Foto de A. Mendes
Eh pa, aqui tinhas menos dois anitos!
O neto mais velho fez ontem anos. Por isto ou por aquilo, não tive oportunidade de o parabenizar (como estamos em rodagem para o acordo ortográfico, fica bem aplicar uma palavra oriunda do Brasiu). Como para mim o dia ainda não acabou, faço de conta que ainda estamos a 24, apesar de já estarmos nas 3h53 de 25.
Para ti, Ricardo, que sei que compreendes a mensagem, vou plasmar (outra palavra bonita) aqui uma prosa poética de José Fanha e um poema das Odes de Ricardo Reis, um heterónimo de Fernando Pessoa como sabes.
Primeiro José Fanha:
ASAS
Nós nascemos para ter asas, meus amigos.
Não se esqueçam de escrever por dentro do peito: nós
nascemos para ter asas.
No entanto, em épocas remotas, vieram com dedos
pesados de ferrugem para gastar as nossas asas como
se gastam tostões.
Cortaram-nos as asas para que fôssemos apenas
operários obedientes, estudantes atenciosos, leitores ingénuos
de notícias sensacionais, gente pouca, pouca e seca.
Apesar disso, sábios, estudiosos do arco-íris e de coisas
transparentes, afirmam que as asas dos homens crescem
mesmo depois de cortadas, e, novamente cortadas,
de novo voltam a ser.
Aceitemos esta hipótese, apesar de não termos dela
qualquer confirmação prática.
Por hoje é tudo. Abram as janelas. Podem sair.
Agora Ricardo Reis:
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Pôe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a Lua toda
Brilha, porque alta vive.
E não resisto a terminar com os dois primeiros versos (de quatro) de uma outra ode de Ricardo Reis:
Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.