Carantonha- s.f.-contorsão do rosto, esgar, máscara, cara feia, carranca, caraça. * Em criança, na região de onde sou natural, e onde então vivia, quando se brincava ao carnaval, o artefacto que nos ocultava o rosto, era a carantonha porque por norma era coisa feia. O tempo passa, a evolução acontece, e hoje, pelo menos quando jogamos ao carnaval, usamos uma máscara. Ou será que não a usamos todos os dias?
sábado, 31 de janeiro de 2009
Sucessos com cães dentro
Todas as notícias o davam como tendo morrido afogado, mas o rafeiro valente sobreviveu ao impacto da onda e antes que se fizesse tarde, lá vai ele até casa, onde chegou primeiro que o dono imprevidente. Só no dia seguinte vieram as novas de que o canídeo se tinha salvo e já estava pronto para outro passeio, esperando que a inconsciência do dono o não levasse a passear outra vez para junto do mar agitado. Sim, falo daquele rafeiro que só foi notícia porque o dono, num dia de tempestade, o levou até a beira mar e foi (o dono) arrastado por uma onda mais alterosa, tendo sido salvo por três jovens que não pensaram duas vezes no risco que corriam. Salvou-se o dono e salvou-se o cão e tudo acabou em bem.
CÃO II
Segundo rezam as estatísticas, Portugal é o país que tem mais recordes no Guinness. É também o país onde há mais telemóveis em uso. Não sei se isso nos traz algumas vantagens. Mas que sabemos aproveitar as ocasiões, sabemos. Bastou que o Presidente dos EE.UU fizesse constar que as filhas gostariam de ter um cão, talvez um cão-de-água português, e logo alguém ofereceu um exemplar. Só que o cachorro ainda não existia. Então, há que pôr a fábrica a funcionar. Mas a pretensa mãe não esteve pelos ajustes. Não sei como ficou a história, mas acho que seria boa ideia aproveitar a onda e começar a pensar-se na produção em série. Ganhava a raça (dos canídeos) e talvez ganhasse o turismo.
E aqui está o pretexto para dar a conhecer alguns poemas com cães dentro:
CÃO COMO NÓS
Como nós eras altivo
fiel mas como nós
desobediente.
Gostavas de estar connosco a sós
mas não cativo
e sempre presente-ausente
como nós.
Cão que não querias ser cão
e não lambias
a mão
e não respondias à voz.
Cão
cão como nós.
Manuel Alegre, in Cão como nós, a história do seu cão Kurika
NOCTURNO
Quatro da madrugada
Vivos,
sob o arco do céu,
eu
e um cão tão magro como eu.
Sem prévia combinação, sem nada,
tivemos este encontro nesta rua
a esta hora marcada
pelo aceno da lua.
E aqui vamos agora,
num amor vagabundo
de quem não se conhece e se namora,
a encher os dois sozinhos este mundo.
Miguel Torga, in Diário I, 1941
HISTÓRIA DE CÃO
eu tinha um velho tormento
eu tinha um sorriso triste
eu tinha u8m pressentimento
tu tinhas os olhos puros
os teus olhos rasos de água
como dois mundos futuros
entre parada e parada
havia um cão de permeio
no meio ficava a estrada
depois tudo se abarcou
fomos iguais um momento
esse momento parou
ainda existe a extensa praia
e a grande casa amarela
aonde a rua desmaia
estão ainda a noite e o ar
da mesma maneira aquela
com que te viam passar
e os carreiros sem fundo
azul e branca janela
onde pusemos o mundo
o cão atesta esta história
sentado no meio da estrada
mas de nós não há memória
dos lados não ficou nada
Mário Cesariny, in burlescas teóricas e sentimentais, 1972
BOM DIA , CÃO
Avisto na rua um cão
Digo-lhe: como vais, cão?
Pensa que me responde?
Não? Pois bem, mas ele responde-me
E isso não é da sua conta
Agora quando se vêem pessoas
Que passam sem sequer reparar nos cães
Sentimos vergonha pelos seus pais
E pelos pais dos seus pais
Porque é uma tão má educação
É coisa que requer pelo menos... e não estou a ser generoso
Três gerações, com uma sífilis hereditária
Mas, para não vexar ninguém, devo acrescentar
Que um número considerável de cães não falam com muita
frequência.
Boris Vian, in Cantilenas em Geleia
A VIDA É UMA FADA
há quem tenha
uma cadela
eu não tenho
uma gata.
a cadela
leva-me lá fora
a gata
anda lá fora.
a cadela
anda-se com ela.
por isso prefiro
não ter uma gata
a ter uma cadela.
embora na desgraça
esta gata é de raça.
se eu pudesse tinha-a
mas não pára em casa.
e se a tivesse passava
a vida como quem tem
uma cadela cinderela:
a gata, que é dela?
não era bom para mim
e era mau para ela.
antes da meia noite
já está com a cadela.
chamam-lhe borralheira
porque nunca mantém
em segredo a fada.
os cavalos são mesmo ratos
a varinha não é de marca
e a carruagem é uma abóbora.
apesar de tudo é uma gata
fala francês com a cadela
e não toca piano
mas escreve à máquina.
ora porque me inquieta
a gata que não é minha?
é que não quero saber da cadela da vizinha!
a borralheira, essa
comunista na miséria
comodista na fartura
é muito meiga e neutra.
à noite pousa a pata
no meu ombro e ladra
o estupor da gata.
Joaquim Castro Caldas, in Convém Avisar os Ingleses
sábado, 24 de janeiro de 2009
Real caridadezinha
Título: “Duquesa de York ajudou sem-abrigo”.
Notícia: “ A Duquesa de York, Sara Ferguson, e a sua filha, a princesa Beatrice, resolveram praticar uma boa acção ajudando um sem-abrigo, em Londres. Após um jantar num restaurante chique, ambas caminhavam pela rua enfrentando as baixas temperaturas na capital e, ao depararem-se com um sem-abrigo, deram-lhe dinheiro.”
Por me parecer que a notícia está escrita com bastante ironia, vou deixar só um comentário. Com tamanho espírito caritativo porque não levar o sem-abrigo para o palácio, tratar dele, e dar-lhe uma ocupação?
Menina Fútil
A menina fútil deu um bodo aos pobres;
Pela primeira vez pôs avental…
Falou do gesto e seus intuitos nobres,
Com palavrinhas brandas, o jornal…
- Os pobres ficaram pobres
E a menina fútil nunca mais pôs avental…
A menina fútil tem um cão de raça
Que nunca saiu do quintal
E nunca viu uma cadela…
Para a menina fútil o seu cão de raça
Deixou de ser um animal
E é um cãozinho de flanela…
… e a menina fútil tem um namorado
e atira-lhe promessas da janela…
Promessas… porque o resto era pecado
E pecar não é com ela…
(Fica sempre na rua, o namorado,
E é tão distante a janela…)
Mas a menina fútil tem um namorado,
Tem um cão com feitio de flanela,
E anda feliz por dar um bodo aos pobres
E ter descido a pôr um avental…
Lê e relê os seus intuitos nobres;
Recorta o seu retrato do jornal;
- e os pobres continuam pobres,
E a menina fútil nunca mais põe avental.
Sidónio Muralha
Sidónio Muralha, nasce em 28 de Junho, na Madragoa, Lisboa. Poeta de intervenção, é publicado no Novo Cancioneiro. Perseguido pela polícia política exila-se voluntáriamente no Congo Belga. Chegou a director geral da Unilever Internacional, chegando a viajar constantemente pelo mundo, ao serviço da empresa. Em 1961 vai para o Brasil, onde fica para sempre.Foi um dos percursores do neo-realismo português com BECO. Publicou 21 livros em prosa e 15 de poesia para crianças. È, aliás, considerado um dos melhores poetas para crianças em língua portuguesa. Faleceu em 8 de Dezembro de 1982, em Curitiba, Brasil.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Boa noite, mestre
PARA FAZER O RETRATO DE UM PÁSSARO
Pinta primeiro uma gaiola
com a porta aberta
pinta a seguir
qualquer coisa bonita
qualquer coisa simples
qualquer coisa bela
qualquer coisa útil
para o pássaro
agora encosta a tela a uma árvore
num jardim
num bosque
ou até numa floresta
esconde-te atrás da árvore
sem dizeres nada
sem te mexeres...
Às vezes o pássaro não demora
mas pode também levar anos
antes que se decida
Não deves desanimar
espera
espera anos se for preciso
a rapidez ou a lentidão da chegada
do pássaro não tem qualquer relação
com o acabamento do quadro
Quando o pássaro chegar
se chegar
mergulha no mais fundo silêncio
espera que o pássaro entre na gaiola
e quando tiver entrado
fecha a porta devagarinho com o pincel
depois
apaga uma a uma todas as grades
com cuidado não vás tocar nalguma das penas
Faz a seguir o retrato da árvore
escolhendo o mais belo dos ramos
para o pássaro
pinta também o verde da folhagem a frescura do vento
a poeira do sol
e o ruído dos bichos entre as ervas no calor do verão
e agora espera que o pássaro se decida a cantar
se o pássaro não cantar
é mau sinal
é sinal que o quadro não presta
mas se cantar é bom sinal
sinal de que podes assinar
então arranca com muito cuidado
uma das penas do pássaro
e escreve o teu nome num canto do quadro
Jacques Prevert
Tradução de Eugénio de Andrade, in "Trocar de Rosa", Edição Fundação Eugénio de Andrade, 5ª edição, Fevereiro 1995.
Jacques Prévert nasceu em 1900 perto de Paris e faleceu em 1977, na Normandia. Foi poeta e argumentista. O seu primeiro livro de poemas, Paroles, teve um sucesso enorme e consagrou-o, pela sua linguagem simples, os seus jogos de palavras e o seu humor. Foi um dos grandes criadores franceses, empenhado no movimento surrealista e também em toda a movimentação artística social e política em redor da Frente Popular. Muitos dos seus poema foram postos em música e cantados por grandes nomes da canção francesa.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
ELES...
A meta deles (delas?) é: 15h30. Eles, são eles, não
são os outros! Políticos? Não! No falar deles, estes (alguns) não são gente séria, eles é que são. Eles são os que dizem "na presente conjectura", quando querem dizer, "na presente conjuntura". E depois ouvimos uma teenager (ou será tineiger?) responder muito candidamente à pergunta. -"Quem foi Catarina Eufémia? - "Foi uma cantora". Culpa deles? Não! Dos outros. Como no poema de Sophia, "Perdoai-lhes Senhor/Porque eles sabem o que fazem
AS PESSOAS SENSÍVEIS
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
de comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
~Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Livro Sexto
LENGALENGA
são eles são eles
os homens das peles
são eles são eles
sei lá que esquimós
querem-nos as peles
querem-nos a nós
são eles são eles
querem-nos as peles
são filhos do vento
da noite-pavor
e buscam traição
aonde há amor
são eles são eles
morcegos morcegos
batendo na luz
mordendo nos cegos
são eles são eles
os homens das peles
apagando os nomes
no fundo dos pegos
são eles são eles
sei lá que esquimós
querem-nos as peles
querem-nos a nós
Eduardo Olímpio
Eduardo Olímpio, nasceu em Alvalade do Sado em 1933. Como ele próprio se define, foi «experimentador de profissões» durante um período longo de tempo: caixeiro, livreiro e editor e tradutor. Sempre se recusou a exposição mediática. Dono de um humor sadio e sabiamente popular, é um genuíno contador de histórias. A sua escrita essencialmente, ironia, protesto e revolta. Autor, entre outros de Eramos Oito na Pensão Celeste (romance); Moça Querida (c0ntos) e António dos Olhos Tristes (histórias)
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
ÉLIS REGINA
domingo, 18 de janeiro de 2009
Ary dos Santos
A porta que entretanto atravessava
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Acabem com a guerra, porra, II
"A Comissão de Direitos Humanos da ONU condena "firmemente" a agressão israelita em Gaza e exige a "retirada das forças israelitas". A resolução cita 16 vezes Israel e as agressões israelitas contra os direitos humanos do povo palestiniano. Quanto ao Hamas, é como se não existisse; mesmo os "rockets" sobre civis israelitas, citados timidamente uma vez, não têm autor. A sessão foi convocada por Cuba, em nome do Movimento dos Não-Alinhados; Egipto, em nome do Grupo Árabe e Africano; e Paquistão, em nome da Conferência Islâmica, tudo gente respeitadora dos direitos humanos. O Canadá votou contra, e entre outros, abstiveram-se os países da UE, o Japão e a Suíça. A resolução acabou, no entanto, por ser aprovada com os votos dos proponentes e outros países justificadamente conhecidos pelo "firme" respeito que dedicam aos direitos humanos, como Angola, China, Arábia Saudita, Rússia, Indonésia, Jordânia, Gabão ou Azerbeijão. A Human Rights Watch já criticou a decisão, dizendo que, ao focar apenas Israel, A Comissão "destrói a sua credibilidade". É o que acontece quando é o ladrão quem guarda a vinha." Por aqui me fico. E deixo alguns poemas sobre guerra
A BOMBA
O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o0 imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.
(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)
Egito Gonçalves
NENHUMA GUERRA É A TUA GUERRA
Nenhuma guerra é a tua guerra,
porque nenhuma guerra tem ou conhece dono,
animal bravio ceifando pétalas
enquanto as estrelas, indefesas,
viram, atónitas, as costas à luz.
A guerra é a nossa doença,
a manhã tempestuosa e ácida
em que tudo definha e morre
por não saber que nome há-de dar à vida.
Nenhuma guerra é a tua guerra
porque tu tens nos cabelos
a breve centelha de lua
que faz do que sonhas
o último domínio que a esperança consente.
José Jorge Letria, in Poemas da Linha da Frente, Editora Ausência, 2003
BALADA INGÉNUA SOBRE AS BOMBAS INTELIGENTES
Se as bombas inteligentes
fossem mesmo inteligentes
não eram bombas.
Eram fraldas descartáveis,
meias de ligas,
sandálias,
cafeteiras, fósforos, colheres,
lenços ao pescoço,
búzios na areia,
lençóis de linho,
livros de poesia,
coisas úteis, verdes, brancas,
coisa de água e vento.
Se as bombas inteligentes
fossem mesmo inteligentes
eram flores,
simplesmente flores,
sem simbolismos nem lirismos,
flores concretas
a tremer no ar tépido da tarde,
flores com abelhas a zumbir à volta,
flores azuis, nascidas da terra,
flores amarelas, roxas, violetas,
margaridas, cravos, miosótis,
rosas repetidas
para além de todas as evidências.
Se as bombas inteligentes
fossem mesmo inteligentes
explodiam ininterruptamente
em cada Primavera
e mesmo que não fosse Primavera
explodiam
pelo simples e desvairado prazer
de lançar em todas as direcções
ogivas carregadas
de brisas cantantes,
águas felizes
e pólen.
José Fanha, in Poemas da Linha da Frente, Editora Ausência, 2003
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
A primeira iniciativa "A poesia tem olhos" é já no próximo dia 16 (sexta-feira), e terá lugar na Biblioteca de Paços de Ferreira, pelas 21 horas.
Vai ser um autêntico dois em um, pois o convidado, o psicólogo Luis Fernandes, vai falar da sua vivência profissional e o seu alter ego, o poeta João Habitualmente, da sua poesia. Noite cheia por certo, e o Carantonha Mor lá estará para ler alguns poemas. Carantonhas, enfrentem o frio e apareçam porque a noite promete ser quente. Aqui vos deixo um cheirinho do que pode acontecer:
KodaK
tão sentados que
estamos
aqui na borda da lua
anda jantar comigo
pomos
a vela na mesa
tão bonitos que
ficamos
ri-te p'rá fotografia
e tão inúteis que somos
Drácula Apaixonado
quero o teu
colar
o teu pescoço
o teu arfar
(e quero-te, claro,
a veia jugular)
Pedras III
Há pedras habitadas. Pássaros que não migram
só para não sofrerem a partida
Esperam um ano a fio pelo regresso dos companheiros
Poemas dos livros Os sons parados, edição Pé-de-Cabra, 1995 e Os Animais Antigos, edição Objecto Cardíaco, Janeiro de 2006
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
A neve, meu Deus, a neve
Vencido, mas não convencido
Se repararem aí em baixo (Acabem com a guerra, porra), Carantonhas que me seguis (será que são realmente só três?), vereis uma amálgama de opinião e poesia. Mas a mensagem não foi estruturada assim. Por sei lá que manigâncias, ó máquina, resolveste que tinha que ser assim e zás, há que contrariar cá o rapaz. Pese embora com algum cepticismo, estou quase tentado a acreditar que tu material (máquina maldita) tens sempre razão. Isto para não dar parte de fraco, pois quem não domina ainda a técnica para te domesticar sou eu. E nem chamando em meu auxílio todos os deuses ex machina, consegui vencer-te. A única coisa que me deixaste corrigir foi um latinório que habita o texto. Mas o que eu não te perdoo é teres transformado, máquina maldita, o poema do Manuel Alegre, um soneto latino, em soneto inglês.
Para ti, máquina, um poema de J.C.Ary dos Santos.
Agora vê lá o que fazes. Porta-te bem, senão despeço-te!
P.S.- Reparaste, máquina maldita, na fotografia, o pormenor do cãozinho no bornal do soldado?
O OBJECTO
Há que dizer-se das coisas
o somenos que elas são.
Se for um copo é um copo
se for um cão é um cão.
Mas quando o copo se parte
e quando o cão faz ão ão?
Então o copo é um caco
e um cão não passa de um cão.
Quatro cacos são um copo
quatro latidos um cão.
Mas se forem de vidraça
e logo forem janela?
Mas s e forem de pirraça
e logo forem cadela?
E se o copo for rachado?
E se o cão não tiver dono?
Não é um copo é um gato
não é um cão é um chato
que nos interrompe o sono.
E se o chato não for chato
e apenas cão sem coleira?
E se o copo for de sopa?
Não é um copo é um prato
não é um cão é literato
que anda sem eira nem beira
e não ganha para a roupa.
E se o prato for de merda
e o literato for da esquerda?
Parte-se o prato que é caco
mata-se o vate que é cão
e escreveremos então
parte prato sape gato
vai-te vate foge cão
Assim se chamam as coisas
pelos nomes que elas são.
José Carlos Ary dos Santos, in Obra Poética, Edições Avante, Lisboa, Março de 1994
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
Acabem com a guerra, porra
sábado, 3 de janeiro de 2009
Comunicação de ANO NOVO aos CARANTONHAS
Já cá temos 2009, mais um ano a cumprir. Usual, habitual, trivial, tradicional, são adjectivantes que usamos para caracterizar as três palavras que mais se ouvem quando perguntamos a alguém quais os seus desejos para o ano que vai começar: saúde, dinheiro e amor. Mas, Carantonhas, desejos não são realidades, e o que desejamos não nos cai do céu aos trambolhões, nem por obra e graça do Espírito Santo, está tão só nas nossas mãos. O desejo tornar-se-à realidade se batalharmos por isso, se fizermos por merecer o que perseguimos, para podermos estar perto da felicidade. Vejamos a saúde. Depende do nosso estilo de vida. Só nos acompanhará se soubermos tratar equilibradamente do corpo (alimentação, etc.) e do espírito.
O amor conquista-se, faz-se por merecê-lo, e conserva-se. Se o conseguirmos, mais uma etapa estará vencida.
O dinheiro é o factor que não depende só de nós, porque aqui entra o emprego. Mas o emprego também se conquista, pois a sorte também se constrói. Para isso há que consolidar conhecimentos, educação, ser empenhado, imaginativo , persistente, e fazê-lo em permanência. Se conseguimos optimizar todos estes factores, então sim, poderemos desejar para um ano feliz, saúde, dinheiro e amor.
E para não fugir à regra, para os meus 3 (três) habituais leitores, desejo SAÚDE, DINHEIRO e AMOR. Pela minha parte, os meus desejos pessoais, são fazer o possível para trazer aqui com mais frequência, a poesia e mais coisas sobre teatro, os dois objectivos principais da criação do blog. BOM 2009.