domingo, 23 de janeiro de 2011

Eu, devedor...

Foi noticiado, (pelo menos eu li num jornal diário) que eu gastei, no ano passado, mais  €1 420 do que devia. Por isso, os meus credores, não me encontrando - apesar de eu andar sempre visível, com o 1,80 metros até onde cresci, foram cobrar a dívida ao Estado. Sou, portanto, devedor ao Estado. Ora, como entretanto consegui aforrar uns euritos (à porta das nossas igrejas ainda se consegue um bom pecúlio), gostaria de saldar a dívida. Como desconheço quem são os meus credores, lá terei de me dirigir ao Estado. Como não sei onde o Estado mora, a não ser que alguém me ajude, vou ter alguma dificuldade nem cumprir. Mas sei, isso sim, que o Estado me encontrará, demore o tempo que demorar, pois sabe onde moro. Nessa altura, como eu penso que as câmaras municipais fazem parte do Estado, entidade abstrata, mas concreta quando cobra, terei oportunidade de lhe dizer que o Estado é caloteiro (sem aspas), pois uma câmara a quem prestei um serviço na área cultural em 2009, pagou passado um ano; uma outra, pagou metade de um serviço prestado também em 2009, e não se sabe quando liquidará o restante. Enfim, o mar bate nas rochas, e quem se aleija...

O "garante"

Daqui a poucas horas se saberá já quem é o nosso novo/velho "garante", como eles gostam de dizer e de ouvir dizer acerca deles, embora todos saibamos que não nos garantem coisa nenhuma. Porque não sabem ou não querem. Garantias, só para eles. Depois de uma "campanha" inócua, aquele que for ocupar o "assento" que lhe permitirá, se tiver capacidade, exercer o seu magistério de influência, não pode perder a oportunidade que os portugueses lhe oferecem. Se todos os candidatos conhecessem "Homem, abre os olhos e verás" um pequeno/grande poema (pequeno na forma, grande no conteúdo) de Armindo Rodrigues, tenho a certeza de que seriam mais felizes, e nos fariam também mais felizes e crentes num futuro melhor. Ao novo "garante", apetece-me pedir com veemência que o traga sempre consigo (não necessita decorá-lo) no bolso, faça dele a sua "biblia", e que em cada momento de indecisão, de incerteza ou dúvida, puxe por ele e o releia. Não duvido que se sentirá mais confiante.
Nós, portugueses agradeceremos.
Aqui fica o poema:

Homem,
abre os olhos e verás
em cada outro homem um irmão.


Homem,
as paixões que te consomem
não são boas nem más.
São a tua condição.


A paz,
porém, só a terás
quando o pão que os outros comem,
homem,
for igual ao teu pão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Tributo a Eugénio

Se ainda estivesse entre nós faria hoje 88 anos. Chamou-se José Fontinha Rato. Chama-se Eugénio de Andrade, porque o poeta não morre.


Cheira bem: a café fresco, ou antes, a café misturado com o cheiro das violetas que o pequeno vendedor pusera em cima da minha mesa, insistindo para que lhe comprasse um ramo. A quem o daria? Disse-lhe isto mesmo: que vivia no Porto como quem vive na ilha do Corvo, não tinha ninguém a quem dar uma flor. O rapazito, com olhos escuros de potro manso, percebendo que a minha recusa era débil, não arredava pé. Acabei por comprar-lhe as violetas e oferecê-las à lua, acabada de surgir no canto da praça, branca, redonda, carnuda, que, apesar de puta velha, ao aceitá-las, se pôs da cor das cerejas.

OS AMANTES SEM DINHEIRO

Tinham o rosto aberto a quem passava
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.
Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.
Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos,
mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

LETTERA AMOROSA

Respiro o teu corpo:
sabe a lua-d'água
ao amanhecer,
sabe a cal molhada,
sabe a luz mordida,
sabe a brisa nua,
sabe ao sol dos rios,
sabe a rosa-louca
ao cair da noite
sabe a pedra amarga,
sabe à minha boca.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Deserdados da sorte

Caras e caros carantonhas, gostava de pôr à vossa consideração um problema que nestes tempos de crise me atormentam. Qualquer ajuda será bem vinda. Cá vai: A minha senhora tem uma reforma de € 300 00.Eu também estou reformado e como não posso trabalhar para nos sustentar aos dois, gostaria que me dissessem se reuno condições para me acolher sob a asa protectora do presidente candidato a presidente.
Carantonhas, não liguem, o que aqui está escrito é fruto de uma imaginação delirante (será?), apeteceu-me apenas brincar aos deserdados da sorte.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Quando os anjos nos visitam


Caros carantonhas, hoje apeteceu-me dar-vos música. E nada melhor que trazer aqui uma bela jovem que se deixou tocar pela magia da música e é uma eximia executante. Chama-se Ana Vidovic. Nasceu na cidade croata de Karlovac. È uma virtuosa da guitarra, que começou a aprender a tocar aos 5 anos.
Deliciem-se. É um bom incentivo para começar a semana de trabalho.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Fadices




Fotografia de Anaas


Sessão da Onda Poética de ontem, em Espinho, em que a parte temática foi preenchida por poesia de João Habitualmente. Depois desta, como é usual, acontece o momento dos espontâneos, no qual cada um dos presentes, tertulianos ou não, pode ler o que entender. O momento do Carantonha-Mor foi preenchido com a leitura de um texto deliciosamente absurdo, de Mário Henrique-Leiria.

A BOA FADA, A MENINA DOS CABELOS LOUROS E O SAPINHO ENCANTADO

A menina dos cabelos louros, estava toda contente a brincar no jardim, quando lhe apareceu um sapo aos pulinhos, muito engraçadinho.
- Já sei quem és, disse logo a menina, satisfeitíssima com o acontecimento.
- És o príncipe encantado que vem para casar comigo. Quem me dera ter agora aqui uma boa fada que te desencantasse…
Ouviu-se um estoiro e a Boa Fada apareceu logo, a sacudir-se da poeira da nuvem que a trouxera (era uma nuvem da Siderurgia, é evidente). Virando-se para a Menina que estava embasbacada – o caso não era para menos – pronunciou-se:
- Menina dos Cabelos Louros, vou fazer a tua vontade. Vou desencantar já, este sapinho tão engraçado. Tirou o pau da manga, disse “gorumzungoro”, e deu uma bordoada certeira na cabeça do bichinho.
O sapinho fez “oin” e caiu logo para o lado, que é o que acontece aos sapos que levam uma cacetada em cheio. Morto.
A Boa Fada desapareceu imediatamente, que é também o que acontece sempre às Boas Fadas que por aí andam às baldas, a fazer coisas.
Nada disso impediu o Menina dos Cabelos Louros, de casar, anos mais tarde, com o “Gutierrez” de “Máquinas & Ferramentas, SARL”.
E tiveram cinco sapinhos muito bonitinhos, todos de cabelos louros, vejam lá!

Anatomia



Fotografia de Anaas

Sessão da Onda Poética de  ontem, em Espinho, (título da sessão: nice to eat you) abordando a vertente erotismo da poesia e textos de João Habitualmente.Aqui leio um texto inédito.

ANATOMIA
                
Gosto de estudar anatomia, é das coisas boas da vida, daquelas que dão alegria. Em pequeno fiz autópsias a frangos de aviário na banca da cozinha, serrei caracóis apanhados no sono aos pés dos jarros, esventrei salamandras de bojo laranja caçadas na mina, ajudei minha mãe a tirar com um alfinete a pevide às galinhas, operei sapos que ficavam moribundos ao serem calcados em noites de chuva. E, lição das lições, brinquei aos médicos com a Cacilda – era já o gosto da anatomia por mim abaixo, anunciando-se com a inexplicabilidade duma vocação. Gosto, pois, dessa alegria, a do corpo-a-corpo da anatomia.
Mas não estudo por manuais – fi-lo uma vez e nunca mais. Nem pelos atlas do corpo humano, reduzem a maravilha que somos a um inerte fulano. Não gosto de grandes calhamaços. Calhamaços não: são maçudos e escaramaços. Estudar por canhenhos tais é coisa do antes, hoje está ultrapassada e obsoleta. O calhamaço é espesso e lê-lo é lento - Obsolento.  Também não gosto de estudar por esqueletos. É frio e lúgubre estudar por esqueletos, são uma carga de ossos e dá uma carga de trabalho estudar a matéria osso a osso – ser médico é luz e não a triste vida de quem mergulhou num poço. O esqueleto olha para nós com aqueles buracos nos olhos e tem a expressão muito inexpressiva – tão inexpressiva que mete impressão. Estudar pelos seus ossos é um não sair do sítio, uma trepidação contra o marfim do seu corpo de sepulcro. Os esqueletos são o tempo parado, antiquados e vagarosos – esquelentos. Gosto de métodos mais velozes, desses que dá Deus a quem mostra as nozes. Gosto de estudar anatomia, ai isso gosto, gosto de a devorar. Em casa da Rita: num instante se despe, num instante me excita. E ali ficamos pela tarde a fio a contemplar o milagre: frondosos seios no lugar da mirrada grade costal, uns lábios túmidos cobrindo a cremalheira mandibular, fartas coxas a tapar o gelo oblongo dos fémures. Ah, e que dizer à vibrante região das ancas, à planície serena do ventre, ao triângulo triunfante do púbis, chamava-lhes o manual a bacia! Quem pode assim estudar anatomia?

                                                                          
                                                                                             

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Chegar aqui

Hoje, na Biblioteca de Gaia, um grupo de cidadãos independentes, apoiantes da candidatura de Manuel Alegre à Presidência, organizou uma sessão de poesia do cidadão-poeta Manuel Alegre. Estive lá. Acabo de chegar. Fui convidado para abrir a sessão com o poema "Apresentação". Além deste, disse também o poema "Chegar Aqui". É um poema que nos fala do nosso passado, também do nosso presente, e se interroga quanto ao futuro. É um poema intemporal, já que foi escrito há mais de quarenta anos.
 Ei-lo:

CHEGAR AQUI

É claro que tudo isto é uma chatice
Estávamos habituados a acreditar em qualquer coisa
Fosse a Terra Prometida O Dia de Amanhã ou A Esperança
Assim chamada para ser sabe-se lá o quê
Brasil ou África talvez Europa
Havia uma fé uma fezada uma saída
Havia aquela luz de que falou Jorge de Sena
Esperança era o seu nome
Uma pequena luz Não isto

A aventura partiu para outros lados
A retórica aumenta
A vida baixa

Não há lugar para a beleza
Não há tempo
Eis a cidade com seu rosto desolado
Degradação é o nome destes dias
Amigos que desgraça etc. António Nobre
Ou Camilo Pessanha
Eu vi a luz
Em um país perdido
Mas agora nem essa É só chatice
E perdição

E navegámos tanto tempo
São Gabriel Santa Maria Frol de la Mar
Não há dúvida temos um passado
Talvez de mais
Talvez tanto que não deixa lugar para o futuro

Mas fomos pelo mar chegámos longe

E agora Portugal que será de ti
Se não formos capazes de chegar
Aqui

 Carantonhas, tenham um bom fim de semana. Aproveitem-no bem, se possível lendo poesia.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O primeiro poema de 2011

Ora aqui está o primeiro poema de 2011. É um poema do poeta brasileiro Mário Quintana. Fala-nos da vida e do seu percurso    no mapa do tempo. Mas será que a vida corre no tempo, como nos diz o poeta? Fica a dúvida. E o número 666. O número da besta.Que de alguma forma está também relacionado com o tempo.

SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ªfeira...
Quando se vê, passaram 60 anos...
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,
eu nem olhava o relógio.
seguia sempre, sempre em frente ...

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.
Mario Quintana ( In: Esconderijo do tempo)

domingo, 2 de janeiro de 2011

Bom começo de 2011


Para quem gosta de futebol e dos Gato Fedorento, que bom começar o ano dando música.
Confesso que não conhecia esta versão e...gosto. Espero que haja carantonhas que gostem também. E se não for pedir muito, que gostem também dos Blind Zero. Por mim, e já que as coisas estão bem encaminhadas, vou tentar decorar o poema em inglês para poder cantá-lo lá mais para o meio do ano. Viva a música e viva o futebol.