quinta-feira, 30 de abril de 2009

Jornalismo...


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Imagem"roubada", com a devida vénia, a prodygio.livejournal.com

Desde segunda-feira que estou preparado para receber na caixa de correio, como ultimamente tem vindo a acontecer, vindo das mais insuspeitas proveniências, o habitual artigo de opinião, no JN, do novo guru do jornalismo português, o sr. Mário Crespo. Devo dizer que uma ou outra vez já concordei com o que escreveu. Mas comecei a ter sérias reservas quando começou a escrever contra o Governo e mais concretamente contra o PM. Repare-se que digo contra e não sobre. Definitivamente não aprecio o seu estilo televisivo. A fala não é fluente, é arrogante e por vezes insolente. Deturpa e insinua o que, e como, lhe dá na real gana. Mas tem muitos adeptos. Digamos que é o supra-sumo do mau jornalismo que actualmente se faz em Portugal. Esta é a minha opinião. Tenho direito a ela. O mesmo direito que tem o sr. Crespo e os seus colegas, em opinar sobre tudo e sobre todos. O jornalismo que hoje se pratica, usa e abusa despudoradamente da desinformação, traduzida na falta de rigor, ou então, na manipulação com fins inconfessáveis Esta maneira de estar no jornalismo, leva a que me interrogue se os jornalistas, especialmente os que fazem investigação e os que opinam, não deveriam ser submetidos ao “inevitável escrutínio” (expressão usada pelo “inevitável” Vasco Pulido Valente, no Público) a que submetem os atingidos pelos seus artigos? O quarto poder, já que de um autêntico poder se trata, não pode fugir à devassa a que se julga no direito de submeter os outros. E por aqui me fico, pois acho que já gastei cera demais com tão ruins defuntos. Mas não pude resistir à tentação.

sábado, 25 de abril de 2009

LIBERDADE



Para lembrar o dia 25 de Abril, dêmos lugar à poesia, uma das mais poderosas e eficazes armas que contribuíram para derrubar a ditadura.

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen


LETRA PARA UM HINO

É
possível falar sem um nó na garganta
é possível amar sem que venham proibir
é possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

É possível andar sem olhar para o chão
é possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros
se te apetece dizer não grita comigo: não

É possível viver de outro modo. É
possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

Manuel Alegre



«QUEM A TEM…»

Não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.

Trocaram tudo em maldade,
é quase um crime viver.
Mas, embora escondam tudo
e me queiram cego e mudo,
não hei-de morrer sem saber
qual a cor da liberdade.

Jorge de Sena


35 d.a. (depois de abril)

e os manuscritos antigos falam de ti e das pessoas que tu viste
enquanto nascias entre flores, multidões e tinta de jornal


e viste a luz, numa gruta isolada entre a pedra e o mar
enquanto a dimensão da perspectiva era enigma e urgência
e tópico de uma terapia absoluta

e cresceste com adornos impressionistas, exigências compulsivas
e categorias de crise entre a camisa de luxo e o coração doente
e tens a emoção fácil, a norma rebuscada, o espelho relativo
e tens memória paradoxal em “part-time”
cravada na tua alma de medo

estás colado à condição de mudança milimétrica
entre as pernas da consciência e os limites eróticos
da censura tradicional

e preferes escondes o rosto, ficares preso em cartazes
do ontem que não vemos

e as coisas complicam-se quando te chamam:
- abril! abril! abril!

e tu calas a resposta, e tu morres no silêncio
quase estúpido e quase cobarde do sujeito anónimo

e é pena, porque, qualquer dia
ninguém te conhece


Nelson Ferraz


Um dia diferente

amanhã
quando nascer um hino de alegria
em todos os olhares
de todas as crianças

quando o meu sangue vermelho
e a minha boca vermelha
se transformarem

e quando amadurecerem os meus braços
as espigas dos meus dedoos
e os homens finalmente se encontrarem
e se chamarem de novo irmãos

e quando houver em cada pensamento
a raíz futura de um poema
e uma verdade pura em cada beijo
e em cada beijo uma canção de paz

amanhã
meu amor minha pátria meu poema
cantaremos a cada aurora
um dia diferente

Joaquim Pessoa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Dia Mundial do Livro


A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo – Joseph Addison


O quem abaixo se vai ler era para ter sido publicado ontem, mas a net de vez em quando resolve ir dar uma curva e só aparece quando lhe apetece. Apareceu hoje, vá lá.

Hoje (ontem, dia 23 de Abril) comemora-se o Dia Mundial do Livro. Mais um dia que devia ser todos os dias. Ler é fundamental para ter êxito na vida. Todos nós devíamos trazer sempre um livro connosco, para ler aproveitando o estar sentado na sanita (esta sugestão não tem nada de escatológica, já que para a maior parte de nós é o sítio onde lemos os jornais e revistas), a pausa para o café, enquanto esperamos que a namorada saia do cabeleireiro, ou o namorado, do barbeiro (agora é cabeleireiro de homens), quando vamos a uma consulta, sei lá, tantas outras situações. O livro é um objecto fantástico. Tem volume, tem peso, tem cheiro. É um objecto, que embora já tenha eventualmente passado por outras mãos, naquele momento é só nosso. A verdade e a mentira, a alegria e a tristeza, a certeza e a incerteza, o pobre e o rico, o assassino e o benfeitor, tudo o que o autor plasmou no livro está ali, na nossa frente, na nossa mão. E os sentimentos e emoções com que o autor entendeu caracterizar personagens ou situações, são os nossos, naquele momento, em perfeita comunhão com o objecto. Eu sei que hoje, a net, já permite a leitura de muitas obras. Mas não é a mesma coisa. O livro é mais fácil de transportar. O livro físico, é só meu, o livro virtual é de milhares ao mesmo tempo. E um livro para ser bem apreciado tem que ser só nosso. Tudo o que até aqui se escreveu acerca do livro é passível de ser contraditado. Mas é a minha leitura… Descansem os amantes dos livros que a net nunca os substituirá. Veja-se o que aconteceu com a fotografia em relação ao cinema. Ia acabar, mas ainda cá está e cada vez mais pujante. E o cinema também acabaria com o advento da televisão. Acabou? O mesmo vai acontecer com o livro em papel e o livro virtual. Leiamos pois, carantonhas.
Monteiro Lobato (José Bento Monteiro Lobato), brasileiro, nasceu numa fazenda em Taubaté, S.Paulo, em 1882 e faleceu em Julho de 1948. Foi um dos mais influentes escritores brasileiros do séc. XX. Foi o percursor da literatura infantil brasileira e ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo, bem como divertido, da sua obra para a infância, que constitui metade, pelo menos, da sua obra. De resto, escreveu contos, artigos, críticas, prefácios, e um único romance, O Presidente Negro. Quem não se lembra das histórias do Sítio do Picapau Amarelo?

terça-feira, 21 de abril de 2009

A Casa do Sol é a Cor Azul

Imagem poeticamente "roubada" a tintadevida.blogspot.com
Quando me sentei em frente ao portátil para escrever, não tinha qualquer ideia sobre que assunto o faria. Estava neste dilema quando olhei para a estante a meu lado e logo vi um pequeno livro com um título sugestivo que me deu o mote. “A casa do sol é a cor azul” é um cancioneiro infanto-juvenil para a língua portuguesa, do Instituto Piaget. Então vamos falar de poesia. Será que é fácil fazer ou escrever poesia? Ou será difícil? Eu tenho alguma dificuldade em responder a estas questões. Diz-se que Portugal é um país de poetas, mas eu acredito mais que seja um país de muita gente que escreve versos, pois dou razão ao poeta brasileiro Mário Quintana quando diz que “escrever versos é fácil. Mais difícil é escrever poesia”. Mas acredito também na sinceridade e na pureza das crianças, quando dizem, como a M. Carlota de 7 anos, “para fazer versos é só fazer coisas bonitas e já está”. Ou então como o Vasco, de 5 anos, quando diz que “A poesia é feita aos molhos ou em verso”. E digam lá se “A casa do sol/é a cor azul”, os dois versos que dão o título a esta crónica e ao livro, não é poesia!
E a delícia dos versos que a Cláudia Inês, de 3 anos, escreveu, “Se eu fosse lua/dormia sozinha/Se fosse sol/dormia com as luas todas”, ou então da mesma criança, “A lua dorme/enroladinha nas estrelas/E acorda/com as festinhas do sol”. Mas os poetas que se esquecem, também sabem como resolver os seus problemas: “deixei os beijinhos/nas calças novas/mas trouxe um abraço”, como diz o Sebastião de 4 anos. E a Nádia, de 3 anos, a atrevida, quando diz “tenho um beijo grande/guardado na tua boca”. Mas poeta, poeta, é o Fábio de 3 anos. Vejam só: “Eu nunca tinha visto/o arco-íris/porque a Susana/nunca tinha passado/por este sítio”. E o que dizer do supra-sumo da desfaçatez, o João Nuno , de 9 anos? Vejam só: “Chamo-me João Nuno/Poetas há milhões/Mas igual a mim/Só o Luís de Camões”. E agora, caros Carantonhas, leiam poesia, porque na casa da poesia cabem todos, avós e netos, pais e irmãos, professores e alunos, enfim toda a gente, já que a poesia tem uma casa que não é grande nem pequena, pois tem sempre o tamanho que tem cada poema. Então, Carantonhas, toca a entrar…

domingo, 19 de abril de 2009

Fumo...

Fotografia obtida num restaurante, na Srª da Lapa - Sernancelhe

Onde se prova que a lei anti-tabaco não foi só de iniciativa do Governo, teve inspiração divina. Cuidem-se fumadores, pois vosso não será o reino dos céus.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Ai se a voz nos doesse!...

Há maldições que tardam em nos abandonar. Continuamos a ser pequenos. A pensar pequeno. E pelos vistos assim vai continuar a ser. Quando me refiro a nós quero dizer o país. Portugal. Um país que já foi dono do mundo. Pelos vistos a nossa pequenez é endémica. Mas a que vem esta arenga? Eu explico. Hoje, melhor, ontem dia 16, foi o Dia Mundial da Voz que se comemora desde 2002. Ideia de um médico português (hellas). Pela primeira vez ontem (acabou já hoje) teve lugar um espectáculo de Gala, a lembrar a data, que foi transmitido para todo o mundo pela RTP, e se realizou em Lisboa, no Teatro de S. Carlos. E então acabei de assistir àquilo que julgava já não ser possível.Que revela a nossa pequenez. No S. Carlos comemorou-se o Dia Mundial da Voz, com um espectáculo de fado!! O (dito) de Lisboa. Dos apresentadores, um tinha a voz roufenha, a outra dizia "támêm". E num dia mundial da voz transmitido para todo o mundo, não houve fado de Coimbra, não houve um cantor, (ou cantora) lírico, não houve sequer alguém a dizer um poema. Tudo demonstrações de voz. Só houve vozes roufenhas (c0mo convém ao fado de Lisboa). Valha-nos, que houve uma ou outra clara e intelegível. E então a assistência convidada, nem vos digo nem vos conto. A "fina flor" lisboeta, a representar a nossa pequenez. Valha-nos S. Pancrácio!

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O sonho esfumou-se...

Imagem "roubada" com a devida vénia a f.c.p.blogs.sapo.pt

"Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos" - William Shakespeare

Sonhar não é proibido (ainda). Sonhar é sempre possível, ainda que sonhar acordado, nos possa causar alguns dissabores. Foi o que nos aconteceu. Mas foi bom ter sonhado durante uma semana. Pelo que fez nos dois jogos, o campeão merecia ter passado. Se como diz o poeta, "o sonho comanda a vida" vamos continuar a sonhar com o próximo ano desportivo. Pela minha parte só lamento que "mouros" vermelhos e verdes exultem com a eliminação do rival que lhes pode possibilitar a entrada no mundo dos campeões.
É o espírito de porco dos "campeõezinhos" frustrados. E por aqui me fico

sexta-feira, 10 de abril de 2009

A "reza"

Hoje vou escrever sobre a “reza”. Calma, carantonhas, ninguém vai ajoelhar, nem erguer as mãos ao céu e rezar. Embora possa, porventura, haver alguma relação, esta “reza” é outra. É assim a modos que um jogo com algo de pagão e de religioso. Eu explico: Por altura da Páscoa, em algumas zonas do país, - pelo menos na região onde nasci, assim era - acontecia a “reza”, que hoje caiu praticamente em desuso. Continuo a explicar: o jogo tinha só dois oponentes, mas cada um deles podia jogar com quantos parceiros entendesse. As condições, eram previamente estabelecidas e o prémio, era normalmente amêndoas, em quantidade combinada. Consistia em “mandar rezar” o outro, isto é, aquele que primeiro visse o oponente dizia “reza” e então “ficava por cima”, quer dizer, tinha vantagem. Isto, uma vez por dia. Aquele que na altura da chegada da aleluia, (que actualmente é à meia-noite de sábado, mas antigamente era às onze horas de domingo), “estivesse por cima”, era o vencedor. Uma das condições mais curiosas que normalmente os jogadores se impunham, era de que não se podia mandar rezar debaixo de telha, e então, cada um, quando saía de casa levava sempre consigo um pequeno pedaço de telha para, na eventualidade de poder ser surpreendido, o pôr em cima da cabeça e assim se safar. O jogo além de proporcionar algumas “espreitadelas” por vezes embaraçosas, e que não cabe aqui esmiuçar, era muitas vezes, especialmente por parte dos rapazes, pretexto para uma aproximação que pudesse proporcionar o início de um namoro, que não raras vezes dava em casamento. Não tenho elementos fiáveis para poder afirmar que em tempos recuados o jogo tinha carácter social cujo objectivo era o início de uma relação amorosa, e o “mandar rezar” era o “castigo” por se ter deixado apanhar, mas recordo-me de há muito tempo ter lido algo que me faz crer que a ideia era essa. E agora por aqui me fico, pois estou de partida para a minha aldeia, para as festas da Páscoa, e quero ver se ainda consigo “andar à reza” com alguém.
Mesmo sem amêndoas, ovos, ou coelhinhos (as imagens negaram-se a entrar neste escrito), desejo-vos, Carantonhas, FELIZ PÁSCOA, e até para a semana.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

9 de Abril - Batalha de La Lys

Faz hoje 91 anos que o exército português, sofreu em tempo de guerra, a sua maior derrota, desde a batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. Foi na 1ª Guerra Mundial, na Batalha de La Lys. As tropas portuguesas, o CEP (Corpo Expedicionário Português), estavam integradas no exército britânico e compreendiam cerca de 20 mil homens. Defendiam o vale da ribeira de La Lys, na região das Flandres, Bélgica. A ofensiva alemã deu-se entre 9 e 29 de Abril de 1918 e incidiu precisamente nesse sector. As tropas portuguesas em apenas quatro horas de batalha, perderam cerca de 7 500 homens, dos quais 327 eram oficiais, entre mortos feridos prisioneiros e desaparecidos. Razões várias contribuíram para este descalabro, entre as quais o fraco armamento, a chamada a Lisboa de oficiais com experiência de guerra, alguns deles por favor político e que não voltaram à Bélgica, o fraco moral das tropas, o recuo das tropas britânicas, deixando expostos os flancos do CEP.
Foi também nesta batalha que se distinguiu o soldado "Milhões", cuja história fica para outro escrito. Hoje, fica aqui a singela homenagem aos que não regressaram.

Cachorrinhos vendem-se

Imagem "roubada" a lisboacity.olx.pt

Volto hoje ao tema da esperança, para vos trazer uma comovente história de amor que "roubei" (já são dois "roubos" no mesmo escrito) a um livro curiosíssimo da Lyon Edições com um título também curioso e apelativo, "O Pequeno Livro da Canja de Galinha para a Alma- Histórias para abrir o coração e reavivar o espírito". Então aqui vai a história contada por Dan Clark: "Um rapazinho apareceu por baixo do letreiro do dono da loja "Cachorrinhos vendem-se"

- Por quanto vai vender os cachorrinhos? - perguntou.

- Entre 30 a 50 dólares - respondeu o dono da loja.

- Tenho 2 dólares e 37 cêntimos disse o rapazinho. Posso vê-los?

O dono da loja sorriu e assobiou, e do canil saíram cinco bolinhas de pelo. Um dos cachorrinhos ia ficando bastante para trás. O rapazinho distinguiu imediatamente o cachorrinho atrasado e que coxeava e disse:

- O que é que tem aquele cachorrinho?

O dono da loja explicou que ele não tinha o encaixe da anca e que seria sempre coxo. O rapazinho ficou excitado: - É esse cachorrinho que eu quero comprar.

O dono da loja comentou: - Não, não queres comprar esse cachorrinho. Se o quiseres, dou-to.

O rapazinho ficou muito aborrecido. Olhou bem nos olhos o dono da loja e disse: - Não quero que mo dê. Esse cachorrinho vale cada cêntimo, tal como os outros e vou pagar o preço total. Vou dar-lhe 2 dólares e 37 cêntimos e 50 cêntimos por mês até o ter pago.

O dono da loja insistiu: - Não vais querer comprar este cãozinho. Nunca vai conseguir correr e saltar contigo como os outros cãezinhos.

A isto, o rapaz respondeu, baixando-se, e levantando a perna da calça, mostrou a perna esquerda muito torta e defeituosa, presa por um grande aro de metal. Olhou para o dono da loja e respondeu suavemente:

- Bom, eu também não corro muito bem e o cachorrinho vai precisar de alguém que o compreenda".

Bonita história e excelente lição de vida.

Sem falsa moral, que bom seria termos exemplos destes todos os dias. Talvez, quem sabe, construíssemos um mundo melhor.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Um dia destes...

Hoje apetece-me falar de esperança, e trazer aqui um excelente poema de Egito Gonçalves que tão bem nos fala dela. E a ideia (o apetite) surgiu depois de ter assistido a um extraordinário jogo de futebol (desculpem lá os carantonhas que não gostam, mas por uma vez teve que ser...) que a equipa do meu clube (pois, pois, o F.C.PORTO) disputou em Londres com um dos mais poderosos clubes do mundo. Aqui, a esperança mantém-se. Mas por outro lado é preciso que a esperança renasça no quotidiano das nossas vidas. Que renasça nos operários da fábrica que não sabemos se vai fechar; que renasça nos operários da fábrica que já fechou, nos desempregados à procura de emprego; nas famílias a quem a doença roubou um ente querido; no estudante que por uma qualquer razão não teve êxito neste ano de estudo, no estudante que por não ter média teve que fazer um compasso de espera, ou que teve de entrar num curso que não era o desejado. No actor (ou actriz) a quem ainda não surgiu, ou surgiu pouco, a oportunidade de agarrar um trabalho. E que a esperança renasça em tantas, tantas outras situações que se mencionadas tornariam este escrito bastante mais extenso do que já vai estando.
Por fim, se queremos que a esperança renasça em tempo de crise, é preciso que todos, mas todos, (e este todos, não deveria ser necessário lembrá-lo, quer dizer patrões, empregados, políticos, governantes, etc.) dêmos as mãos e rememos certos e para o mesmo lado. E então, um dia destes beberemos todos a cerveja da alegria e da amizade, e o dia seguinte estará sempre aberto. Que assim se cumpra e assim seja.



MELOPEIA PARA UM FUTURO TALVEZ SIM

Um dia destes abrir-se-ão as portas
e entraremos todos na cidade
Um dia destes teremos um domingo
e haverá água límpida e potável

Um dia destes contaremos contos
de terrores antigos de perseguições
e poremos os verbos no passado
felizes de escaparmos ao massacre

Um dia destes o silêncio quebrará
para sair uma canção de amor
Um dia destes a noite abrir-se-á
e tu serás o rosto descoberto

Um dia destes poremos no zoológico
os últimos hipopótamos da cidade
e cortaremos o resto dos tentáculos
que nos mantêm à mercê do grande polvo

Um dia destes as palavras serão públicas
e não escreverão penas de morte
não servirão para mentir atraiçoar
para ferir os amigos ou matá-los

Um dia destes construiremos um museu
com os retratos do medo e da tortura
do diabo do crime da miséria
na galeria dos antepassados

Um dia destes teremos tempo de juntar
os bocados de nós próprios e colá-los
Um dia destes não seremos obrigados
a sempre recusar de mão fechada

Um dia destes tu serás tangível
e os meus dedos poderão desapertar-te
Um dia destes os quatro cavaleiros
estarão na cadeia sem cavalos

Um dia destes não será com juras
clandestinas que a esperança se fará
Um dia destes a fome não poderá
comprar de novo lâminas de barba

Um dia destes abrir-se-ão as portas
e dançaremos nas ruas da cidade
Um dia destes beberemos todos
a cerveja da alegria e da amizade

Um dia destes secarão as lágrimas
e teremos cartas vindas da Europa
Um dia destes a vida será fértil
e o dia seguinte estará sempre aberto

Meus amigos meu amor
Um dia destes...

Egito Gonçalves

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Lembrando Mário Viegas


Madrugada de 1 de Abril de 1996. Protagonizando a última das inumeráveis cenas de uma curta vida (48 anos), morria na unidade de infecto-contagiosas d Hospital de Santa Maria, um dos maiores, se não o maior actor da sua geração - MÁRIO VIEGAS. Há treze anos, portanto. De seu nome completo António Mário Lopes Pereira Viegas, nascido em Santarém. Foi aluno da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se iniciou no teatro universitário. Passou também pelo Teatro Universitário do Porto. Frequentou o Conservatório Nacional e profissionalizou-se no Teatro Experimental de Cascais. Fundou três companhias de Teatro, sendo a última, a Companhia Teatral do Chiado, a menina dois seus olhos. Representou peças de inúmeros autores como Pirandello, Strindberg, Eduardo de Fillipo e Beckett, o seu autor de eleição, do qual também encenou. Fez também cinema.Filmes como Sem Sombra de Pecado, A Mulher do Próximo, A Divina Comédia, O Rei das Berlengas e Kilas o Mau da Fita, de certo modo a sua coroa de glória. Com um extraordinário domínio da palavra, foi um excelente divulgador de poesia, como extraordinário "recitador" que era (era assim que gostava de ser conhecido). Foi premiado diversas vezes pela Casa da Imprensa. Recebeu o Prémio Garrett da Sec. Estado da Cultura, como Melhor Actor. Distinguido em Festivais de Teatro e Cinema. Em 1994 foi ordenado Comendador da Ordem do Infante, pelo Presidente da República, Mário Soares. Dele disse José Saramago: - "Mário Viegas morreu. Era um cómico que levava dentro de si uma tragédia. Não me refiro à implacável doença que o matou, mas a um sentimento dramático da existência que só os distraídos e superficiais não eram capazes de perceber, embora ele o deixasse subir à tona da expressão às vezes angustiada do olhar , e ao ricto sempre sardónico e amargo da boca. Fazia rir, mas não ria. Pouca gente em Portugal tem valido tanto".
Conheci-o vagamente (ofereceu-me cópias dos poemas de Tossan, que ele dizia admiravelmente), mas sei que lá onde se encontra continua a fazer as suas CENAS e a espalhar o seu talento. Como diria Vinicius, de quem tanto gostavas, SARAVÁ, MÁRIO.

Ir para o maneta


No passado domingo foi lembrado no Porto, o 200º aniversário do terrível desastre da Ponte das Barcas, em que morreram afogados centenas de portuenses, fala-se em cerca de cinco mil, quando fugiam das tropas francesas, que invadiam a cidade. Esta era a 2ª invasão, comandada pelo marechal Soult. Estas invasões deram origem a várias expressões que entraram no domínio popular, e que ainda hoje se mantêm. Ora, um dos comandantes das tropas francesas da primeira invasão comandada pelo general Junot, era um general de nome Louis Loison, homem cruel, autor de numerosas pilhagens e actos violentos, que torturou e matou numerosas pessoas. Este general tivera em tempos um acidente de caça que lhe decepou o braço esquerdo, sendo por isso conhecido pelo maneta. Quando, por exemplo, se queria assustar uma criança que se portasse mal, dizia-se-lhe: -"Olha que vais para o maneta!". No seu significado original queria dizer ir para a tortura ou para a morte. Hoje em dia, "ir para o maneta", quer dizer dar cabo de alguém ou de alguma coisa; destruir; estragar-se; perder-se e não ter recuperação. Depois disto, espero que não me mandem para o maneta!