quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Tudo começou quando...

Tudo começou quando o Todo Poderoso lançou o nosso globo no espaço e lhe chamou Terra. Pois é: tudo começou com um lamentável erro de denominação. Como é que se compreende chamar Terra a um planeta que na sua composição é dois terços líquida? É evidente que a Terra devia chamar-se água. Depois de fazer o dia, a noite as árvores e os minerais, Deus fez todos os animais. Isto é, todos não! Basta a gente olhar pró camelo para perceber que aquilo é uma obra de  grupo. Depois de fazer todos os animais, Deus resolveu fazer o primeiro homem. E fez. Mas como não registou a invenção, hoje qualquer idiota se acha no direito de fazer o mesmo. Agora, reparem que Deus era um tipo realmente modesto: ao fazer o 1º homem, fez Adão, um tipo bronco, um simplório, em suma, um camponês analfabeto. Pergunto muitas vezes a mim próprio porque é que, com o seu poder, não fez um general de 4 estrelas?**

Pois é, não fez um general e voltou a errar. Fez um coelho passeante, um relvinhas, um porteiro, um  vitorino au ralenti, um macedónio, e outros equivalentes. Em suma, fez uma salada podre que vamos ter que engolir por muito tempo, com muitas dores de estômago e de cabeça.

** Texto de Millôr Fernandes


sábado, 12 de novembro de 2011

Formosura

Hoje, para um fim de semana bem disposto, apetece-me reincidir com poesia de Augusto Gil.
Aqui vai:

Mater pulchra filia pulchrior*

Entraram na conversa a filha e a mamã.
A mãe era bonita. A filha era-o também.

- Esta senhora é sua irmã?
Disse eu interrogando a mãe.

E a mãe teve um sorriso de contente,
E a filha um sorrisinho de quesília...

- Que coisa comovente
É o amor de família!...

*pulcritude: beleza; formosura

Augusto Gil nasceu no Porto (Lordelo do Ouro) e faleceu na Guarda, cidade beirã onde viveu a maior parte da sua vida. Advogado formado pela Univ. de Coimbra, foi Director Geral das Belas Artes  e dirigiu vários jornais, onde escreveu. Foi influenciado pelo Parnasianismo e Simbolismo, e a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica.

Carantonhas, tenham um bom domingo e por favor leiam poesia.

Uma fotografia

Nos meus arquivos fui encontrar esta bela fotografia. A fotografada, em pose com o seu quê de mistico, não é  a "jovem Lília abandonada", mas lá que parece, parece, "estar pedindo a Deus: -
Ao menos um alferes de infantaria!...
Nada disso. O que atrás fica dito é o pretexto para deixar aqui um pequeno poema de Augusto Gil, do seu livro "O canto da cigarra - sátiras às mulheres". A fotografada é a minha amiga Ana, excelente fotógrafa, que também diz e escreve bem poesia.

Jovem Lília abandonada

Sempre que a vejo a contemplar os céus
Com ar de lírica neurastenia,
Dá-me a impressão de estar pedindo a Deus:
- Ao menos um alferes de infantaria!...

Carantonhas, tenham um bom fim de semana, de preferência relaxados e lendo boa poesia.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

São Martinho

No São Martinho prova o teu vinho/No São Martinho bebeo vinho deixa a água para o moínho/No São Martinho come-se castanhas e bebe-se vinho/Pelo São Martinho comem-se castanhas e bebe-se vinho.

Estes são alguns dos muitos provérbios alusivos a quadra de São Martinho que associam as castanhas ao vinho. Castanhas porque estamos no tempo delas e fazem um bom lastro para o vinho novo que se presume estar pronto para ser bebido.
Mas o santo deu origem também a outros provérbios que nada têm a ver com castanhas e vinho.Todos conhecerão o "verão de S. Martinho são três dias e mais um bocadinho". Este ano o São Martinho não foi de sol mas de chuva, dando razão ao provérbio que nos diz que "se o inverno não erra o caminho, te-lo-ei pelo S. Martinho".
A sabedoria popular não deixa passar a data em vão, e vai daí a veia poética do povo solta-se e as quadras ao santo são inúmeras. Umas mais moralistas outras mais irónicas ou satíricas. Aqui ficam algumas.

Se a palavra riqueza
S. Martinho fosse tua
De certeza que pobreza
Não andaria na rua

S. Martinho amou sorrindo,
Tanto os ricos como os pobres
Despiu a capa, vestindo
Os sentimentos mais nobres

Só quero p´ra namorada
Mulher feita, S. Martinho.
- Da uva bem sazonada
É que sai o melhor vinho.

No dia de S. Martinho
Olhei-te e não te esqueci.
Fui à feira atrás do vinho,
Vim da feira atrás de ti.

Se quem bebe muito vinho,
S. Martinho, faz pecado,
Tenho o inferno certinho,
Mas vou p´ra lá consolado

Deu S. Martinho o capote
Ao pobre, por caridade.
Se ele visse o teu decote
Dava-te ao menos metade.

S. Martinho, vem cá baixo
Pois senão isto dá "raia",
Anda dar a tua capa
Às moças de mini-saia.

S. Martinho se viesse 
A este mundo outra vez,
Não tinha pano que desse
P´ra tapar tanta nudez!

Quando vais ao S. Martinho
Com trajes indecorosos,
Os olhos do bom santinho
São dois discos luminosos.

Gostaram? Desfrutem. Até amanhã.

Olha a capícua

Onze de Novembro de 2011. Dito ou escrito assim demora um pouco.Na escrita, para abreviar, escrevemos a capícua, 11-11-11.  Há quem acredite que as capícuas trazem azar, mas há também os optimistas que acreditam que estas são de bom augúrio. O dia de hoje passado,quer acreditem ou não nos bons ou maus augúrios das capícuas, descancem os espíritos porque só daqui a mil anos a capícua se repete. Nos anos 11 dos centenários não há capícua, ou se se quiser ser benevolente poderemos dizer que é uma capícua imperfeita. E não é que por sorte ou azar escrevi sete vezes a palavra capícua. Ó valha-me Nossa Senhora das Coisas Impossíveis.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Outono


"Uma forma de me despedir" é o nome do poema. O autor é Ruy Belo. Dito na sessão de outubro,(o tema foi Outono) das Quartas Mal Ditas, no Clube Literário do Porto.

Desabafos

Somos um país de coscuvilheiros, maldizentes e invejosos. Defeitos que já veem de muito longe, e que agora cada vez  se refinam com o desgoverno mais ao jeito de "quanto mais se baixam mais se lhe vê o cu", deste governo de mentirosos "troikados". Como podemos viver aqui? 

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Serviço completo

Vai para quatro anos, fui com gente amiga dar uma volta por terras de Miguel Torga. Depois da visita à casa do poeta, e de uma longa conversa com o padre companheiro de caçadas de Torga, partimos do pequeno largo do centro da vila, para uma visita à capela da Senhora da Azinheira, capela em estilo barroco, datada do séc. XVII.No início da rua de saída do largo, a nossa guia recomendou-nos que uns metros à frente olhássemos com curiosidade para o lado esquerdo da rua. A curiosidade estava num grande letreiro junto a um prédio, que anunciava a actividade comercial a que se dedicavam os proprietários. Alguns de nós não pudemos conter o riso (outros um sorriso). O letreiro dizia: pronto a vestir/florista/agência funerária. Serviço completo portanto.
Tempos depois, numa visita a Tarouca,  deparámos com uma situação que nos fez lembrar aquela outra, e que podem constatar na fotografia acima. Aqui, ao defunto oferecia-se transporte e acompanhamento musical, Nada mau. Pelos vistos por aquelas bandas, o defunto não precisa de se deslocar a muitos sítios para tratar do funeral. Ali usa-se o três em um, que a interioridade pesa.