sábado, 24 de setembro de 2011

O céu dos gatos

(--)
sei muito bem que andas
por aqui
(--)
não sei mesmo se há um céu dos gatos
mas mesmo que haja tu vais
arranjar maneira
de estar por aqui

como ainda hoje o fizeste.

O meu colega e amigo Nelson Ferraz, bom poeta e homem sensível (como são os bons poetas),teve até há pouco (fisicamente) lá em casa a sua gata Kelly. O destino fez com que ela partisse. O Nelson escreveu no seu blog um poema à Kelly e pediu-me que eu deixasse um comentário. Cumpridor, escrevi-o e tentei colocá-lo no blog. Só que por não saber, ou por qualquer outra circuntância, não consegui.
Aqui fica o comentário:
"De certeza certa, não sei se há um céu dos gatos, mas creio que sim. Mas sei que os gatos quando partem, voam toda a noite em direcção à lua onde os espera um velho gato já cego que os envia para o espaço transformados em poeira das estrelas, que em noites enluaradas vemos cair em pó prateado, na direcção da Terra."

O itálico do comentário pertence a um texto de Mário Cesariny.

Independentizêmo-los

Independência para a Madeira, já. Basta de chulice. Que o meu pouco dinheiro fique no continente e não sirva para alimentar sanguessugas. E já agora um desejo:ó ti jonas, se os buracos existentes não são suficientes, crie lá mais um ou dois e afunde-se com a ilha. Dixit.

sábado, 17 de setembro de 2011

Porque hoje é sábado

Hoje resolvi revisitar o excelente poema de Vinicius de Moraes, O Dia da Criação, poema dividido em três partes, do qual a mais conhecida é a segunda. Muitos se lembrarão que nos anos 80 do século passado esta parte do poema foi repetida até à exaustão. É um poema extenso, que todo ele daria um bom espectáculo. Então aqui fica a parte dois do poema, porque hoje é sábado...
II


NESTE MOMENTO há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um  espectáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo pouco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar bananas
Porque hoje é sábado.
Há uma sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a espectativa de domingo
Porque hoje é sábado.

Carantonhas, tenham (dentro do que vos for possível) um bom domingo



terça-feira, 13 de setembro de 2011

A pinoquiar

Porque estamos num país com um goberno de "pinóquios", ocorreu-me perguntar:
- Quando é que o ministro das finanças muda as pilhas? Num texto de duas palavras ouvimos uma num dia e outra no outro.
- E o Álvaro, quando nos "dará" mais "pérolas"? Não pudemos chutá-lo já para o Canadá?
- E a cristas, anda a agriculturar o quê?
- Alguém viu por aí a paulinha da justiça? Será que anda a trabalhar?
- E não é que o "matemático" ministro da educação já sabe conjugar mais um verbo? "Eu capitulo..." Os professores, embora maciamente, vão contestando, mas agrdecem.
- E digam lá, já viram por aí o secretário de estado da cultura?
- E o macedo da saúde a tirar do chapéu todos os dias novas medidas para nos "tratar"?

domingo, 11 de setembro de 2011

Mundo deplorável e desprezível

Na era moderna houve, sem dúvida, dois acontecimentos que mudaram o mundo. Refiro-me ao aparecimento da televisão, a "caixa que mudou o mundo", e ao 11 de Setembro de 2001, o mais recente, um crime hediondo, inqualificável. Passam hoje dez anos sobre o infausto acontecimento e parece-nos que foi ontem. Ainda está bem vivo na nossa memória. Durante quantos anos mais? Questiono-me, porque temos memória curta, pois já nos esquecemos (e aqui refiro-me concretamente à "caixa que mudou o mundo" e aos restantes media) que existiu também o 11 de setembro de 1973, no Chile, um  golpe fascista que, com a colaboração dos EE.UU .derrubou o presidente comunista Salvador Allende. E sucederam-se perseguições e milhares de assassinatos (nestes,incluídos inúmeros fuzilamentos). Seria bom que não o esquecessemos.
Por associação de ideias lembrei-me dos Fuzilamentos de 3 de maio, do pintor espanhol Francisco de Goya e do fantástico poema de Jorge de Sena, a propósito deste quadro - Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya.
Como é um poema extenso fica para ilustrar um outro texto.
Hoje deixo aqui um pequeno poema de Carlos Pinhão, mais conhecido como jornalista desportivo.

A GUERRA

Num ano qualquer
houve uma batalha qualquer
numa terra qualquer
entre um rei qualquer e outro rei qualquer.
No fim, um anjo qualquer
desceu no campo de batalha,
pegou nos cadaveres do rei qualquer e do rei qualquer
e disse para um deus qualquer:
- Qual quer?

Fiquem bem, e tenham uma boa semana de trabalho.


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Freddie Mercury


Quando nasceu na colónia britânica de Zanzibar, filho de pais indianos, deram-lhe o nome de Farrokh Bulsara. Mas foi como Fredie Mercury, vocalista do grupo Queen, que se tornou conhecido e apontado com um dos melhores cantores de todos os tempos e uma das vozes mais conhecidas do mundo. Como se comprova neste video, era um autêntico animal de palco. Quem não conhece  Bohemian Rhapsody, uma das suas primeiras composições, ou We are the Champions ou Barcelona?
Como escreveu há alguns séculos um poeta romano, "morrem cedo os que os deuses amam". Se fosse vivo faria hoje 65 anos.
Aqui fica um texto que ele escreveu pouco antes de morrer:  

UM AMOR LOUCO

Quando a conheci, eu tinha 16 anos.
Fomos apresentados numa festa, por um “gajo” que se dizia meu amigo.
Foi amor à primeira vista. Ela enlouquecia-me. O nosso amor chegou a um ponto em que já não conseguia viver sem ela. Mas era um amor proibido. Os meus pais não a aceitavam. Fui repreendido na escola e passámos a encontrar-nos às escondidas.
Mas não aguentava mais, estava louco. Eu queria-a mas não a tinha. Eu não podia permitir que me separassem dela. Eu amava-a: bati com o carro, parti quase tudo que tinha em casa e quase matei a minha irmã. Estava louco, precisava dela.
Hoje tenho 39 anos, estou internado num hospital, sou inútil, e vou morrer abandonado pelos meus pais, pelos amigos e por ela.
A ela devo o meu amor, a minha vida, minha destruição e minha morte.
O nome dela? COCAÍNA.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Descanso

                         Descanso do gato preto depois da leitura.

Este é o Cocas, o gato do vizinho. Passa mais tempo a dormir, e come mais cá em casa, do que na casa onde pertence. É um sacaninha. De vez em quando desafia (ou desafiam-se) o Nico, o gato cá de casa, e dão uma saltada até ao "Tinoco, o clube da gataria da cidade"*. Vida(s) de gato...

* MIguel Torga, in Mago, do livro Bichos.