domingo, 29 de maio de 2011

Portugês suave



A imagem é a capa de um livro de crónicas do me amigo Soares Novais, com prefácio do também meu amigo César Princípe e desenho do meu amigo Onofre Varella.Tive o prazer de fazer a leitura de algumas crónicas, na apresentção do livro.


A campanha política para as próximas eleições, aí está com algum destempero, com gente assanhada, zangada, que deveria unir-se já porque o FMI anda por aí há já muito tempo, há mais tempo do que se pensa, e os nossos políticos não mostram laivos de vergonha no seu modo de se comportar. Insultam-se directamente, mandam outros insultar os adversários, mas dizerem-nos como sair da crise, como vão resolver os graves problemas daqueles a quem (penso eu que, acintosamente) chamam povo, isso é que não dizem.
Depois de ter visto na tv, comentando a crise, políticos que não nomeio, porque todos saberão quem são, (devo em verdade dizer que, de um deles nunca gostei, por ser arrogante, e se julgar o guru da economia, um tipo a quem chamam N L). O representante do PS, argumentava dizendo: “o dr N L licenciado em economia…não acabou a frase porque a outra besta retorquiu imediatamente:”licenciado não, doutor, que é coisa que tu não és”. Mais à frente repetiu a gracinha. E do outro que diz que os políticos só andam a discutir “pentelhos” (eu pensava que era pintelhos, foi assim que sempre lhe chamei). Pergunto com algum espanto e muita inocência: São estas bestas que se preparam para nos governar?

Só nos resta sorrir e não entrar em quezílias, como nos diz Joaquim Pessoa no texto

PORTUGUÊS SUAVE

Sorrir. De vez em quando e apenas. A longínqua e doce primavera virá florescer mais perto, num bosque de sangue onde vagueia ainda uma horda de visigodos a embebedar-se todos os dias nesse mesmo sangue. Ah, mas não faz mal, como diria a legenda do mapa azul das terríveis vinganças. Vingar-nos-emos todos deste lapso de história em que estamos para nascer completamente roxos com o cordão umbilical a apertar-nos o pescoço mais e mais, já sem doer o que antes foi dor de parto e de partida. Apertemo-nos, pois, todos, os mais fracos, para que cada forte possa ficar mais à vontade. E se alguém vier dizer que o nosso lugar não é aqui, já sabeis, nada de quezílias ou de maus modos. Sorrir. Sorrir de vez em quando e apenas.

sábado, 28 de maio de 2011

Ainda as andorinhas


 
Continuo a falar de andorinhas porque me lembrei de um poema do poeta brasileiro Mário Quintana, que no fundo é um poema de amor. Mas estas andorinhas que vão ilustrar o texto são diferentes. São andorinhas das chaminés, Hirundo rústica, pequenas aves de corpo aerodinâmico, com um voo veloz capazes de grandes acrobacias no ar , para apanhar os insectos de que se alimentam.
Agora o poema de Mário Quintana:

POEMINHA SENTIMENTAL

O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam

Andorinhas

A primavera está quase no fim. O reflorestamento da fauna e da flora, estarão quase terminados, se não o estiverem já, não tenham sofrido porventura das oscilações do tempo. Dentro de um mês já ai teremos o verão, parece mesmo que ele já cá está tão altas e desproporcionadas teem sido as temperaturas destes dias. Mas não foram as temperaturas que me lembraram a primavera. É que hoje, aqui na cidade, coisa que já vai sendo rara, vi uma andorinha esvoaçando em redor do jardim da praça. E que saudades me assaltaram. È que, já há muitos anos, quando vim morar para o prédio onde ainda hoje moro, durante anos havia ninhos de andorinha debaixo das varandas, que todos os anos eram ocupados, para que nascessem novos seres. Um dia, alguém que deveria andar zangado com a vida, resolveu limpar os ninhos. E que saudades!
Por isso aqui fica um poema do meu amigo Nelson Ferraz:

CHEGARAM AS ANDORINHAS

Trazem olhos de mar quando saem do poente.
E num traço, embrulhado de azul, inventam bailados
como se fossem um aceno de luz.

Hoje o vento veio dizer-me a cor exacta da ausência
enquanto eu esperava no branco da ânsia.

Até que, no ambar da tarde, numa sílaba de bruma, algo
se move. Em sopros de negro.

Primeiro, de repente, como um grito de espaço. Depois,
mensamente, como gotas de azeviche no risco do ar.

Cheira a verde na distância.

Vem meu amor, vem ver!...

Chegaram as andorinhas!...

sábado, 21 de maio de 2011

Sessão de poesia em Mozelos

II Semana Cultural de Mozelos 2011




Ontem, integrado no colectivo Onda Poéticaestive a participar num espectáculo de poesia na Junta de Freguesia de Mozelos, que fazia parte da II Semana Cultural de Mozelos 2011. Diga-se que a sessão foi muito participada, com público atento e interessado, e que correu muito bem. Foram ditos poemas de vários autores portugueses, com destaque para António Gedeão, e Anthero Monteiro, o cordenador da sessão. No que me diz respeito, procurei, 



a par de poemas conhecidos e de outros de caracter mais sérios, apostar em textos que abordassem a ironia e o surrealismo, de modo a criar um ambiente mais descontraído. Resta-me dizer que, como no ano passado, a assistência, onde estavam o Presidente da Junta e o Presidente da Câmara da Vila da Feira, saiu satisfeita , e fomos recebidosdcom fidalguia. Portanto, esperamos repetir no próximo ano. 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

IMORTAL de Rodrigo Leao


Para além da qualidade musical, e porque apesar de…, gosto, resolvi trazer até aqui este vídeo por duas ordens de razões: as boas e as más. Vamos às boas. A música, chamemos-lhe assim, é daquelas que, depois de um dia estafante, ao ouvi-la, ao mesmo tempo que nos empolga, nos leva a uma sensação de dolce far niente. Pelo menos comigo assim é. Depois, a violinista é excelente, além de ser bonita, o que até ajuda o violino a dar-nos um som mais quente. E para tornar tudo ainda melhor temos uma soprano magnífica e também bonita, a portuguesa Ângela Silva. Como não haveria de sê-lo, se o latim angelus deu no que deu.

Agora as más razões. É um vício, um defeito, ou o que queiram chamar-lhe, e já tenho comentado isso com gente do meio, que, -  e não é só com as bandas portuguesas, as estrangeiras também abusam do esquema –  a parte instrumental abafe as palavras do poema. Frequentemente ouve-se só a voz do ou da solista. Quando alguém escreve um poema para ser cantado, a melodia deve estar lá para sublinhar as palavras, não para as abafar. E este vídeo, de que gosto, repito, é um exemplo disso. Deveria ter legendas. A não ser assim, corre o risco de passar de Imortal a mortal em pouco tempo. Agora que já desabafei, e espero não ter abafado nada nem ninguém, só me resta desejar-vos um bom fim de semana, de preferência com sol, para que os caros carantonhas façam por se portar mal, e se possível ser felizes.
                                

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Liga Europa

                       CAMPEÕES                      
                       
As núvens são brancas
O céu é azulão
Como é bom ter o Falcão.

Louvem-se e aplaudam-se os Campeões. Honre-se quem perdeu mas soube bater-se com ambição.

domingo, 15 de maio de 2011

Sobre o meu nascimento e não só

Esta casa centenária da minha aldeia, conhecida inicialmente pela casa do senhor Graça, seu primeiro proprietário, está na origem do nascimento deste vosso amigo carantonha. Eu explico: da sua Albergaria-a-Velha natal, chegou para ser encarregado da obra, aquele que seria o meu avô materno, António Mendes. Conheceu a avó Aldina (saudosa e extremosa avó), namorou, casou e nasceram seis filhos, a segunda das quais é a minha mãe, ainda jovem e activa nos seus noventa anos. Dois rapazes e quatro raparigas , com nascimentos intervalados com a ida do meu avô até França, primeiro integrado no CEP (Corpo Expedicionário Português) que participou na 1ª Grande Guerra, e depois em trabalho.
Mas voltemos à casa. Depois do desaparecimento do senhor Graça, que já não conheci, a casa passou a ser conhecida  pela casa das Meninas do Graça, três irmãs solteironas, que viviam para os sobrinhos, filhos da única irmã que casou. Na casa, onde havia gatos bem estimados, com os sobrinhos brinquei, preparei algumas lições, aprendi muita coisa, e mais tarde ajudei na chamada campanha de educação de adultos. Estando eu já na cidade, a casa assistiu ao casamento serôdio da irmã mais velha. As outras duas acompanharam-na e a vida na casa cessou. Até hà relativamente pouco tempo, pois foi comprada por alguém que não era natural da aldeia, que a reabilitou e que a habita. Não acredito em fantasma, suponho que o actual proprietário também não, mas sou levado a pensar que por lá ainda andará o espírito do meu avô.
Para ilustrar este texto -detesto o temo post ou posta- (esta então faz-me crescer água na boca ao lembrar-me a posta à mirandesa), acho que ´bem a propósito a Anedota da Adilia Lopes que cito de memória:

Duas irmãs solteironas 
vivem juntas com uma gata
que nunca deixam sair.
Uma das irmãs casa.
A outra pede que lhe mande uma carta
a contar pormenorizadamente 
a noite de núpcias.
Ela manda-lhe um telegrama:
-"Mana, solta a gata"

Carantonhas, uma boa semana de trabalho ou de ócio. 

sábado, 14 de maio de 2011

Tributo a Mário Quintana


Caros carantonhas, hoje vou falar-vos de Mário Quintana um dos grandes poetas brasileiros, falecido em 5 de Maio de 1994. Quintana foi o tal que disse que “escrever versos é fácil, escrever poesia é que é difícil”. Foi durante toda a vida jornalista, e também tradutor e essencialmente poeta. Esta é aliás a sua faceta mais conhecida. Foi considerado o poeta das coisas simples, com um estilo marcado pela ironia, pela profundidade e pela perfeição técnica. Nunca casou, não teve filhos e viveu sempre em hotéis. Os seus poemas eram geralmente curtos e concisos
 OS POEMAS
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...


Cultor, como se disse, da ironia, algumas pequenas frases em forma de poemas
“O mais feroz dos animais domésticos é o relógio de parede. Conheço um que já devorou três gerações da minha família”

“A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”

(O Trágico Dilema)
“Quando alguém pergunta a um autor o que este quis dizer, é porque um dos é burro"

E finalmente, a mais irónica verdade:
“A morte é a libertação total: a morte é quando a gente pode, afinal, estar deitado de sapatos”


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Manuel António Pina

Manuel António Pina foi o vencedor do Prémio Camões 2011. Manuel António Pina foi jornalista no JN, é contista, ficcionista, escreve teatro infanto-juvenil, tem uma crónica diária no JN, mas é essencialmente poeta, embora como costuma dizer, os poemas não lhe saiam à primeira. O juri do prémio reconheceu a originalidade e criatividade do poeta. Parabéns, e que continue por muitos anos a entusiasmar-nos com a sua poesia. Dois poemas infanto-juvernis que nos mostram o gosto de M.A.Pina em jogar com as palavras.

Gigões e anantes –

Gigões são anantes muito grandes.
Anantes são gigões muito pequenos.
Os gigões diferem dos anantes:
uns são um bocado mais, outros um bocado menos.

Era uma vez um gigão tão grande, tão grande,
que não cabia. - Em quê? - O gigão era tão grande
que nem se sabia em que é que ele não cabia!
Mas havia um anante ainda maior que o gigão
e esse então nem se sabia se cabia ou não!

Só havia uma maneira de os distinguir:
era chegar ao pé deles e perguntar.
Mas eram tão grandes que não se podia lá chegar!
E nunca se sabia se estavam a mentir!

Então a Ana, como não podia
resolver o problema, inventou uma solução:
xixanava com eles e o que ficava
xubiante ou ximbipante era o gigão,
e o anante o que fingia que não.

A teoria nunca falhava porque era toda
com palavras que só a Ana sabia.
E como eram palavras de toda a confiança
só queriam dizer o que a Ana queria.


O PÁSSARO DA CABEÇA

Sou o pássaro que canta
dentro da tua cabeça
que canta na tua garganta
canta onde lhe apeteça

Sou o pássaro que voa
dentro do teu coração
e do de qualquer pessoa
mesmo as que julgas que não

Sou o pássaro da imaginação
que voa até na prisão
e canta por tudo e por nada
mesmo com a boca fechada

E esta é a canção sem razão
que não serve para mais nada
senão para ser cantada
quando os amigos se vão

e ficas de novo sozinho
na solidão que começa
apenas com o passarinho
dentro da tua cabeça

Caros Carantonhas, espero que tenham apreciado os poemas do MAP. Tenham um bom fim de semana, e como costumo dizer, façam o favor de se portar mal. 

Sexta-feira 13

Caro carantonha, tem medo das sextas-feiras 13? Se é supersticioso, acredita em bruxas, e acha que tudo de mau lhe acontece nesses dias, eu aconselhá-lo-ia a ficar em casa, mas não, porque se é assim tão péssimista até o teto lhe pode cair em cima. Faça um pequeno sacrifício e venha para a rua, pode dormir num portal, porque este ano de 2011, o calendário já não lhe vai trazer mais nenhuma seta-feira 13. E já agora, mesmo na rua não jogue tarot, porque aí,o 13 é a carta da morte.
Como não acredito em bruxas, pero que no las ay, no las ay, eu vou prá brincadeira. E aqueles (ou aquelas) que como eu não acreditam, se quiserem divertir-se e acharem que ainda chegam a tempo, rumem até Montalegre, que cada vez mais se afirma como a capital do misticismo e tem pronto um excelente programa cultural.
O meu desejo: para uns, percam o medo; para outros passem bem o dia, que o fim de semana está à porta.

domingo, 1 de maio de 2011

Dia da Mãe


Hoje celebra-se em Portugal o Dia da Mãe. A mãe, essa figura tutelar e tão presente em todos os lares, será que não merece ser acarinhada, lembrada, presenteada todos os dias? Porquê então só fazermos seu, um dia em cada ano? Fica a pergunta. Já estou daqui a ouvir a minha Mãe, nos seus bonitos 90 anos a dizer para a neta, : “o teu pai não me lida nada, só o ouço quando lhe telefono”. Mas ela sabe o respeito que lhe tenho, como a estimo e que a trago sempre no coração. Obrigado Mãe, por te preocupares comigo. É sinal de que estamos vivos.
E para marcar o dia, aqui fica uma cantiga do Zeca Afonso, "Quanto é doce", para mim uma das mais bonitas que ele compôs. Fê-lo, como outras, para a peça “Zé do Telhado” levada à cena pela Barraca.
E também um texto de Almada Negreiros.

Mãe!
Vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! Passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.

Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

   Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
   Quando passas a tua mão pela minha cabeça é tudo tão verdade!