Hoje, na Biblioteca de Gaia, um grupo de cidadãos independentes, apoiantes da candidatura de Manuel Alegre à Presidência, organizou uma sessão de poesia do cidadão-poeta Manuel Alegre. Estive lá. Acabo de chegar. Fui convidado para abrir a sessão com o poema "Apresentação". Além deste, disse também o poema "Chegar Aqui". É um poema que nos fala do nosso passado, também do nosso presente, e se interroga quanto ao futuro. É um poema intemporal, já que foi escrito há mais de quarenta anos.
Ei-lo:
CHEGAR AQUI
É claro que tudo isto é uma chatice
Estávamos habituados a acreditar em qualquer coisa
Fosse a Terra Prometida O Dia de Amanhã ou A Esperança
Assim chamada para ser sabe-se lá o quê
Brasil ou África talvez Europa
Havia uma fé uma fezada uma saída
Havia aquela luz de que falou Jorge de Sena
Esperança era o seu nome
Uma pequena luz Não isto
A aventura partiu para outros lados
A retórica aumenta
A vida baixa
Não há lugar para a beleza
Não há tempo
Eis a cidade com seu rosto desolado
Degradação é o nome destes dias
Amigos que desgraça etc. António Nobre
Ou Camilo Pessanha
Eu vi a luz
Em um país perdido
Mas agora nem essa É só chatice
E perdição
E navegámos tanto tempo
São Gabriel Santa Maria Frol de la Mar
Não há dúvida temos um passado
Talvez de mais
Talvez tanto que não deixa lugar para o futuro
Mas fomos pelo mar chegámos longe
E agora Portugal que será de ti
Se não formos capazes de chegar
Aqui
Carantonhas, tenham um bom fim de semana. Aproveitem-no bem, se possível lendo poesia.
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