domingo, 17 de maio de 2009

Vale tudo, menos tirar olhos

"Vale tudo, menos tirar olhos" - Expressão utilizada quando se pretende resolver determinado assunto, usando tanto meios lícitos como ilícitos.

Voltando a São Pancrácio, desconhecia mesmo que existisse santo com tal nome. O que eu conhecia era o substantivo pancrácio, de origem popular, e com o significado de pateta, idiota, simplório, hoje practicamente caída em desuso, pelo menos nos grandes centros populacionais.
Mas vim a descobrir também um outro significado (bendita Enciclopédia Lello) para a palavra.
Pancrácio, do grego pan (todos) e Kratos (poder), que quer dizer, mais ou menos,"tudo é permitido na força".
O pancrácio era uma luta violenta, mistura de boxe e luta livre, pontapés, estrangulamentos, considerada uma das modalidades mais populares da Antiguidade, e servia de treino aos soldados gregos. Chegou a fazer parte dos Jogos Olímpicos em 648 a.C., sendo anos depois excluída, devido à sua brutalidade. Esta luta, em que os contendores se apresentavam nus, não tinha limite de tempo, e só terminava quando um dos lutadores se rendia, ou mesmo morria, o que não era raro. Na Megapólis de Atenas foi considerada ilegal pelo perfeito Egeu, devido a pressões dos grupos conservadores da cidade, por segundo eles, ser extremamente violenta e exercer uma má influência na juventude. Sabe-se que foi esta luta que deu origem aos actuais boxe, wrestling, vale tudo e outras lutas aparentadas. Apesar de ser uma luta considerada sem regras, tinha algumas: era proibido morder, arranhar, golpear a genitália (para quem não sabe, "as partes baixas") e sobretudo, tirar olhos. Talvez, quem sabe, venha dessa última proíbição a expressão "vale tudo, menos tirar olhos".
Uff, que fiquei cansado com esta luta. Valha-me, ao menos, São Pancrácio!

(a todos esses jovens que ao sol e à chuva, num campo, durante horas inteiras, - quase nús, cultivam com uma formosa animalidade inconsciente, a alegria muscular na destreza dos desafios.)- António Botto

Manhã de luz penetrante.

O sinal dando início à Maratona
É dado
Pela voz d'oiro
De Píndaro - o imortal.

E aqueles corpos
De gentilíssimo talhe
E sóbria musculatura
- Carne divina
Sem a mácula do abraço feminino
Que a torna
Doente, sacrificada -
Arrancam!, - e lá vão cobrindo sulcos
Na areia fina e molhada.

De entre tantos,
P'la graça dos movimentos,
Nervoso, ágil, delgado,
Um moço alto
Cativa o meu olhar deslumbrado!

Silêncio. Ele? - Foi ele!...

Rosas vermelhas e frescas
Engrinaldam
A fronte lisa do herói.

Braços de mulher o envolvem?

E na minha alma de artista
Uma trágica certeza
Mais me entristece e me dói.

António Botto in As Canções de António Botto

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