Para acabar o dia de hoje, textos poéticos breves de Jorge de Sousa Braga, reflexões do autor sobre pintura.
VAN GOGH POR VAN GOGH
Gostaria de ter sido um girassol. Um girassol hirto no seu caule, de longas folhas verdes desajeitadas e uma enorme corola dourada, seguindo cegamente o sol.
Estou só e a minha cabeça explode em milhões de girassois.
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ADÃO E EVA
Adão era polícia numa esquadra vizinha. Nos intervalos dos giros, subia duas a duas as escadas do atelier de Lempicka, despia a farda, e o seu corpo nu e musculado pisava o soalho, como se pisasse o chão do paraíso.
Tal como o outro Adão, desconhecia o chão que pisava e seria incapaz de reconhecer esse corpo nu que arrancava na tela um frémito de prazer a uma Eva desprevenida.
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OS AMANTES
Desde que Magritte pintou os amantes, estes como por magia deixaram de ter rosto. Nos jardins, nos cinemas, no bulício das ruas é frequente ver agora homens e mulheres sem rosto, abraçados.
Todavia, tudo não passa de um equívoco. Sem dinheiro para pagar aos modelos, Magritte optou por cobrir com um lençol o rosto inacabado dos amantes.
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AUTOBIOGRAFIA
A sua paixão eram as rosas. Durante anos dedicara-se a estranhos cruzamentos. Perseguia uma rosa negra.
Um dia devido a um acidente ficou cego. Finalmente o seu universo era uma imensa rosa negra.
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Carantonhas, desfrutem os textos, tenham um bom fim de semana e façam o favor de se portar mal. A vosso gosto
Carantonha- s.f.-contorsão do rosto, esgar, máscara, cara feia, carranca, caraça. * Em criança, na região de onde sou natural, e onde então vivia, quando se brincava ao carnaval, o artefacto que nos ocultava o rosto, era a carantonha porque por norma era coisa feia. O tempo passa, a evolução acontece, e hoje, pelo menos quando jogamos ao carnaval, usamos uma máscara. Ou será que não a usamos todos os dias?
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Distraído
O meu amigo e colega F. Soares, actor, encenador e agora também estudante de teatro (quando for dr. vão pagá-las... e pagar-lhe), homem bom, é um pouco distraído e desorganizado. Depois de ter estado na Secundária de Vilela, não fixei (também sou um pouco ditraído, confesso) o nome da prof. encarregada da biblioteca. Consultei o F. Soares , e ele, sem exitar: Leopoldina. Soube depois que não era. Tinha um nome mais doce, Clementina. A correcção já foi feita na notícia que escrevi. E o Fernando vai continuar distraído.
domingo, 23 de maio de 2010
Poesia na APADIMP
Data, local, evento: maio, 21, sexta-feira; APADIMP-Penafiel; feira do livro. A APADIMP- Associação de Pais e Amigos dos Diminuidos Mentais, Penafiel, organiza todos os anos uma feira do livro aberta à comunidade, e essencialmente à população estudantil, já que fica próxima de duas escolas, uma secundária e uma EB 2/3. E eu estive lá para o encerramento da feira, dizendo poesia. Faltaram duas turmas de alunos das escolas, por terem exames de aferição. Estiveram os utentes da instituição, e também crianças de um infantário de uma freguesia próxima.
Foi uma experiência fantástica trabalhar maioritariamente para pessoas deficientes de todas as idades. Com que atenção me ouviram e interagiram comigo quando isso lhes foi proposto. E a poesia andou à solta durante quase 1 hora. Gostaram. Fui muito acarinhado.Fiquei com vontade de voltar.
Qual quer? *
Voltei a ouvi-los, como acontece quase todos os dias, num noticiário televisivo. Nenhum deles me atrai. Depois do que hoje ouvi dos dois, deu-me para reflectir. Reflecti. Cheguei a uma conclusão.Se um dia, para mal dos meus pecados, tiver que apoiar (melhor, estar de acordo) com um deles, sei qual é. Pelo que ouvi penso que um acredita piamente que as ideias que transmite são capazes de nos trazer uma vida melhor. Do outro, estou firmemente convencido que é tão, tão demagógico, que nem ele próprio acredita na sua demagogia. Então carantonhas, já advinharam a quem me refiro? Não? Então eu digo: Sousa e Louçã. E por aqui me fico.
* verso final de um poema, que, com todo o respeito que o autor me merece, roubei a Carlos Pinhão, que foi jornalista desportivo e também poeta.
* verso final de um poema, que, com todo o respeito que o autor me merece, roubei a Carlos Pinhão, que foi jornalista desportivo e também poeta.
sábado, 22 de maio de 2010
Escola Secundária de Vilela
Na passada 4ª-feira estive na Escola Secundária de Vilela -Paredes, numa sessão de sensibilização à poesia, sessão programada no ambito do Etc-Encontro de Teatro de Cristelo, organizado pelo Grupo de Teatro de Cristelo (um grupo amador, o que é de louvar). A responsável por esta acção foi a professora Carla Carvalho, docente da Escola e elemento do Grupo de Teatro. Foi uma agradável surpresa ver como alunos/as do 7º e 8º anos, portanto de doze e treze anos, se envolveram nesta acção.
A seu pedido, estiveram também alguns alunos mais crescidos, que frequentam a opção Literatura. Todos eles, e bem, foram participantes activos. Agradeço a recepção fidalga de que fui alvo pela Carla Carvalho e pela responsável pela biblioteca, onde decorreu a sessão, professora Clementina, aqui a presentear-me com uma azálea-bonsai
Especial
Quando o aluno vence um dos seus mestres, é porque é mesmo especial. O Special One. Speziale Uno. E é português, carago.
terça-feira, 18 de maio de 2010
Finalmente
Até que enfim (não, não é enfim sós), e para contentamento de muita gente, a lei foi promulgada. Já podem ter a liberdade de casar. De ter muitos filhos não sei! Segundo uma deputada entrevistada, a promulgação "deixou-nos muito felizes". Depois de ouvir isto, uma enormíssima dúvida me inquieta: para que duas pessoas sejam felizes juntas (e aqui não importa que sejam homo ou hetero), é necessário que se casem (uma com a outra, é óbvio)?
Estava para acabar este escrito, e de repente lembrei-me de uma história que se passou numa renomada empresa da cidade, cujo administrador conheço. Passou-se no tempo de seu pai, de quem fui amigo. Na empresa trabalhava uma senhora de pouca instrução, mas de muito saber. Vivia maritalmente com um homem de quem tinha, salvo erro, seis filhos. Um dos directores, católico, periodicamente, instava-a dizendo-lhe mais ou menos assim: - ó senhora fulana, porque é que vocês não casam. Os vossos filhos já são adultos e não se devem sentir bem com a situação..." Em dada altura, já farta de ser interpelada, respondeu asssim: -Ó senhor doutor, Deus disse multiplicai-vos e não casai-vos!"
Estava para acabar este escrito, e de repente lembrei-me de uma história que se passou numa renomada empresa da cidade, cujo administrador conheço. Passou-se no tempo de seu pai, de quem fui amigo. Na empresa trabalhava uma senhora de pouca instrução, mas de muito saber. Vivia maritalmente com um homem de quem tinha, salvo erro, seis filhos. Um dos directores, católico, periodicamente, instava-a dizendo-lhe mais ou menos assim: - ó senhora fulana, porque é que vocês não casam. Os vossos filhos já são adultos e não se devem sentir bem com a situação..." Em dada altura, já farta de ser interpelada, respondeu asssim: -Ó senhor doutor, Deus disse multiplicai-vos e não casai-vos!"
sábado, 15 de maio de 2010
Pré conceitos
Num país de preconceituosos, já ninguém, particularmente uma bela mulher, se pode despir de preconceitos, que é logo punido (neste caso, punida). A professora de música, de 25 anos, com o sensual nome de Bruna, dava aulas numa escola do 1º ciclo, em Mirandela, e só porque se despiu de preconceitos, despindo-se para encher oito páginas da Playboy portuguesa, foi despedida (vestida) pela Câmara. A professora de Actividades Extra Curriculares, quis, com uma actividade extra, melhorar o seu curriculo e lixou-se. Para onde, e para quem, irá agora dar música? Já não se pode ser boa!
Na foto, a prof. Bruna. Como se chamará o cãozinho?
Na foto, a prof. Bruna. Como se chamará o cãozinho?
sexta-feira, 14 de maio de 2010
Gaffe
O Papa já papou, perdão, já passou, passou bem (cumprimentou muita gente e foi muito cumprimentado) e pelos vistos chegou, de regresso, ao seu enclave em Roma, sem incidentes. Ainda bem.
Mas, como costuma dizer-se, no melhor pano cai a nódoa (não, não foi nas vestes do Papa, que se apresentaram sempre de uma alvura irrepreensível). A cidade do Porto, isto é, os que por ela assumiram a responsabilidade desta visita - quer os civis e os eclesiásticos - cometeram uma gaffe imperdoável. Sabendo qual é a linha de pensamento do guardião da moral na Terra, esqueceram-se de resguardar a nudez da Menina Nua, na Avenida dos Aliados (passou por ela duas vezes). Oxalá não venha por aí um decreto pontifício a excomungar a nossa cidade.
A propósito, ou talvez a despropósito, julguem os carantonhas, deixo-vos um texto de Abílio Santos, in pé de cabra nº 10, dezembro de 1992:
"o nevoeiro desceu lentamente sobre a avenida dos aliados envolveu a mulher branca e nua e ficou a babar-se beijando-lhe a cabeça os seios as coxas e só não lhe beijou também o sexo porque ela não abre as pernas"
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