quarta-feira, 24 de março de 2010

Negociações

As negociações falharam.
- "Foram um fracasso. Vamos para a greve".
Porque será que olhando, na televisão, para aqueles rostos de gente mal-disposta dos sindicalistas  da função pública, nos parece que temos na nossa frente caras de "foras-da-lei"?

segunda-feira, 22 de março de 2010

Aculturação (?)

Repórter de rua, indagando de uma criança de 9 ou 10 anos:
- Gostaste do jogo?
- Yeah!
Qual o teu jogador preferido?
- Rúben Amorim.
-Então é o teu ídolo...
-Yeah!

Interrogo-me: cosmopolitismo, colonização?
Bem, já que é de pequenino que se torce o pepino (pelo menos na cultura), fiquemo-nos por algo mais brando, mas não menos perigoso: aculturação.

domingo, 21 de março de 2010

Poema para acabar o dia

O dia caminha para o fim. É altura de deixar aqui o poema para acabar o dia. É um poema de Manuel António Pina que fica bem para acabar o Dia Mundial da Poesia. Poema que me veio agora à mão, e do qual já não me lembrava. Aqui fica:

A Poesia Vai Acabar

A poesia vai acabar, os poetas

vão ser colocados em lugares mais úteis.
Por exemplo, observadores de pássaros
(enquanto os pássaros não
acabarem). Esta certeza tive-a hoje ao
entrar numa repartição pública.
Um senhor míope atendia devagar
ao balcão; eu perguntei: «Que fez algum
poeta por este senhor?» E a pergunta
afligiu-me tanto por dentro e por
fora da cabeça que tive que voltar a ler
toda a poesia desde o princípio do mundo.
Uma pergunta numa cabeça.
— Como uma coroa de espinhos:
estão todos a ver onde o autor quer chegar? —
Do livro "Ainda não é o Fim nem o Princípio do Mundo. Calma é Apenas um Pouco Tarde"

Cosmopolitismo

Repórter:
"Vamos ver aqui estas senhoras. De onde é que vieram?
-Armação de Pera.
- Então são as duas algarvias!
- Yes!

Dia Mundial da Poesia

"A poesia é a linguagem na qual o homem explora a sua própria admiração"
Christopher Fry

Dia soalheiro, algo quente, como deverá ser o dia inicial da Primavera. Dia também, por todo o mundo, da Poesia. A Poesia é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos. Sucintamente, poesia é a arte de exprimir sentimentos pela palavra rimada. Actualmente não será tanto assim, uma vez que a maior parte dos autores utiliza já, o verso livre. A matéria-prima da poesia é a palavra, e assim como o pintor é livre de aplicar na tela as cores que entende, e o escultor extrai do barro ou da pedra a forma que a imaginação lhe sugere, assim o poeta tem toda a liberdade para manipular a palavra, ainda que isso signifique romper com as normas pelas quais a gramática se rege.

Para celebrar este dia da Poesia comecemos com um soneto do príncipe dos poetas portugueses, Luis de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança:
Do mal ficam as mágoas da lembrança,
E do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

 Apreciemos de seguida a poesia de Alexandre O'Neill:

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.


Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.


De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.


(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

E por último, Eugénio de Andrade:


ADEUS


Como se houvesse uma tempestade
escurecendo os teus cabelos,
ou se preferes, a minha boca nos teus olhos,
carregada de flores e dos teus dedos;


com se houvesse uma criança cega
aos tropeções dentro de ti,
eu falei em neve, e tu calavas
a voz onde contigo me perdi.


Como se a noite viesse e te levasse,
eu era só fome o que sentia;
digo-te adeus, como se não voltasse
ao país onde o teu corpo principia.


Como se houvesse nuvens sobre nuvens,
e sobre as nuvens mar perfeito,
ou se preferes, a tua boca clara
singrando largamente no meu peito.














Poema para começar o dia

Estamos nos primeiros minutos do dia 21, Dia Mundial da Poesia. E para iniciar o dia trouxe-vos um poema de Manuel Alegre. Mais logo voltarei ao tema, com outro desenvolvimento.
Fiquemos então com

O SERMÃO DA MONTANHA


Alguém há-de subir de novo a uma montanha
do outro lado das palavras do outro lado do tempo

Alguém há-de falar no meio do deserto
dizer o quando o como o para quê


Não é possível que as tribos não se encontrem
não é possível que se percam sem sentido
Alguém há-de subir de novo a uma montanha
alguém com doze tábuas e um poema


Não é possível ficar onde se está
despojados de luz despojados do ser
O deus que está em Delfos mandará o oráculo
a água que fala há-de falar de novo


Não é possível o homem ter perdido


Alguém há-de subir de novo a uma montanha
Alguém com doze tábuas e um sentido

Carantonhas, tenham um bom dia, com muita e boa poesia. Mas não se esqueçam que, como dizia o poeta brasileiro Mário Quintana, "fazer versos é fácil. Fazer poesia é que é dificil".

domingo, 14 de março de 2010

Livrai-nos deles

 (Vai com três exclamações) Fantástico!!! Para quem andou um ano inteiro (ou quase) a proclamar a "asfixia democrática" do Governo, aprovar no seu congresso uma resolução antidemocrática e inconstitucional, que proíbe os seus militantes de criticarem a direcção partidária, nos dois meses antes de eleições no partido, é de obra. Aconteceu no PSD. Se é que ainda tinham alguma, perderam agora, por completo, a vergonha. Agora imaginem o que poderá acontecer a um país inteiro, quando, e se, forem governo. Ó deus, manda daí um raio que os parta. Se isto for pedir muito, pelo menos os dentes. E já agora, que lhes queime também a língua. Valha-nos São Pancrácio.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Lucky Luke

Acabo de saber que partiste.(pausa) Desculpa lá, mas umas lágrimas teimosas a marejar-me os olhos, quase não me deixam ver o teclado.Sei que partiste sereno, como merecias. Nos 18 anos que por cá andaste a fazer-nos companhia foram mais (tenho a certeza) as alegrias que nos deste do que as arrelias.Lembras-te que os primeiros tempos da tua infância foram passados aqui em casa ?
Lembras-te das nossas brincadeiras ali no jardim da Praça das Flores? E depois já em casa do Pedro e da Paula, quando lá íamos, os longos passeios que dava contigo? Espero que te tenhas sentido feliz enquanto cá estiveste. Desejo ardentemente que estejas em paz,que descances, e que aí onde te encontras tenhas grandes conversas com os teus companheiros. E se vires por aí a nossa gata Baby (que tu conheceste) e o nosso gato Nicola, diz-lhe que lhe mandamos saudades. Antes de me despedir deixa-me  limpar umas lágrimas teimosas. Fica em paz.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres II

Ainda o Dia Internacinal  da Mulher. Não resisti em ir "roubar" ao blog "Hoje há conquilhas Amanhã não sabemos" este post magnífico. Parabéns.

As misses de Evo Morales são melhores do que as de Berlusconi?

Quando Berlusconi apresentou candidatas a miss qualquer coisa ou ex-misses nas listas do seu partido, quer nas eleições europeias, quer, agora, nas regionais italianas de 28 e 29 de Março (uma concorrente a miss Itália integra as listas, bem como uma striper que é agora dentista), meio mundo, sobretudo à esquerda, veio dizer que «é difícil levar Berlusconi a sério» ou fala em «falta de respeito». Jéssica Jordan, que foi miss Bolívia, em 2006, e candidata a miss Universo, em 2007, é agora a candidata do partido de Evo Morales a governadora da região Beni. E promete, caso seja eleita, levar os presos a trabalhar nas minas sem direito a salário, o que mereceu um elogio de Morales. Ainda não ouvi nenhuma voz a desprestigiar a escolha do presidente da Bolívia, pelo facto da sua candidata ser miss, de onde se deve concluir que miss que apoia a «esquerda» é inteligente, culta, preparada para o exercício da nobre função política; miss que apoia a «direita» é burra, analfabeta, mulher «da vida». É este o raciocínio, não é?

(na foto: Jéssica Jordan, miss Bolívia, 2006).



Mulher I


No Dia Internacional da Mulher, alguma poesia de mulheres, ou sobre mulheres.
O primeiro é um poema de Vinicius de Moraes

POEMA PARA TODAS AS MULHERES

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza, não!
Ah, não abandones a tua boca à  minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder-te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto,dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha, quero o colo de Nossa Senhora!

Um poema da poetisa Maria Mamede:

Sempre que te imaginava
Cobria-te de estrelas
E via-te
Cavalgando um cavalo de vento
Que de crinas soltas, negras como a noite,
Desaparecia no espaço
Voando até outras galáxias...
Agora, que te conheço,
Cubro-te de Sol,
E coroo-te de miosótis!
(Azul e oiro sempre formaram uma combinação perfeita).
Claro que o nosso romance há-de acabar;

Nessa altura, voltarei a cobrir-te de estrelas,
Mas levarei comigo os miosótis!...

Da poetisa angolana, Alda Lara:

TRAMPOLIM

Mãe:
Deixa-me saltar no Trampolim...
Deixa-me ser como os outros,
Gritar,
Empurrar,
Saltar nos trampolins que há por aí!...
Mãe:
Não me prendas mais...
Já que não posso ser acrobata,
Serei palhaço
A fingir que também
Sou capaz,
De dar saltos no espaço!...
...Mas ficar, não!
Deixa-me tentar...
Deixa-me saltar no trampolim!...

Por fim, um poema, ou texto poético, se quiserem, de Nelson Ferraz:

por ti, a alma do ventre sobrevive a pedaços de tempo que são notícia
e a vida ainda não se magoa nas arestas dos olhos que são muitos

por ti, inventou-se um culto que tem seios como searas
e colos como cais
e ternura como árvores

por ti, há pessoas com óculos,
na televisão, nos jornais e nas rádios, só para dizer:

- Hoje é o Dia Internacional da Mulher!

eu sei que tu não cabes num dia inteiro
mas, por ti, não digo nada.