sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Hoje é o Dia das Bruxas. Em Portugal, e nos países de língua portuguesa, porque nos países de língua inglesa, onde esta tradição surgiu, designa-se por Halloween, e corresponde à véspera do dia de Todos os Santos. O Dia das Bruxas surgiu como um acontecimento lúdico e cultural, que hoje, mesmo nos países onde a tradição está arreigada já tem muito de comercial. A origem do Halloween remonta às celebrações pagãs dos antigos povos celtas e tem origem na celebração chamada Samhain que marcava o fim do Verão e tinha por objectivo cultuar os mortos. Os celtas acreditavam que no Halloween as almas dos mortos voltavam aos lugares onde tinham vivido, por isso mascaravam-se e dançavam para afastar os espíritos. Em muitos outros países o culto dos mortos também se celebra nesta época, embora de modos diferentes. Hoje, o Dia das Bruxas tem pouco a ver com as suas origens, tornando-se numa data de divertimento. O símbolo do Halloween é hoje uma abóbora, mas começou por ser um nabo. Mudou quando os irlandeses, autores da tradição, chegaram aos EE.UU. e viram que as abóboras eram mais abundantes e passaram a usaram-nas iluminadas com uma brasa.
Em Portugal o culto aos mortos está ligado à Igreja Católica, e remete para o Dia de Todos os Santos, um dia sagrado, e no qual se presta homenagem aos santos e mártires cristãos. A parte pagã da tradição entra aqui com as crianças, que em grupos saem à rua a pedir de porta em porta o pão – por - Deus, cantando, e recebem pão, romãs, frutos secos, e até enchidos. Em algumas regiões oferece-se um bolo chamado Santoro. Quando miúdo também cantei os santoros e na minha região até ofereciam dinheiro.

Xácara das bruxas dançando

1
Era outrora um conde
que fez um país,
com sangue de moiro,
com laranjas de oiro,
como a sorte quis.

Há bruxas que dançam
quando a noite dança,
são unhas de nojo,
são bicos de tojo,
no tambor da esperança.

Ventos sem destino
que dizeis às ramas?
Desgraça bramindo
é a nós que chamas.

No país que outrora
um conde teceu,
as laranjas de oiro
são bruxas de agoiro
e fúrias do céu.

Anda o sol de costas
e as bruxas dançando
e os ventos do norte
sobre nós espalhando
as tranças da morte.

As estrelas mortas
apagam-se aos molhos:
vem, lume perdido,
florir-nos os olhos.

3
Ó castelos moiros,
armas e tesoiros,
quem vos escondeu?
Ó laranjas de oiro,
que vento de agoiro
vos apodreceu?

Há choros, ganidos,
à luz da caverna
onde as bruxas moram,
onde as bruxas dançam
quando os mochos amam
e as pedras choram.

Caravelas, caravelas,
mortas sob as estrelas
como candeias sem luz.
E os padres da inquisição
fazendo dos vossos mastros
os braços da nossa cruz.

As bruxas dançam de roda
entre o visco dos morcegos,
dançam de roda raspando
as unhas podres de tojo
na noite morta do povo
como num tambor de rojo.

Carlos de Oliveira, in Trabalho Poético
Editora Sá da Costa, s/data

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

O que tu sabes e nos contas!!!
Ainda bem, pois às vezes, a gente esquece o que já ouviu há muito.
Na minha aldeia não se festejava este acontecimento; pelo menos desde que me conheço como gente; mas acho engraçado!

Bj

Maria Mamede