sexta-feira, 3 de outubro de 2008

ATÉ SEMPRE

Acabo de saber do passamento, há poucas horas, do meu amigo FERNANDO PEIXOTO. Sabia que o seu estado de saúde era preocupante, porque há dias, estando ele hospitalizado, contactei-o, tendo-me ele dado conta de exames que estava a realizar, uma vez que os médicos não sabiam exactamente o que lhe minava a saúde. Sabê-lo-iam, ele não. Mas, pelo menos para mim, não era expectável que nos deixasse tão cedo. O Fernando Peixoto era um homem da cultura, com quem se gostava de estar e de conversar. Além de dedicar parte do seu tempo à investigação, era professor de Teatro na ESAP e na Escola Superior de Educação, onde procurava incutir nos seus alunos o amor e a conduta responsável na actividade que escolheram. Por vezes controverso, era um convicto lutador pelas ideias que defendia, mesmo no blog Todo o Mundo é um palco, de que era responsável. O Fernando era também um excelente poeta. Muitas vezes me servi da sua poesia nos meus espectáculos. Sei que a cidade fica mais pobre ao vê-lo partir. Sei que os seus amigos lamentam ficar privados do seu convívio, mas sei também que a sua lembrança perdurará, e que nas nossas conversas de amigos o Fernando estará muitas vezes presente. Antes da despedida, em geito de homenagem, fica um bonito poema de amor, que ele sabia traduzir tão bem.

NÃO, MEU AMOR

"Não, meu amor...Nem todo o corpo é carne" -David Mourão-Ferreira

Não, meu amor, também és fogo

na forma como incendeias os sentidos.

Não, meu amor, também és raiva

onde espojo meu corpo em suor.

Não, meu amor, também és água

a dessedentar minha língua

seca de silêncio e de vómito.

Não, meu amor. Não és apenas carne,

nem apenas caule, nem apenas fruto,

mas sobretudo a seiva

de que se alimenta a minha ânsia de fuga.

Não, meu amor, também és mulher,

a parte que não existe em mim, homem!

"Não meu amor...Nem todo o corpo é carne".

Às vezes é uma viagem

ao interior uterino da criação

ao Imo da Vida

Fernando Peixoto

Com a minha saudade, ATÉ SEMPRE, FERNANDO

NOTA: Os versos do poema não são tão espaçados. Como ainda sou um "nabo" recente nestas andanças de blogs, há problemas que não sei (ainda) resolver. Lá virá o tempo.

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