Para acabar o dia de hoje, textos poéticos breves de Jorge de Sousa Braga, reflexões do autor sobre pintura.
VAN GOGH POR VAN GOGH
Gostaria de ter sido um girassol. Um girassol hirto no seu caule, de longas folhas verdes desajeitadas e uma enorme corola dourada, seguindo cegamente o sol.
Estou só e a minha cabeça explode em milhões de girassois.
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ADÃO E EVA
Adão era polícia numa esquadra vizinha. Nos intervalos dos giros, subia duas a duas as escadas do atelier de Lempicka, despia a farda, e o seu corpo nu e musculado pisava o soalho, como se pisasse o chão do paraíso.
Tal como o outro Adão, desconhecia o chão que pisava e seria incapaz de reconhecer esse corpo nu que arrancava na tela um frémito de prazer a uma Eva desprevenida.
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OS AMANTES
Desde que Magritte pintou os amantes, estes como por magia deixaram de ter rosto. Nos jardins, nos cinemas, no bulício das ruas é frequente ver agora homens e mulheres sem rosto, abraçados.
Todavia, tudo não passa de um equívoco. Sem dinheiro para pagar aos modelos, Magritte optou por cobrir com um lençol o rosto inacabado dos amantes.
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AUTOBIOGRAFIA
A sua paixão eram as rosas. Durante anos dedicara-se a estranhos cruzamentos. Perseguia uma rosa negra.
Um dia devido a um acidente ficou cego. Finalmente o seu universo era uma imensa rosa negra.
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Carantonhas, desfrutem os textos, tenham um bom fim de semana e façam o favor de se portar mal. A vosso gosto
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