Aqui fica uma outra versão da versatilidade dos nossos repórteres televisivos. É a versão “encher chouriços”.
Repórter, microfone na mão, à porta de casa do acidentado:
“- Então é assim. O nosso homem…, vou desviar-me um pouco para a esquerda para que o nosso repórter de imagem possa filmar a porta por onde o homem saiu. Como vêem é uma porta lacada a branco, com um puxador dourado. Ao, lado, uma bonita janela onde podemos vislumbrar cortinas de um tecido espesso que não deixa transparecer o que se passa dentro de casa. À casa acede-se por um carreiro lajeado, como se pode ver, que acaba junto à porta com três degraus em alvenaria. O jardim é um autêntico roseiral onde pontificam as rosas vermelhas. O pequeno portão de saída do jardim para a rua é em madeira de pinho tratado e pintado a branco. Foi por aqui que o nosso homem saiu. Já na rua tropeçou numa pedra solta e caiu. Antes de prosseguir, deixa-me dizer-te que a rua é toda empedrada a granito vindo das pedreiras alto-durienses. Os passeios estão limpos e são bordejados por bonitas árvores, de porte magnífico. No tronco desta, ao pé da qual me encontro, está gravado, talvez com um canivete suíço, um coração atravessado por uma seta, e a inscrição “Amo-te, Aldegundes”. A ambulância que transportou o acidentado é pintada a branco. Os paramédicos vestem de branco. O agente da autoridade que chegou ao local e accionou os meios de socorro, veste de azul, é um mocetão bem parecido, e além disso bem falante, com um discurso escorreito. Os óculos Rayban do acidentado, ficaram em mil pedaços. A pasta Luís Vuiton toda esmurrada, com a pega partida. O fato Armani ficou inutilizado, com vários rasgões. O Rolex já era.
O nosso homem partiu a cabeça (levou dez pontos), tem escoriações em várias partes do corpo e três costelas partidas. Pensa-se que poderá ter alta dentro de uma semana.”
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