Maria Mamede
Cartas
Quando te escrevo, meu amor
E nunca te escrevo,
Vai a minha alma inteira
Nessas linhas
E escrevo palavras comezinhas
Sem encanto, sem esplendor
Sem poesia,
Palavras
Sem prata de luar
Sem luz do dia
Palavras,
Onde a noite principia
Nas sombras qu dou
A qualquer carta;
Quandop te escrevo, meu amor
Nada te digo
De saudade de ti, de nós
Do mundo
Nem falo
Do luto profundo
Que habita cá dentro
Em minha voz
Nas palavras que calo
Que não canto;
Ayh meu amor
Como dói tanto
Calar
Nas cartas que não escrevo
As notícias que tenho p'ra te dar!
Mas sei
Que as cartas que não escrevo
O vento tas irá levar!..
Amanhã
Quando em mim se enrosca esta agonia
De dor lancinante e sem sossego
É a ti que me agarro e apego
Para ouvir: "Amanhã é outro dia!..."
Quando a noite chega e é fantasia
Num sonho que não quero e que renego
Tu dizes: "Amanhã, é outro dia!"
E a ti me agarro e apego.
Não tires a mão da minha mão
Não deixes de ser a condução
Que necessito p´ra seguir confiante...
Não te apartes de mim; ando sem norte
Nesta vida sê meu braço forte!
Vai negra a noite p´lo futuro adiante!...
Estes dois poemas constam da Antologia DEZSETE da
Edium Editores
C
Sempre que imaginava
Cobria-te de estrelas
E vai-te
Cavalgando um cavalo de vento
Que de crinas soltas, negras como a noite,
Desaparecia no espaço
Voando até outras galáxias...
Agora, que te conheço,
Cubro-te de Sol,
E coroo-te de miosótis!
(Azul e oiro sempre formaram uma combinação perfeita).
Claro que o nosso romance há-de acabar;
Nessa altura, voltarei a cobrir-te de estrelas,
Mas levarei comigo os miosótis!...
Do livro Pelas letras do alfabeto
Nelson Ferraz
Do livro As palavras côncavas-Editora Ausência
Eu tinha uma montanha
azul como as calças de um palhaço
cheia de flores
azuis como olaço de um palhaço
um dia convidei o palhaço
para visitar a minha montanha
e o palhaço vestiu-se todo de azul
e foi
foi um dia lindo
azul como o casaco daquele palhaço
mas o tempo foi passando
azul como tude de um palhaço
e a montanha desapareceu
azul como a saudade de um palhaço
eu tinha uma montanha
azul como a história de um palhaço
cheia de sonhos
azuis como as lembranças
um dia vieram outras cores
para pintar a montanha
e o palhaço escondeu-se no azul
e foi
foi à procura de uma página
azul onde coubesse a vida toda
De Novíssimos, Antologia-Editora Ausência
Aqui ficam alguns poemas da Maria Mamede e do Nelson Ferraz. É só uma pequena amostra daquilo que eles são capazes de fazer. Usem-nos (aos poemas), mas não os abusem (os poemas)
4 comentários:
Ora quanta honra, Vô Miquinhos!!!
Não só por ser a primeirinha, mas também por ter tido a alegria de ver trabalhos meus (e do Nelson) na abertura do teu Blog!
Que posso dizer-te a não ser...
Bem Hajas Amilcar!!!
Que este Blog te dê muitas alegrias!
Beijos da
Maria Mamede
Que bom ouvir alguém que nem sequer conheço, chamar ao meu pai, tão carinhosamente, Vô Miquinhos.
Que posso dizer-te a não ser...
Bem Hajas, Maria Mamede.
E este blog não vai trazer só alegrias, também companhia e reconhecimento.
Bem Hajas Amilcar.
Pedro.
Habituado às palavras e às emoções das palavras, eis que atravessas a ria e afagas outras margens,sem o papel como barco.
Acabou de nascer mais um lugar onde é possível encontrar-te, meu amigo. Eis o "diseur"!
Um abraço dos antigos.
Nelson Ferraz
Obrigado Maria Mamede e Nelson Ferraz, pelo vosso apoio. Gostaria de vos dizer que os poemas publicados não serão aqueles de que vocês ou eu gostamos mais, mas ´~ao simplesmente são os que no momento tinha mais à mão. Espero que sejam complacentes.
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