que nos ocultava o rosto, era a carantonha porque por norma era coisa feia. O tempo passa, a evolução acontece, e hoje, pelo menos quando jogamos ao carnaval, usamos uma máscara. Ou será que não a usamos todos os dias?
domingo, 31 de janeiro de 2010
"Machadada"
O homem está de volta. Sauda-se. Parece fisicamente recuperado. Da cabeça parece que não.No fim do jogo chutou mais umas diatribes dialécticas. Agora, vejam bem, até quer que o futebol "professe" uma religião. A cabeça deve estar a traí-lo. Então o futebol não é já, ele mesmo, uma "religião"?. O poeta Eugénio de Andrade tem um poema que começa assim: A poesia não vai à missa...etc., etc. O nosso homem, autor de um discurso peculiar, quer que o futebol vá à igreja. No fim do jogo disse, e passo a citar, como se diz agora: -"A arbitragem em Portugal não é cristã ou esqueceu os princípios, ou então não foi à catequese". Cá está mais uma "machadada" para o seu já longo pecúlio. Lembram-se daquela acertadíssima declaração, diria lapalissiana: -Um vintém é um vintém, um cretino é um cretino? Por mim, desejo que continue de boa saude e a botar (não é uma palavra bonita?) cá para fora coisas para, pelo menos, nos fazerem sorrir. E viva o futebol!
Etiquetas:
diatribes dialécticas,
futebol,
personagens
sábado, 30 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Caros carantonhas, como teem reparado, tenho andado a malandrar. Prometo que voltarei em breve. Mas não quero deixar-vos sem nada, por isso aqui fica um poema em prosa de Almada Negreiros, para acabar o dia.Um poema muito bonito.
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe!
Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe!
ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!
Bom domingo, carantonhas. Aproveitem-no bem.
Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe!
Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.
Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe!
ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!
Bom domingo, carantonhas. Aproveitem-no bem.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
Traições da linguística
A propósito do "Bacoradas" aí em baixo, lembrei-me que cá por casa andam uns papeis onde podem ler-se, não direi bacoradas, mas antes, para não ser tão crítico, algumas "gaffes" de jornalistas.Menos críticos ainda, e sendo complacentes, vamos considerá-los "traições da linguística". Então não há quem diga que a língua portuguesa é muito traiçoeira?
Dir-lhes-ei então, que compreendo e aceito alguns dos deslizes, que não sendo falta de conhecimento, são antes fruto da rapidez com que face ao acontecimento, este mesmo tem que ser descrito.
Aqui ficam então algumas dessas "gaffes". Não citarei nomes, mas sim orgãos de informação, alguns deles já extintos.
Jornal do Incrível:- A vítima foi estrangulada a golpes de facão.
O Independente:- Um surdo-mudo foi morto por um mal entendido.
SIC:- O acidente provocou forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem conhecido.
Diário da Beira:- Ferido no joelho ele perdeu a cabeça.
Rádio Voz de Arganil:- Quatro hectares de trigo foram queimados. Em princípio trata-se de incêndio.
Diário da Universidade de Bragança:- A conferência sobre a prisão de ventre foi seguida de farto almoço. (Esta só mesmo de universitários brincalhões, presumo).
Mas nem só por cá estas coisas acontecem. Vejam só:
TV Globo:- O acidente foi no tristemente célebre rectângulo das Bermudas.
Ainda TV Globo:- O acidente fez o total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas.
Para acabar, a melhor (pelo menos para mim) é a daquela conhecida senhora da TVI: Os sete artistas compõem um trio de respeito.
Divirtam-se. Sorriam, pelo menos. Prometo voltar com outros deslizes linguísticos.
Dir-lhes-ei então, que compreendo e aceito alguns dos deslizes, que não sendo falta de conhecimento, são antes fruto da rapidez com que face ao acontecimento, este mesmo tem que ser descrito.
Aqui ficam então algumas dessas "gaffes". Não citarei nomes, mas sim orgãos de informação, alguns deles já extintos.
Jornal do Incrível:- A vítima foi estrangulada a golpes de facão.
O Independente:- Um surdo-mudo foi morto por um mal entendido.
SIC:- O acidente provocou forte comoção em toda a região, onde o veículo era bem conhecido.
Diário da Beira:- Ferido no joelho ele perdeu a cabeça.
Rádio Voz de Arganil:- Quatro hectares de trigo foram queimados. Em princípio trata-se de incêndio.
Diário da Universidade de Bragança:- A conferência sobre a prisão de ventre foi seguida de farto almoço. (Esta só mesmo de universitários brincalhões, presumo).
Mas nem só por cá estas coisas acontecem. Vejam só:
TV Globo:- O acidente foi no tristemente célebre rectângulo das Bermudas.
Ainda TV Globo:- O acidente fez o total de um morto e três desaparecidos. Teme-se que não haja vítimas.
Para acabar, a melhor (pelo menos para mim) é a daquela conhecida senhora da TVI: Os sete artistas compõem um trio de respeito.
Divirtam-se. Sorriam, pelo menos. Prometo voltar com outros deslizes linguísticos.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
"Bacoradas"
Chegado aqui já nada me surpreende. Não poderei dizer, de surpresa em surpresa, até à surpresa final, porque francamente não sei se alguma vez acabará. Refiro-me às "bacoradas" linguísticas que com frequência ouvimos nas nossas televisões, e mesmo na comunicação social escrita. Já não bastavam os "bordões" utilizados e as más pronuncias. Agora (só agora?) até nas traduções.No telejornal da RTP passava uma peça, com tradução, sobre um senhor americano que se tinha deslocado dos EEUU para procurar a filha, pois tinha fé que, hoje, ainda estivesse viva. A dada altura referiu-se aos haitianos, haitians, em inglês. Para nós soa mais ou menos assim: "eichanes". Pois não é que na tradução apareceu traduzido por haieiêses? Sem mais.Como já me vou fartando de ouvir tanta "bacorada", apetece-me dizer que este(a) tradutor(a) só se safava com uma "bosteita" na tromba.
Para os menos conhecedores, "bosteira" vem de "bosta" que significa excremento de gado vacum. Bosteira é aquela grande "larada" que fica no chão quando o boi ou a vaca se largam.
Era uma coisa assim que devia castigar essa gente. Disse. E saí pela porta do fundo.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Acabemos o dia com um pequeno poema de Raul de Carvalho
O MEDO HABITAVA O MEDO
O medo habitava o medo.
E o homem,
Com tantas razões que tinha,
Para ter medo,
Graças à sua coragem,
Deu um pontapé no medo.
Bom domingo.
O MEDO HABITAVA O MEDO
O medo habitava o medo.
E o homem,
Com tantas razões que tinha,
Para ter medo,
Graças à sua coragem,
Deu um pontapé no medo.
Bom domingo.
Futebol x Teatro
Li há dias num jornal, não me lembro já qual, e disso me penitencio, uma notícia que me provocou dois sentimentos antagónicos, pela afirmação nela proferida: riso e estupefação. Estupefação, não por vir de quem vem, mas pelo quis significar. Riso, porque me fez recordar que na "arca do velho" havia qualquer coisa de final semelhante, mas com intenções diferentes. Explico: a notícia era sobre futebol; referia que já havia sido encontrado o local de estágio da selecção nacional, na África do Sul. Profusamente ilustrada por fotografias do local, era complementada por uma afirmação do presidente da FPF, mais ou menos assim:(não me lembro das palavras exactas): "não conheço o local, não estive lá, mas pelas fotografias, gostei". É ridículo, (se o ridículo matasse... já não havia presidente) mas o que lhe havemos de fazer!
Da "arca do velho" veio o que se segue: um dos meus mestres de teatro, Monteiro de Meireles, trabalhou muitos anos com uma colectividade ribeirinha da margem direita do Douro, fronteira ao Porto. O casal de carantonhas seniores cá de casa, trabalhou lá com ele; há por ali, numa gaveta, prémios que o atestam. Um dia, o mestre, por razões que para a crónica não interessam, incompatibilizou-se com a direcção da casa e abandonou. Passados poucos anos, alguns elementos do grupo, sentindo-se orfãos do seu competente director, resolveram sondá-lo sobre a possibilidade de regressar. Não dando muitas esperanças, assentiu receber os directores da colectividade, que no dia aprazado lá estavam. Já a conversa ia a meio quando alguém perguntou se o mestre tinha visto a última peça levada a cena pelo grupo. Monteiro de Meireles, vendo ali uma oportunidade para os desencorajar, respondeu: "não vi, mas pelas fotografias não gostei". De nada valeu a resposta. Algum tempo depois lá estava a dirigir o grupo. Infelizmente, por pouco tempo. Faleceu meses depois.
Etiquetas:
Compª de Teatro,
Monteiro de Meireles
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Eu gosto do meu País. É o país onde nasci e onde vivo. Não renego o seu passado, nem o meu, que no fundo é parte interessada do seu. Podíamos fazer deste país um país melhor? Pois podíamos, se todos quizessem. Mas enquanto as mentalidades tacanhas não mudarem...
PORTUGAL
Portugal
quero falar contigo
Não faças esses olhos de quem viu um lobisomem
Achas esquisito porventura que queira falar contigo
è que tenho coisas muito importantes para te dizer e só
agora arranjei a coragem suficiente
Portugal
eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como
se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis
ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava
os orgãos genitais e nunca mais voltasse
às vezes quase chego a acreditar que é tudo mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Àlvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
que os meus egrégios avós me perdoem
Ontem estive a jogar ao poker com o Velho do Restelo
ele anda na consulta externa do Júlio de Matos
deram-lhe una electrochoques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos
espera um futuro de rosas
Portugal
um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se
contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr
encontrar uma pétala que fosse
das rosas que o Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
eu se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota
como tu
mas que tem um coração doce ainda mais doce que os pasteis
de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para eu poder espremer
à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em 1957 Salazar estava no poder nada de ressentimentos
o meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
ia propor-te um projecto iminentemente nacional
que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que o Camões lá deixou
Portugal sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os de minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca.
Jorge de Sousa Braga
O poema Portugal tem pelo menos duas versões, a original e uma outra publicada no Poeta Nu, da qual o poeta excluiu versos e acrescentou outros. A versão acima é da minha responsabilidade.Mantive os versos excluidos e acrescentei alguns dos outros.
Jorge de Sousa Braga nasceu em 1957 em Vila Verde e é médico no Porto. A sua poesia até 1991 está reunida em Poeta Nu. Depois disso já publicou Fogo sobre Fogo (1998), Herbário (1999), livro para crianças, Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, eA Ferida Aberta (2001)
PORTUGAL
Portugal
quero falar contigo
Não faças esses olhos de quem viu um lobisomem
Achas esquisito porventura que queira falar contigo
è que tenho coisas muito importantes para te dizer e só
agora arranjei a coragem suficiente
Portugal
eu tenho vinte e dois anos e tu às vezes fazes-me sentir como
se tivesse oitocentos
Que culpa tive eu que D. Sebastião fosse combater os infiéis
ao norte de África
só porque não podia combater a doença que lhe atacava
os orgãos genitais e nunca mais voltasse
às vezes quase chego a acreditar que é tudo mentira
que o Infante D. Henrique foi uma invenção do Walt Disney
e o Nuno Àlvares Pereira uma reles imitação do Príncipe Valente
Portugal
não imaginas o tesão que sinto quando ouço o hino nacional
que os meus egrégios avós me perdoem
Ontem estive a jogar ao poker com o Velho do Restelo
ele anda na consulta externa do Júlio de Matos
deram-lhe una electrochoques e está a recuperar
àparte o facto de agora me tentar convencer que nos
espera um futuro de rosas
Portugal
um dia fechei-me no Mosteiro dos Jerónimos a ver se
contraía a febre do Império
mas a única coisa que consegui apanhar foi um resfriado
Virei a Torre do Tombo do avesso sem lograr
encontrar uma pétala que fosse
das rosas que o Gil Eanes trouxe do Bojador
Portugal
eu se tivesse dinheiro comprava um império e dava-to
Juro que era capaz de fazer isso só para te ver sorrir
Portugal
Vou contar-te uma coisa que nunca contei a ninguém
Sabes
estou loucamente apaixonado por ti
Pergunto a mim mesmo
Como me pude apaixonar por um velho decrépito e idiota
como tu
mas que tem um coração doce ainda mais doce que os pasteis
de Tentúgal
e o corpo cheio de pontos negros para eu poder espremer
à minha vontade
Portugal estás a ouvir-me?
Eu nasci em 1957 Salazar estava no poder nada de ressentimentos
o meu irmão esteve na guerra tenho amigos que emigraram
nada de ressentimentos
um dia bebi vinagre nada de ressentimentos
Portugal
ia propor-te um projecto iminentemente nacional
que fôssemos todos a Ceuta à procura do olho que o Camões lá deixou
Portugal sabes de que cor são os meus olhos?
São castanhos como os de minha mãe
Portugal
gostava de te beijar muito apaixonadamente na boca.
Jorge de Sousa Braga
O poema Portugal tem pelo menos duas versões, a original e uma outra publicada no Poeta Nu, da qual o poeta excluiu versos e acrescentou outros. A versão acima é da minha responsabilidade.Mantive os versos excluidos e acrescentei alguns dos outros.
Jorge de Sousa Braga nasceu em 1957 em Vila Verde e é médico no Porto. A sua poesia até 1991 está reunida em Poeta Nu. Depois disso já publicou Fogo sobre Fogo (1998), Herbário (1999), livro para crianças, Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, eA Ferida Aberta (2001)
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Desfaçatez
«Nós somos o País... Nós somos Portugal...»
À atenção do Sr. Primeiro Ministro e do Sr. Presidente da República. Ponham-se a pau.
Será que a "boca vai morrer pelo peixe"?
Eu cá, direi: Aux armes, citoyans.
À atenção do Sr. Primeiro Ministro e do Sr. Presidente da República. Ponham-se a pau.
Será que a "boca vai morrer pelo peixe"?
Eu cá, direi: Aux armes, citoyans.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Ary dos Santos (1936-1984)
Passam hoje 26 anos desde a morte do José Carlos Ary dos Santos, um dos grandes poetas da segunda metade do séc. XX. Insubmisso, truculento, mas de uma enorme
generosidade.Declamou poemas seus e de outros, em celeiros, palanques improvisados, colectividades populares, teatros.Cantou a Liberdade; cantou português. Disse que estavamos vivos, que eramos pessoas, que estavamos aqui. Ele é que já não está. Lembremo-lo.
AUTO-RETRATO
Poeta é certo mas de cetineta
fulgurante demais para alguns olhos
bom artesão na arte da proveta
narciso de lombardas e repolhos
Cozido à portuguesa mais as carnes
suculentas da auto-importância
com toicinho e talento ambas partes
do meu caldo entornado na infância.
Nos olhos uma folha de hortelã
que é verde com a esperança que amanhã
amanheça de vez a desventura.
Poeta de combate disparate
palavrão de machão no escaparate
porém morrendo aos pucos de ternura.
Esta noite, pelas 21h30, vou estar na Unicepe, à Praça dos Leões, com a Cidália Santos, dizendo poemas, e o César Princípe falando de José Carlos Ary dos Santos.
sábado, 16 de janeiro de 2010
Nem vale a pena titular
De surpresa em surpresa, até à surpresa final. Acabei de ouvir há momentos, num programa da RTPN, uma notícia de última hora, surpreendente. O Senhor Presidente da República (assim, por extenso) atribuiu a Santana Lopes a Grã Cruz da Ordem de Cristo. E porquê? Por funções públicas de alto relevo e serviços relevantes prestados ao país. Quem sabe dos relevantes serviços, e de como o PR gosta do SL, deve rir-se desbragadamente. Eu também. Desta vez nem São Pancrácio nos vale.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Deixo-vos, para acabar o dia, este pequeno e bonito poema de Pedro Homem de Mello, poeta injustamente esquecido.
SOPRO
Passas como passa
O riso do vento
Mas na tua graça
Não há pensamento.
Porém, sem teu riso,
Que seria a graça
Do meu pensamento?
SOPRO
Passas como passa
O riso do vento
Mas na tua graça
Não há pensamento.
Porém, sem teu riso,
Que seria a graça
Do meu pensamento?
Tragédia
Imagem Google de Port-au-Prince, antes e depois do terramoto
Não é fácil - pelo menos para mim não tem sido - escrever nestes dias, o que quer que seja, pois o pensamento, alimentado pelas notícias, está constantemente a lembrar a terrível tragédia que atingiu o Haiti, o terramoto devastador que deixou o país arrasado, e com inumeras vitimas, para já incontáveis. Para mim tem sido angustiante. Não sei o que dizer. Não sei o que escrever.Lamento, e estou irmanado em espírito com os sobreviventes. Oxalá o auxilio que está a chegar consiga minorar a desgraça que se abateu sobre áquele país.
sábado, 9 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Acabemos o dia com um pequeno texto poético de Jorge de Sousa Braga.
"Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno, e quase ia morrendo com receio de que ele não te coubesse no dedo"
"Esta noite sonhei oferecer-te o anel de Saturno, e quase ia morrendo com receio de que ele não te coubesse no dedo"
Faça-se a reforma
E agora, que já há acordo entre Sindicatos e Ministério da Educação, espera-se que se comece já a pensar na reforma do Ensino. Mas que esta se faça com os professores-professores, os que se interessam pela progressão dos alunos, e sabem do que se fala quando se fala em educação. Excluam, por favor, aqueles que andam por aí arvorados em técnicos e que já não dão aulas praí há vinte anos. Parafraseando o treinador-agricultor-bombeiro, "vocês sabem do que é que eu estou a falar". Eles também.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Para acabar o dia, um poema de João Apolinário
É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
Segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
Duma força que nada a detenha
É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.
´
Este poema foi um dos muitos que serviu para minar a prepotência e a tirania do regime vigente antes do 25 bde Abril. Foi divulgado em muitos recitais e musicado e cantado por Luis Cília.
É PRECISO AVISAR TODA A GENTE
É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir
É preciso avisar toda a gente
Segredar a palavra e a senha
Engrossando a verdade corrente
Duma força que nada a detenha
É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.
´
Este poema foi um dos muitos que serviu para minar a prepotência e a tirania do regime vigente antes do 25 bde Abril. Foi divulgado em muitos recitais e musicado e cantado por Luis Cília.
Etiquetas:
João Apolinário,
Poesia,
resistência
O Acordo
Afinal chegaram a acordo. O ME e os sindicatos de professores puseram fim (para já, para já) ao diferendo que os dividia. Pelo menos, de quatorze sindicatos, oito assinaram o acordo. Parecendo que não, se excluirmos os habituais maldizentes, valeu a pena a teimosia da anterior ministra. É a minha opinião obviamente. Mas o que me espanta nestas negociações, é a proliferação de sindicatos e movimentos de professores. Na minha ignorância, pergunto porquê tantos sindicatos. Só para confundir e dificultar negociações, por certo. Ah, e nas negociações, além de outros, ainda faltaram o sindicato dos dirigentes sindicais, o dos profs apoiantes de manifs, o dos profs que não sabem ensinar, o das profs que faltam "naqueles dias", etc., etc.
Valha-me São Pancrácio!
Se me fosse dado...
Se me fosse dado o poder absoluto ainda que por um só dia, eu:
ordenava que todos os professores, mas todos, se dedicassem a ensinar. E aqueles técnicos (?) que chegaram à "brilhante" conclusão de que os pais devem ensinar os filhos a estudar, a esses despedia-os, ou com alguma benevolência, mandava-os estudar novamente, a fim de se tornarem mais bons técnicos.
ordenava que todos os professores, mas todos, se dedicassem a ensinar. E aqueles técnicos (?) que chegaram à "brilhante" conclusão de que os pais devem ensinar os filhos a estudar, a esses despedia-os, ou com alguma benevolência, mandava-os estudar novamente, a fim de se tornarem mais bons técnicos.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Poema para acabar o dia
Para acabar bem este Dia de Reis, nada melhor do que um excelente poema de José Luis Peixoto.
Um dia quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços,
a tua pele será talvez demasiado bela
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
Um dia quando a chuva secar na memória,
quando o Inverno for tão distante,
quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho,
estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela,
sim, cantarão pássaros,
haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços e não direi nenhuma palavra,
nem o princípio de uma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade.
Um dia quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços,
a tua pele será talvez demasiado bela
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
Um dia quando a chuva secar na memória,
quando o Inverno for tão distante,
quando o frio responder devagar com a voz arrastada de um velho,
estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da nossa janela,
sim, cantarão pássaros,
haverá flores,
mas nada disso será culpa minha,
porque eu acordarei nos teus braços e não direi nenhuma palavra,
nem o princípio de uma palavra,
para não estragar a perfeição da felicidade.
Só Arlindo
Hoje é Dia de Reis. Ainda se cantam as Janeiras. Há alguns anos, muitos, era feriado. Na minha aldeia, além das Janeiras, cantavam-se Os Reis. Fui à "arca do velho" ver o que lá havia sobre o tema. Lá encontrei a história de três amigos de extratos sociais diferentes, - um, filho da pequena burguesia rural, pai doutor de leis,outro, filho do operariado, mãe costureira, e o outro, filho de mãe solteira, trabalhadora agrícola, - que durante a sua meninice se juntavam para "cantar os reis". Constríam uma pequena caixa iluminada (por vezes uma velha gaiola já desactivada) onde instalavam o presépio, e lá iam de casa em casa cantando, na esperança de serem recompensados. E ninguém se escusava, cada um dava o que podia, desde chouriças até dinheiro. Era assim todos os anos. Hoje, os três amigos já não cantam "os reis". Dois foram para a cidade. Um, é doutor de leis no Alentejo, e embora tenha notícias dele, já não o vejo há cerca de quarenta anos. É o Dr. César Miguel. O outro é bancário reformado, é o sr.Amílcar. O último ainda vive lá na nossa aldeia, reformado do trabalho numas caves. É o Arlindo. Só Arlindo.
Desejo improbável
Na passagem de ano, nos habituais desejos que todos acalentamos, surgem por vezes algumas ideias tolas que nunca viremos a alcançar ou a concretizar. Foi o que nesta passagem de ano me aconteceu. Desejei ter para mim o poder absoluto, ainda que só por um dia. Para poder, por exemplo, ordenar que toda a gente lesse poesia. Se tal não fosse possível, para que ao menos toda a gente pudesse saborear o gosto da poesia, eu
"dava um verso de Neruda a cada desempregado, um de David Mourão-Ferreira a todas as mulheres sem amor, um de Florbela Espanca aos homens distraídos, um de Lorca aos poetas que deixaram secar a maravilha das palavras, um de Cesário aos condutores da Carris com olhos cheios de Tejo, um de Vinícius aos alcoólicos anónimos que dançam sobre o chão da sua imperfeição, um de Sebastião da Gama a cada professor que não se deixa encerrar em 4 paredes e três relatórios, um de Prévert aos gatos que caminham como imperadores no alto dos telhados, um de José Craveirinha a todos os cantores de RAP, um de Gomes Leal aos que naufragam em caixotes pelos cantos da cidade, um de Ferlinghetti aos saxofones que nos fazem subir ao céu, um de Ruy Belo aos que acreditam que ainda tudo é possível, um de Eugénio aos que choram abraçados a uma macieira, um de Sophia aos que habitam o esplendor do mar, e um da Matilde Rosa Araújo a todas as crianças do mundo.
O magnífico texto em negrito é parte de um post que fui "roubar" ao blog Queridas Bibliotecas, do José Fanha, a quem presto a minha homenagem. Gostava de ter sido eu a escrevê-lo. O meu obrigado a este "irmão" na divulgação da poesia pelas escolas.
domingo, 3 de janeiro de 2010
Desejos I
Como é hábito, na passagem de ano lá engoli as doze passas e pedi os desejos respectivos. Aquele que pedi com mais veemência foi que:
- os nossos políticos, quer os dos aparelhos partidários, quer os que colocámos na AR, se esfalfem a trabalhar para resolver os problemas do povo e do país, que foi para isso que foram eleitos, e não para tratar só dos seus próprios.
Se não o fizerem, mais dia menos dia, este país será um pantano e muitos delesafundar-se-ão também. Se o fizerem, verão que serão recompensados.
- os nossos políticos, quer os dos aparelhos partidários, quer os que colocámos na AR, se esfalfem a trabalhar para resolver os problemas do povo e do país, que foi para isso que foram eleitos, e não para tratar só dos seus próprios.
Se não o fizerem, mais dia menos dia, este país será um pantano e muitos delesafundar-se-ão também. Se o fizerem, verão que serão recompensados.
Subscrever:
Mensagens (Atom)