Hoje há poemas e não poema. É uma tentativa de recuperar os poemas que faltaram, por um ou outro motivo, em alguns dias. Diga-se que faltaram aqui poemas com outras visões do Natal. Não foi intencional, pois a escolha foi aleatória. Vamos então aos poemas. O primeiro tem como autor o poieta e dramaturgo Francisco Ventura
AMANHÃ É NATAL
A neve ouviu aos ventos: «É Natal!»
E revestiu planícies e montanhas
De brancura ideal.
As árvores sentiram: «É Natal!»
E balançaram ramos resplendentes
Num bailado irreal.
As árvores escutaram: «É Natal!»
E envolveram os campos e as almas
Num canto sem igual.
Os astros escreveram: «É Natal!»
E inundaram a terra sua irmã
Duma luz celestial.
Os anjos repetiram: «É Natal!»
E trombetas e vozes se expandiram
Num coro divinal.
Os homens exultaram: «É Natal»
E comeram, comeram, comeram
Até fazer mal.
O segundo poema é de Miguel Torga
HISTÓRIA ANTIGA
Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.
E, na verdade, assim acontecia,
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Ou não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.
Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.