quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Depedida


Estamos a despedir-nos de 2009 que não deixou saudades. Esperemos que o 2010 que aí vem seja pelo menos um pouco melhor. Se todos formos capazes de interiorizar e seguir o conselho do poeta Armindo Rodrigues, então teremos um mundo e um ano melhores. Que assim se cumpra

Homem
Abre os olhos e verás
Em cada outro homem
Um irmão

As paixões que te consomem
não são boas nem más
são a tua condição

A paz porém
só a terás
Homem
quando o pão que os outros comem
for igual ao teu pão.

Assim seja.
Adeus 2009
Sê bem vindo 2010

Bom ano para todos os meus amigos carantonhas.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

POEMA PARA ACABAR O DIA (Com Sophia)



Para acabar o dia, aqui fica um poema de Sophia de Mello Breyner


ESTA GENTE

Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o molhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

USOS

Esta manhã, enquanto à mesa tomava o pequeno almoço, dei comigo a pensar na evolução das coisas, nas modas e até nas influências culturais que cada povo absorve. Por cá, sabe-se como fomos influenciados pela cultura francesa e um pouco pela inglêsa. Como essas culturas entraram primeiro pelos grandes centros urbanos e paulatina e progressivamente se foram instalando nas vilas e aldeias. E então pensei: "olha, estou a tomar o pequeno almoço (petit dejeuner) !". Pois, cá está! Em jovem, na minha aldeia, antes de ir para a escola e depois para o colégio, eu almoçava. Depois seguia-se o jantar. Por vezes, a meio da tarde, quando a brincadeira ou os deveres, não o faziam esquecer, vinha a merenda. Agora lancho (do inglês lunch). À noite, antes da deita, ceava-se. Agora pequeno-almoço, almoço, janto, e por vezes ceio. Nada mal, não senhor. Influências! Enquanto isto, baixo o olhar e vejo que tenho vestidas umas calças porqueiras. Admirados? Não estejam. Antes da moda copiar e massificar tais calças, estas eram normalmente, e só, usadas pelos guardadores de porcos alentejanos. Daí o "porqueiras". A moda pegou e passámos a usar calças de bombazina (nem pensar, nos meios burgueses urbanos, usar porqueiras). Depois o gosto refinou e agora as porqueiras, passaram a chamar-se calças de veludo. É no que dá os usos e as modas. Acabei o pequeno almoço e deixei de pensar nestas coisas, porque já sei que amanhã para o jantar de fim de ano vou vestir umas calças de ganga.

O Jardineiro Míope

Estava há pouco a acabar de jantar, e de repente, bruummmm, um estoiro enorme. Foi um trovão, mesmo aqui por cima.O Nico (o meu gato), que me fazia companhia, assustou-se, saltou do aparador para a mesa, da mesa para o aparador, do aparador para o chão, deixou uma restolhada e foi esconder-se. Diante de tal estoiro, eu cá, pensei "eh pá, o tempo está zangado.Ou será «Deus», que lá em cima não está a gostar do que se passa cá em baixo?".Para os ateus será o Tempo, para os cristãos será Deus. Mas o que é facto é que o mau tempo, em especial a chuva não nos deixa e em vez de benefício, está a tornar-se um prejuízo. Já me desviava do trovão. Depois de ouvir o estoiro, lembrei-me de um poema de Sidónio Muralha. Se aceitarmos que Deus, que segundo dizem tudo vê, é a entidade que comanda tudo, não teremos dificuldade em acreditar no que escreveu Sidónio Muralha no seu poema O Jardineiro Míope. Mas que terá a ver um jardineiro, com uma trovoada. Vamos ver. 


O JARDINEIRO MÍOPE


O jardineiro míope levanta-se às cinco horas e vai dar alpista
às flores
E a seguir rega os pássaros
e enquanto vai regando vai dizendo:
“que bem que cantam as minhas papoulas”
Um dia, a Liga das Senhoras Mais Bondosas do Mundo,
teve um gesto malvado
e ofereceu óculos ao jardineiro míope
que ajustou implacavelmente as imagens
perdeu toda a poesia
e viu tudo de maneira tão clara
que teve a ideia escura de pedir emprego de funcionário público
enquanto a presidente da Liga
da Liga Mais Bondosa
mais bondosa do mundo
subia para o céu
e se sentava à mão direita de Deus Padre
que lhe enfiou uma bofetada divina
que todos nós ouvimos em forma de trovão.

Boas trovoadas, carantonhas









quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Poema para acabar o dia


O poema de Sebastião da Gama que aqui fica, pelo tema, pelos apelos que faz, tem tudo, para ser considerado um poema de Natal. Eu assim considero. Espero que os carantonhas que tenham a paciência de o lerem, também assim pensem.

A MEUS IRMÃOS


Batam-me à porta
os que andam lá por fora, à neve;
batam
os que tiverem frio ou sede;
os que sintam saudades de um carinho;
os desprezados;
os que há muito não vêem uma flor
e encontram só poeira no caminho;
os que não amam já nem já os ama
ninguém;
os esquecidos de como se sorri;
os que não têm Mãe…


Batam-me à porta os Desgraçados,
os que têm os dedos calejados
dos dedos ásperos da Miséria,
os que travam desordens nas tavernas
e brincam às facadas,
os que não têm abrigo nem Amigo,
os que o Destino escarrou,
os que não foram crianças,
os que nasceram num bordel
e por quem passam todos sem olhar.


Batei à minha porta, Irmãos,
entrai,
que eu tenho Amor pra vos dar…


E se eu também bater
(que eu também choro
muitas vezes, lá por fora;
também amargo tristezas;
que eu também sou Desgraçado)…
pois se eu bater,
vinde logo depressa abrir-me a porta;
aquecei-me no meu lume;
dai-me do pão que eu parti
e do Amor que vos dei…


Deixai-me estar entre vós
como se fosse um de vós,
que eu também sou Desgraçado…


Ah! Se eu bater
(mas é preciso que eu possa
ter força ainda nas mãos),
por Deus abri a porta, meus Irmãos,
como se a casa fora vossa!...


Sebastião da Gama, poeta português, natural de Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal. Concluiu o curso de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947, e ainda nesse ano iniciou a sua actividade de professor, que exerceu em Lisboa, Setúbal e Estremoz. 
Sebastião da Gama ficou para a história pela sua dimensão humana, nomeadamente no convívio com os alunos, registado nas páginas do seu famoso Diário (iniciado em 1949). Literariamente, não esteve dependente de qualquer escola, afirmando-se pela sua temática (amor à natureza, ao ser humano) e pela candura muito pessoal que caracterizou os seus textos. Atingido pela tuberculose, que causaria a sua morte precoce, passou a residir no Portinho da Arrábida, com a panorâmica serra da Arrábida a alimentar o culto pela paisagem presente na sua obra. 

domingo, 20 de dezembro de 2009

Amarelo lucilante

Eu esperava que esta noite o céu adormecesse colorido de azul. Infelizmente, o sangue rubro das trauliteiras papoilas saltitantes, com a ajuda de um lucilante amarelo não o permitiram. Mas um dia destes o azul refulgirá e nem jesus obstará a que uma qualquer salomé nos traga a cabeça do batista numa bandeja dourada. Esperemos.

Provincianismo

Acabo de chegar de Paredes, onde estive na Casa da Cultura, a coordenar a sessão quinzenal do programa "Família", com a habitual peça de teatro. A sessão de hoje foi dedicada aos filhos dos funcionários da Câmara, entidade responsável pelo referido programa. De realçar que aqui são os filhos que levam a restante família ao teatro. Lá esteve a Direcção dos Serviços Sociais da Câmara, e também o seu vereador da Cultura e Vice-Presidente. O Presidente, nem vê-lo. Como não vi ainda o tão propalado mastro com 100 metros de altura,  para a bandeira nacional, onde o município se propõe gastar (melhor dito, será "desperdiçar") um milhão de euros, presumo que o presidente estivesse ausente, a tratar de tão relevante propósito. Dá pena ver até onde pode ir o provincianismo pacóvio de alguns. E é pena porque na cultura e no entretimento (é, é assim mesmo) o concelho dá cartas a muitos outros com mais poderio económico e financeiro. Enfim, idéias!

sábado, 19 de dezembro de 2009

Poema para acabar o dia

Hoje, o poema para acabar o dia, que julgo ter alguma relação com as "Solidariedades" anteriores, é de um dos meus poetas de eleição - António Gedeão, ou como eu costumo dizer, Rómulo António de Carvalho Gedeão.


Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,

e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração.
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos". 


Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas (a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue ao circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz nos olhos em bisel cortados.
Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?


António Gedeão, Poesias Completas (1956-1967)

Solidariedade ll


Terminou a Conferência de Copenhaga, sobre as alterações climáticas e aquecimento global que afectam o nosso planeta. Infelizmente com resultados quase nenhuns.As grandes resoluções que deveriam ser tomadas para tornar esta bola azul mais habitável, foram, como veem sendo, adiadas para as calendas. Porque as grandes potências, as que mais responsabilidades têm na matéria, mais uma vez não foram capazes de se entenderem para tomar medidas capazes de parar a degradação, que vai tomando conta deste pequeno ponto do universo, onde vivemos Também aqui a solidariedade andou longe, limitando-se a uma promessa de compromisso de ajuda aos países em desenvolvimento. É caso para dizer, com alguma brandura, "raios os partam"!

Solidariedade?

Estamos na época do ano em que mais se apela à solidariedade. E se pratica também. Não tenho nada contra. Mas incluo-me no grupo daqueles que pensam que a solidariedade se devia praticar o ano inteiro. Porque a solidariedade não é de épocas, é de vontades. No entanto, vejo alguns apelos com não pouca intranquilidade e alguma estupefacção. Porque são feitos, conduzidos e patrocinados por grandes empresas, que ao fazê-lo apelam  ao consumo, seja de bens perecíveis ou imateriais. E quem paga essa solidariedade? Claro, é sempre o mexilhão, aquele a quem os bem falantes, os bem-de-vida, os opinadores, os políticos, os grandes empresários, chamam de "povo". A bem do bem estar de todos, quem devia pagar essa solidariedade eram os grandes grupos económicos. Não preciso de dizer porquê. E por aqui me fico, desejando um bom domingo aos carantonhas amigos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Para começar o dia (sem neve)


Com uma "brasa" assim não há neve que resista, mesmo que se chame Neve Campbell.

Poema para acabar o dia (com neve)


A neve chegou. Em força. De certo para ficar. E para falarmos dela. De certo para proporcinar bonitos postais. A neve, que para os poetas é também uma fonte de inspiração. E quando lá fora o termómetro marca 8º, para acabar o dia, aqui fica o conhecido poema de Augusto Gil, Balada da Neve.

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim.

É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...,

Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.

Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudade, Deus meu!

Olho-a através da vidraça
Pôs tudo da cor do linho.
Pasa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pèzitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los
Primeiro bem definidos,
- Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza...
- E cai no meu coração.


E para acabar, em jeito de desafio, deixo uma sugestão: tentem ler o poema (vá lá, só a primeira estrofe, para não se tornar muito dificil) só com vogais, sem consoantes. Brrr, tá frio!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Poema para acabar o dia



O poeta Alexandre O'Neill, além de bom poeta, era também um bem intencionado "malandro". Vejam como ele joga com as palavras, neste breve poema. È tão breve que se chama mesmo Breve.

BREVE

Vamos?,disse ele
Não!, disse ela
Que há?, disse ele
Nada!, disse ela
Então..., disse ele
Adeus, disse ela

Solidariedade?

Eu também quero ser "figura pública" (ou será figura pública?), pronto. E "famoso" também (será que não o sou já?). E quero vir noticiado no jornal, quero ter a mesma oportunidade que os gabrieis, as sónias e as marizas deste país. Perguntarão, se o carantonha-mor, estará doido. Não, não está! Passo a explicar: li num jornal que as famosas personagens ofereceram roupa usada à iniciativa "Solidariedade à Medida", para ser distribuida por instituições de apoio social. Ora eu, que por acaso tenho cá em casa, para doar, uma quantidade razoável de roupa usada, e não só, pois como a barriga foi crescendo e a cintura alargando, também as há novas, sinto-me no direito de ser publicitado, para que saibam da minha intenção altruista. Mas para isso tenho que ser figura pública, não é verdade?
Então carantonhas, por que é que esperam? Comecem já a patrocinar uma "petition on line" (até esta porra tem que ser em inglês!) para o carantonha-mor se tornar famoso. Há muita gente necessitada à espera de roupa usada. Que raio de país este, em que até para se ser solidário tem que aparecer o nome no jornal! Apetecia-me dizer mais sobre estes gestos de solidariedade bacoca e pretensiosa, mas fico-me por aqui. Fica o desabafo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Tributo a Ary dos Santos

"Cabotino, espectaculoso, truculento, corajoso como poucos, cabeça alevantada, punho cerrado e erguido, olhar de fogo, a chispa indomável de uma labareda interior que o consumia"
Assim começa o elogio fúnebre de José Carlos Ary dos Santos, escrito por Batista Bastos, no Diário Popular de 19-1-1984. Passa hoje mais um aniversário do nascimento (7-12-1937)

"Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo, dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lanzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
poeta castrado não."

Foi um poeta de mão cheia, talentoso, com uma facilidade de escrita admirável. As palavras que escreve são sempre musicais.Há uma cadência musical em tudo o que escreve, mesmo na poesia livresca, digamos, aquela destinada a ser publicada em livro.

"...
Original é o poeta
que chega ao despudor
de escrever todos os dias
como se fizesse amor.
Esse que despe a poesia
como se fosse uma mulher
e nela emprenha a alegria
de ser um homem qualquer."

As suas cantigas e poemas reflectiram um tempo, uma época, um amor, um encontro e um desencontro, uma furtiva lágrima, escritas com o "irrespeito que lhe era natural, com a irreverência que lhe era comum" (com o escreveu Batista Bastos).
Um dia disse ao Fernando Tordo: -"Ó puto, escreve uma música onde deu possa meter muitas palavras." Tordo foi descansar e quando, de manhã, chegou ao pé de Ary disse-lhe, trauteando uma espécie de melodia: -"Acordei com esta melodia na cabeça e com a palavra "tarde" a martelar a melodia". Então Ary agarrou na caneta, no papel, e escreveu - em hora e meia - este fantástico poema, com que finalizamos o nosso modesto tributo:

ESTRELA DA TARDE

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca tardando-lhe o beijo morria.
Quando à boca da noite surgiste na tarde qual rosa tardia
Quando nós nos olhámos, tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos, unidos, ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde demais para haver outra noite, para haver outro dia.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram.
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram
E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo morreram.

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça
E o meu corpo te guarde.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria
Ou se és a tristeza.
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza!

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Poema para o dia de hoje

Está quase a acabar-se o dia. Penso que será bem acabado com um poema de um nome grande da poesia portuguesa, que tem andado um pouco arredado das tertúlias poéticas. Para desgosto dos que apreciam a sua poesia. Aqui fica um poema de Natália Correia. O meu obrigado à Mystic por me a ter lembrado.


Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.

Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à bainha de um cometa.

Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.

Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Amigos parte ll

Chegou o momento de revelar a razão pela qual estes escritos ,que deveriam ter acontecido ontem, só hoje aqui estão. É que depois do almoço com colegas e amigos, à noite fui ao teatro. E o teatro acabou já o dia de hoje tinha entrado. E ao teatro fui também ver colegas e amigos. Lá estavam todos, e todos, diga-se de passagem, desempenhando a contento o personagem que lhe foi atribuído. Alguns com quem nunca trabalhei, e outros com quem já tive o gosto de contracenar. E no fim saí feliz com o trabalho que vi. Excelente em termos de encenação e de desempenho. Obrigado aos meus amigos. A peça é o Otelo, de Shakespeare, um trabalho da ACE/Teatro do Bolhão, encenado pelo japonês Kuniaki Ida. Vale a pena uma deslocação à Academia Contemporânea do Espectáculo (ACE), na Praça Coronel Pacheco. Vão por mim

OS AMIGOS

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham;
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria -
por mais amarga.

Eugénio de Andrade

Amigos parte l

Este escrito deveria ter acontecido ontem aqui no blog. Já saberão porque não. Ontem foi, para mim, um dia cheio. Foi um dia de rever amigos. Todos colegas - de profissão - mas só alguns amigos de peito. Todos já na reserva. Foi o dia em que aconteceu um daqueles dois ou três almoços anuais onde habitualmente nos encontramos. Alguns de nós já não se viam há algum tempo, porque por isto ou aquilo, nem sempre é possível estarmos todos. E então, num restaurante de Matosinhos, saboreando bom peixe, todos saboreámos também boas - e algumas menos boas, mas essas em menor número - recordações. Vieram à baila as "gafes" que por vezes aconteciam, algumas delas e ainda bem presentes no nosso anedotário. E também as coisas boas que profissionalmente fizemos, os laços que fomos cimentando, e as pedras no sapato que (felizmente nem todos) tivemos que aguentar. Como é que está a família, já tens netos, e quantos, o que é que fazes agora, as perguntas do costume, uns não fazem nada, outros vão buscar e levar os netos à escola, um vai prá quinta onde se entretém com a sachola, outros ainda, fazem aquilo que sempre gostaram de fazer fora da profissão. E chegámos todos à conclusão que felizmente ainda estamos vivos. Bem, muitos de vocês sabem como são estes almoços. Até ao próximo.

AMIGO


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra amigo.

"Amigo" é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
"Amigo" é o contrário de inimigo!

"Amigo" é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, practicada.

"Amigo" é a solidão derrotada!

"Amigo" é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

domingo, 29 de novembro de 2009

Para acabar o dia em paz


O Carantonha escrevinhador, pede licença aos quatro carantonhas que habitualmente o seguem, para fazer gazeta hoje. Mas não quer acabar o dia sem deixar mais um poema. Desta vez um poema de esperança, de Sophia de Mello Breyner Andresen.


A paz sem vencedor e sem vencidos

Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos
A paz sem vencedor e sem vencidos
Que o tempo que nos deste seja um novo
Recomeço de esperança e de justiça
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Erguei o nosso ser à transparência
Para podermos ler melhor a vida
Para entendermos vosso mandamento
Para que venha a nós o vosso reino
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

Fazei Senhor que a paz seja de todos
Dai-nos a paz que nasce da verdade
Dai-nos a paz que nasce da justiça
Dai-nos a paz chamada liberdade
Dai-nos Senhor a paz que vos pedimos

A paz sem vencedor e sem vencidos

sábado, 28 de novembro de 2009

Poema para acabar o dia

O dia acabará bem com um poema de António Gedeão. A escolha recaiu no conhecido (espero)

LÁGRIMA DE PRETA

"Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.

Ensaiei a frio
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio."

Carantonhas, bons sonhos.

"Futeboleiros", divirtam-se

Já aqui falei dele, há uns dias, quando escrevi sobre António Aleixo. Chamava-se, artisticamente, Tossan, nome de batismo António Santos. Era artista plástico e escrevia poesia de pendor surrealista e humorístico. Aviso aos "futeboleiros": o poema que vai ficar aí em baixo não tem nada que ver com o derby lisboeta que hoje se disputou. Era para ter sido já posto aqui no blog, mas a circunstância que o legitimaria gorou-se. E porque tenho comigo uma cópia manuscrita e assinada, de onde faço a transcrição, entendi que hoje ficaria bem aqui, numa homenagem ao futebol.
Instalem-se, carantonhas, e usufruam. Uma sugestão:procurem ler o poema ao ritmo de um jogo de futebol. Verão que se divertem

ODE AO FUTEBOL

Rectângulo verde
meio de sombra
meio de sol
vinte e dois em cuecas
jogando futebol
correndo
saltando
ziguezagueando
ao som dum apito
dum homem magrito
também em cuecas
e mais dois carecas
com uma bandeira
de cá para lá
de lá para cá

"Bola ao centro
bola fora
fora o árbitro"!
~
E a multidão
lá do peão
gritava
berrava
gesticulava
e a bola coitada
rolava no verde
rolava no pé
de cabeça
em cabeça
a bola não perde
um minuto sequer
e zumbindo no ar
como um besoiro
toda redonda
toda bonita
vestida de coiro

O árbitro corre
o árbitro apita
o público grita
bola nas redes

Laranjadas
pirolitos
asneiras
palavrões
damas frenéticas
gordas
esqueléticas
esganiçadas aos gritos
todas à uma
todos ao um
ao árbitro roubam o apito

Entra a guarda
entra a polícia
os cavalos a correr
os senhores a esconder
uma cabeça aqui
um pé acolá
ancas
coxas
pernas

cabeças no chão
cabeças de cavalo
cavalos sem cabeça
com os pés no ar
fez-se em montão
a multidão.

E uma dama excitada
que era casada
com um marido
distraído
no meio da bancada
que estava à cunha
tirou-lhe um olho
com a própria unha

À unha, à unha!
Ânimos ao alto!...
E no fim
perdeu-se o campeonato!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Rei, mulheres, e...

Em 27 de Novembro de 1807, com as tropas da Iª Invasão francesa já dentro de Portugal, e numa jogada de antecipação da corte, o príncipe regente D. João, que viria a ser coroado rei como D. João VI, e a restante família real, "fogem" para o Brasil. Instalou-se no Rio de Janeiro, tornando-a a capital do que vem a ser sonhado como Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. D. João VI era o segundo filho de D. Maria I. Estava habituado a entregar-se à caça e a "percorrer os conventos", totalmente despreocupado com os negócios públicos, que se lhe tornavam indiferentes. Assumiu a regência do reino em 1792, por sua mãe, a rainha D. Maria I, ter enlouquecido. Casou com D. Carlota Joaquina de Bourbon, filha de Carlos IV de Espanha por procuração - a princesa tinha então 10 anos - em 1785, mas o casamento só foi consumado em 1790.

O poeta brasileiro, Raimundo Calado, escreveu um poema, "D. João VI e a mulata", com o qual caracteriza a faceta do rei mulherengo e gordo. Aqui fica:

D. JOÃO VI E A MULATA

Quando a corte de D. João VI
chegou a Paquetá
tudo servia de pretexto
para sussurrar e criticar
certa mulata que havia lá!
Dizem que ela era um perigo
que ela era uma tentação.
E que um marquês de nome antigo
desdenhava do rei,
não cumpria a sua lei,
para ser só dela o cortesão...

Mas quando alguém o censurasse
pedindo ao rei que a exilasse
pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha
de frango ou de galinha
e sempre respondia:
- Já lhes disse que aqui em Paquetá
eu sigo as leis da corte de Lisboa.
- E não me digam que a mulata é má
porque eu decreto que a mulata é boa.
- E não me digam que a mulata é má
pois eu decreto que a mulata é boa.

Certa noite muito escura
a moça se assustou
vendo surgir uma figura
gorda a ofegar
que sem falar
nos gordos braços logo a apertou.
Ela sentiu-se muito aflita
como dizer que não
Até na treva era bonita.
E lá fez de conta
que ficava tonta
sem saber quem era seu D. João.

Mas quando alguém o censurasse
pedindo ao rei que a exilasse
pelo mal que fazia,
D. João VI trincava uma coxinha
de frango ou de galinha
e sempre respondia:
Já lhes disse que aqui em Paquetá
eu sigo as leis da corte de Lisboa
E não me digam que a mulata é má
porque eu já sei que a mulata é boa.
E não me digam que a mulata é má
porque eu já sei que a mulata é boa.

Carantonhas, bom começo de fim de semana, e se puderem fazê-lo prolongar-se, aproveitem-no bem.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Mário Cesariny (1923-2006)

Mário Cesariny (Mário Cesariny de Vasconcelos, foi pintor e poeta, considerado o principal representante do surrealismo português.
Foi o criador, em Portugal, da técnica designada "cadáver esquisito", que consiste na construção de uma obra poética por várias pessoas, num trabalho em cadeia criativa, em que cada um dá continuidade, em tempo real, à criatividade do anterior, desconhecendo, ou conhecendo apenas parte do que este criou.

Faleceu em 26 de Novembro de 2006.


TODOS POR UM

A manhã está tão triste
que os poetas românticos de Lisboa
morreram todos com certeza

Santos
Mártires
e Heróis

Que mau tempo estará a fazer no Porto?
Manhã triste, pela certa.

Oxalá que os poetas românticos do Porto
sejam compreensivos a pontos de deixarem
uma nesgazinha do cemitério florido
que é para os poetas românticos de Lisboa
não terem de recorrer à vala comum.

Factos

Iª Guerra Mundial - Neste dia do ano de 1917, a 2ª Divisão do Corpo Expedicionário Português, assume, na frente de guerra, a responsabilidade da sua parte do Sector Português.

Ficamos com um pensamento de Albert Einstein: - "Não sei com que armamento se combaterá a Terceira Guerra Mundial, mas a Quarta Guerra Mundial será combatida com paus e pedras"

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não é por nada

Não é por nada...

QUASE ELEGIA

Ainda terás nome?
Esse que te dei, chama
ou asa, ainda te pertence?

Se tens ainda nome
por que não respondes? por que não
te aproximas para respirar

comigo o mesmo sol, o mesmo riso?
Também a transparência,
claro rumor de tílias, morre

quando se morre?
ou só morre a espessura dos dias,
o peso do ar?

Com as mãos, com os olhos, seja
com o que for, dentes ou sílabas,
escavarei o chão até romper

a água - para sempre acesa.

... mas apeteceu-me acabar o dia com um poema do Eugénio de Andrade.
Votos para amanhã: CARPE DIEM

Bento Espinosa (1632-1677)

Continuo a pensar que não percebo nada das coisas da filosofia (não deveria escrever Filosofia?), mas confesso que nutro especial admiração pelos pensadores que se devotam ou se devotaram (alguns deram até a vida por ela - vide Inquisição) ao seu estudo e defesa das suas ideias. Mas também penso que ainda sei o suficiente para perceber que se houvessem sido aceites as teses defendidas, vai quase para 350 anos, por Bento Espinosa, hoje ninguém se "chatearia" com Saramago por este se "meter" com Deus e falar do dogma da crueldade divina. Perguntarão (e têm razão para isso):"e o que tem o Espinosa a ver com o Saramago?" Com o pouco que sei, vou tentar responder. Espinosa foi um profundo estudioso da Bíblia e do Talmude (compilação de leis e tradições judaicas). Defendia que a Bíblia era uma alegoria que não deve ter leitura racional e que não exprime a verdade sobre Deus. Para Espinosa, Deus e a natureza são a mesma coisa. Deus é uma emanação da Natureza e do Universo, a Natureza é que produz tudo o que existe. Deus é produtivo, não criador. Perceberam?
Resta dizer que Bento (Baruch, na sua forma hebraica) Espinosa nasceu em Amesterdão em 24 de Novembro de 1632, filho de judeus portugueses - da Vidigueira - que se haviam refugiado na Holanda, fugidos à Inquisição, por serem cristãos-novos. Em 1656 foi expulso da Sinagoga Portuguesa de Amesterdão, em virtude das ideias que defendia. Morreu em Haia, em Fevereiro de 1677, vitima da tuberculose.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Direitos da Criança

Era uma vez...
... e se existisse um país pintado com muitas e variadas cores, onde os lugares fossem jardins e as ruas tivessem nomes de flores, e os sonhos se pudessem tornar realidade?
Olha, lá estou eu a sonhar! Se houvesse um país assim, seria o país ideal para as crianças crescerem e se fazerem gente. Pronto, já sei, não deixa de ser um sonho.Pois se as Nações Unidas (unidas?) só há 50 anos (feitos hoje) publicaram a Declaração dos Direitos da Criança, e levaram mais 30 anos (1989) na publicar a Convenção que fez dela lei, quem sou eu para me pôr para aqui a divagar?
Tem este introito uma razão. É ela a intenção de vos dar a conhecer um bonito texto-poema do meu amigo Antero Monteiro, em que ele sintetiza de um modo fantástico os direitos da criança, e que utilizámos no nosso trabalho O Semeador de Palavras, junto de escolas do 1º ciclo.
Eis o poema:

DIREITOS DA CRIANÇA

A criança tem direito a ter um nome e uma nação
Tem direito a não ter fome e a ter pão
Tem direito à liberdade
Tem direito à igualdade
Tem direito à educação
Tem direito a ter amor e compreensão seja qual for a sua raça, a sua cor ou religião
Tem direito ao tratamento
Tem direito à amizade e à protecção na negligência, crueldade e exploração
Tem direito à segurança
Tem direito a ser criança

E se eu soubesse que as crianças liam este blog, dir-lhes-ia, como o fazia nas escolas: Façam com que se cumpra esta declaração.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Peúgas


Hoje, ao passar os olhos sobre as notícias na comunicação social, deparei com uma que, por associação de ideias, me lembrou um texto de Jorge de Sena, escrito na fase de estadia nos EEUU.

A notícia referia-se ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.O Governo propõe-se apresentar o diploma, mas vai também providenciar alterações na lei da adopção, de forma a que não seja possível por casais homossexuais. A notícia resumida. Agora a história de Jorge de Sena, citada de memória, mas garanto que com as palavrinhas todas. Só a pontuação pede diferir. É, de resto, uma história inofensiva. Cá vai:


"Depois que acabara o party em casa do sujeito que o dera, e foram saindo todos, uma das convidadas que se esquecera (ocasionalmente?) dos cigarros, voltou atrás a buscá-los.

Abriu a porta e recuou pasmada.

O dono da casa e um dos convidados, estavam estendidos no tapete, nus, e de peúgas,

Até hoje, uma só pergunta a inquieta: - Porquê de peúgas?"


E por aqui me fico. Que vos aproveite...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Abraçar é...

Hoje de manhã acordei bem disposto e com uma vontade enorme de que o dia me corresse bem, pois tinha combinado com o João sem Medo acompanhá-lo nos seus encontros com a Fada dos dois Caminhos, com o Homem sem Cabeça, com a Menina de Cristal, o Gramofone com Asas, o Príncipe de Orelhas de Burro, o Rocinante (esse mesmo, o cavalo de D. Quixote), a Menina dos Pés Ocos, a Pedra, e muitos outros. Frente ao espelho, sorri para ele, como faço quase todas as manhãs, ele sorriu para mim, (ou seria a minha imagem a sorrir para mim?) e eu disse-lhe:-Espelho meu, espelho meu (não, não lhe perguntei nada, eu já sei que sou o mais bonito!) hoje acordei tão bem disposto que vou abraçar todas as pessoas que encontrar na rua. O espelho abriu-se num largo sorriso, ficou do tamanho de toda a parede e assentiu com a cabeça (seria eu reflectido, a acenar?). Mas eis que, catrapuz, lá vem a ZON estragar-me o dia: telefone avariado, chamada p'raqui, chamada p'racolá, o saldo do celular a voar, corridas às lojas. Resultado:toca a desembolsar, telefone novo e dia estragado. E, zangado como estava, lá se foram os abraços. Mas para que os meus caros carantonhas não fiquem desapontados, aqui fica um texto muito bonito sobre o abraço:

ABRAÇAR É


Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver.
Precisamos de oito abraços por dia para manutenção.
Precisamos de doze abraços por dia para crescermos.

Virgínia Satir

"Abraçar é saudável. Ajuda o sistema imunológico, cura a depressão, reduz o stress e induz o sono. É revigorante, rejuvenescedor e não tem efeitos secundários desagradáveis. Abraçar é um remédio miraculoso.
Abraçar é natural. É orgânico, naturalmente doce, sem ingredientes artificiais, não é poluidor, é amigo do ambiente e 100% motivador.
Abraçar é o presente ideal. Óptimo para qualquer ocasião, divertido de dar e receber, mostra atenção, vem em invólucro próprio, e é totalmente devolvível.
Abraçar é practicamente perfeito. Não tem pilhas que se gastem, é à prova de inflação, ,não engorda, não tem pagamentos mensais, é à prova de roubo e não está sujeito a impostos.
Abraçar é um recurso sub-utilizado com poderes mágicos. Quando abrimos os nossos braços e os nossos corações, incentivamos os outros a fazerem o mesmo.
Pense nas pessoas da sua vida. Há algumas palavras que queira dizer? Há alguns abraços que queira dar? Está à espera, na esperança de que alguém peça primeiro? Por favor, não espere! Tome a iniciativa!"

Charles Faraone
In O Pequeno Livro da Canja de Galinha para a Alma

Vá lá, tome a iniciativa e venha de lá esse abraço, que eu estou de saída para o Púcaros. para uma sessão de poesia. Até amanhã.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

E hoje estou feliz

Hoje fui mais uma vez, almoçar com o meu colega Nelson Ferraz. E voltámos a falar das Aventuras de João Sem Medo. Por coincidência ou premonição, não sei. E hoje estou felicíssimo. Porquê? perguntarão os caros carantonhas, e o Nelson também. Então não é que depois de almoço me telefonou a filhota, feliz também, comunicando-me que hoje eu tinha ajudado o neto mais velho. Intrigado, perguntei porquê, e vocês, caros carantonhas, perguntem também: porquê? E lá veio a explicação. Na turma do Ricardo (o neto), na disciplina de português, uma das tarefas era ler um livro e depois explicar a história na aula, bem como dar a conhecer o autor.
O Ricardo aconselhou-se com a mãe, e como eu em tempos lhe tinha oferecido as Aventuras de João sem Medo, que ele só tinha começado a ler, foi-lhe sugerido que acabasse a leitura do mesmo para apresentar na aula. Foi hoje, e por sorteio, não é que calhou ser o Ricardo o contemplado? E então como tem queda para o teatro (tem a quem sair - gaba-te cesta - desde os avós até à mãe) pegou no seu jeito clownesco de comédia em pé, quer dizer, para se perceber melhor, stand up comedy, e apresentou o trabalho. Foi um êxito. Desde a professora aos colegas todos classificaram de muito bom o trabalho, o que fez com que o Ricardo exultasse de alegria, e os pais também. E eu, repito estou felicíssimo.

De vez em quando, vou almoçar com o meu colega e amigo Nelson Ferraz. Por vezes, junto do seu local de trabalho topamos com uma feira do livro. Há uns tempos, quando olhávamos para os livros expostos, o meu amigo chamou-me a atenção para Aventuras de João Sem Medo do José Gomes Ferreira, que salvo erro, tinha começado a reler, e para uma fantástica citação, que era a seguinte:

É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR

Expliquemos: O João era um rapaz "que vivia em Chora-Que-Logo-Bebes, exígua aldeia aninhada perto do Muro construído em redor da Floresta Branca onde os homens, perdidos dos enigmas da infância haviam instalado uma espécie de Parque de Reserva de Entes Fantásticos."
A floresta por trás do muro era -é - o sítio onde se instalaram os medos, os temores, os fantasmas (não serão estes também, medos? Fantasmas sem medo só conheço o Gaspar O Fantasminha) dos chora-que-logo-bebensses. Mas também as fantasias -há lá fadas, magos, árvores que andam e falam, e outros. Mas como medos e fantasias eram desconhecidas "dos infelizes chorincas que se lastimavam de manhã até à noite" ninguém tinha coragem sequer de espreitar por cima do muro, quanto mais de o ultrapassar para "combater bichos de sete bocas,gigantes de cinco braços ou dragões de duas goelas". Foi o que se propôs fazer, e assim fez, o nosso João, "farto de tanta choraminguice e de tanta miséria". E com tanta pressa o fez que nem leu o palavreado do letreiro até ao fim: É PROIBIDA A ENTRADA A QUEM NÃO ANDAR ESPANTADO DE EXISTIR. E se houver alguém que não ande espantado de existir, e queira saber toda a história, é aconselhável que leia o romance. É o que eu vou fazer, reler o livro, do qual já não lembro muita coisa. Se o fizerem, que vos aproveite.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lembrando António Aleixo


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e
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da autoria de Tossan.
Hoje é dia de lembrar o poeta popular António Aleixo. Natural de Vila Real de Santo António, onde nasceu em 18/2/1899, veio a falecer em Loulé em 16 de Novembro de 1949.
Ninguém, estou certo, desconhecerá as suas quadras, por as ter lido ou ouvido cantadas.
Quem não conhece, por exemplo:
**
Vós que lá do vosso império
prometeis um mundo novo,
calai-vos que pode o povo
qu'rer um mundo novo a sério
**
ou
**
Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão
**
De ascendência proletária - seus pais eram operários - embora homem humilde e simples, era semi-analfabeto, pois sabendo ler escrevia com muitos erros. A sua vida, foi uma vida de pobreza, mudanças de emprego, emigração (França), tragédias familiares e doenças. Foi tecelão, polícia, pedreiro, guardador de gado e por último cauteleiro. Cantava as suas quadras pela feiras e romarias, sendo por isso conhecido por poeta-cauteleiro. As vicissitudes porque passou, vieram a traduzir-se numa tuberculose, que o levou, na esperança de cura, até ao sanatório da Quinta dos Vales, em Coimbra, onde encontrou o seu conterrâneo Tossan (António Santos) que o havia apresentado ao dr. Armando Gonçalves, médico que conseguiu o seu internamento. Foi Tossan quem lhe foi corrigindo a escrita e que o incentivou a elevar a sua cultura pessoal. Foi o seu período mais fértil. Aqui nasceram os seus Autos: Auto do Curandeiro, Auto da Vida e da Morte e Auto do Ti Jaquim, que não terminou. Foi em Coimbra que conheceu o dr.. Joaquim Magalhães, que coligiu ,e organizou para publicação, as suas quadras. Em Coimbra conheceu e privou com alguns intelectuais, entre eles o Dr. Paulo Quintela, Miguel Torga, Joaquim Namorado, Deniz-Jacinto e Arquimedes da Silva Santos, seus admiradores. Esteve em Coimbra por duas vezes, mas não conseguiu vencer a doença, que já lhe havia roubado uma filha. Regressou a Loulé, onde veio a falecer.
Fiquemos com algumas quadras menos conhecidas:
++
Só desejo dar um beijo
no rosto duma mulher,
se for maior o desejo
do que o beijo que eu lhe der
++
Sem que o discurso eu pedisse,
ele falou; eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
do que disse não gostei.
++
Eu já não sei o que faça
p'ra juntar algum dinheiro;
se se vendesse a desgraça
já hoje eu era banqueiro.
++
Se o hábito faz o monge
e o mundo quer-se iludido,
que dirá quem vê de longe
um gatuno bem vestido?
++
Meu amor vê se te ajeitas
a usar meias modernas,
dessas meias que são feitas
da pele das próprias pernas.
++
Não sou esperto nem bruto,
nem bem nem mal educado:
sou simplesmente o produto
do meio em que fui criado.
++
Julgando um dever cumprir,
sem descer no meu critério,
digo verdades a rir
aos que me mentem a sério

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Sabedoria

Folheando alguns alguns textos soltos, num acto de arrumação de papeis, encontrei um texto interessante, que não resisto a partilhar com os meus amigos carantonhas.

-"Um velho índio, certo dia, durante uma conversa, confessou os seus conflitos intimos.
- Dentro de mim existem dois cachorros; um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Mas estão sempre a lutar.
Quando lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a luta, o velho sábio índio reflectiu e respondeu:
- Aquele que eu alimentar."

Comentários para quê! Uma tão curta resposta que encerra uma enorme lição de vida.

Preguiça


Voltei!! Eu sei que os quatro inefáveis carantonhas que me seguem já tinham estranhado a minha ausência. Também sei que eleições, novo governo, (talvez fosse mais aconselhável um governo novo, mas que lhe havemos de fazer!), corrupção, subornos de vária ordem, julgamentos que nunca mais acabam, outros que nunca mais se iniciam, assassinatos, enfim, o lote é demasiado extenso, tudo isso daria para as mais variadas abordagens aqui. Mas felizmente (já vão ver porque digo felizmente), nada disso me entusiasmou. Explico porquê: praí há um mês, passando por uma dessas feiras do livro que agora se fazem em qualquer canto, encontrei um livro fantástico. O livro objecto é um dois em um, quer dizer, são dois livros-texto, num só livro-objecto. A gente está a ler de um lado, e do outro, o texto está de pernas para o ar. Perceberam?
Perguntarão: E o que tem isso a ver com ausência tão prolongada? Tem tudo. É que de um lado (o que ando a ler devagar, devagarinho) o tema aborda um assunto que suponho caro a muita gente - O Direito à Preguiça. Do outro, por enquanto de pernas para o ar, A Arte da Sesta. E assim vou preguiçando e sestando. E embora saiba - eu, que tive educação católica, mas não pratico - que a preguiça é um pecado capital, tenho que aproveitar. Digam lá caríssimos se não tenho pelo menos duas razões para não vos aborrecer. Agora vou preguiçar mais um pouco pois a sesta já se foi.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Candidatos


Democracia é a arte de dizer "cãozinho bonito" até se encontrar uma pedra
Wynn Catlin
Modernamente, todo aquele que pretende um cargo de nomeação ou eleição, candidata-se, é o candidato. Só que hoje quem se candidata veste-se como lhe agrada, desde o mais formal fato e gravata até à veste mais indiferenciada (parece que agora se diz “casual”). Já imaginaram o ridículo que seria hoje, se alguém se apresentasse a disputar um cargo, todo de branco vestido? Pois, mas é daí que deriva a palavra candidato, através do latim candidatu, “o que vem vestido de branco” (não nos esqueçamos de palavras como cândido, candura, etc.) De facto, na antiga Roma, todo aquele que concorria a um cargo político devia ser homem sem mancha, puro, de consciência limpa – “branco”, resumindo.
Daí que quando apresentavam a sua candidatura, envergavam uma toga de alvura imaculada. Por extensão o termo passou a aplicar-se a todo aquele que concorria a qualquer cargo. Os meus caros carantonhas desculpem, mas eu cá, com o meu espírito retorcido, hoje, obrigava a que todos os pretendentes, ou concorrentes (palavras que querem dizer o mesmo que candidato) se apresentassem de negro. Sabem o que eu quero dizer, não sabem? Pronto, já disse.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Interlúdio II

Mais um interlúdio. Desta vez poesia. De vez em quando sabe bem dar voz aos poetas e ao seu ofício.Fiquem, carantonhas, com um poema de Nuno Júdice:

O Poeta

Trabalha agora na importação e exportação.
Importa
metáforas, exporta alegorias. Podia ser um
trabalhador por conta própria,
um desses que preenche cadernos de folha azul
com números
de deve e haver. De facto, o que deve são
palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol e exportar as nuvens. Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas, de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que passa a caminho da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu; e fixa, na dureza da noite,
o bater de asa, o azul, a sábia interrupção da morte.

Nuno Júdice, in "Teoria do Sentimento", in Poesia Reunida 1967-2000

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Interlúdio I











Imagem de um peixe-palhaço

Um dia destes, talvez já amanhã, quem sabe, vou trazer aqui uma outra palavra que tem relação directa com a política.
Entretanto, antes de lá chegarmos, aqui fica um pequeno interlúdio:
Reinvenção de um antigo ditado popular. Melhor dito, reconversão. Parece que é assim, agora, em futebolês, já que a tirada saiu da boca de um presidente de clube (SLB) referindo-se a outro presidente (SCP). Não quererá o tal presidente incluir o ditado reconvertido, no fundo de activos do seu clube? Talvez a CMVM agradecesse.Então cá vai, tal como o ouvi hoje:

A boca morre pelo peixe.

Bonito, não é? E suculento.


segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Limpesa a seco

Nos jornais foi noticiado que está em marcha uma iniciativa denominada "Limpar Portugal" com o intuito de reunir 10 000 pessoas que se propõem recolher o lixo de todas as florestas do nosso país, e a realizar no dia 10 de Março do próximo ano. Iniciativa digna de louvar e de apoiar. Quero lá estar também. Só é pena que quem pode não tome a mesma iniciativa mais vezes por ano. Caros carantonhas, vocês sabem onde quero chegar! Eu vou querer estar na iniciativa. E agora não me importo que me considerem politicamente incorrecto, mas vou gostar de saber se alguém se vai encarregar de fazer a contagem de quantos(as) beneficiários(as) do Rendimento de Inserção vão participar. Então até lá. Disse.

Idiotas

Democracia é o nome que damos ao povo de cada vez que necessitamos dele.
Robert de Flers

Quantas vezes, ao depararmos com uma qualquer palavra, por mais simples que ela seja, não nos interrogámos sob a sua proveniência? Virá do latim, do grego, do árabe, ou até de uma outra língua?
Hoje, e porque estamos ainda em campanha eleitoral para as autárquicas, lembrei-me de trazer aqui uma palavra, que embora o povo que menciono ali em cima, nunca, por certo, tenha pensado nisso, tem uma relação directa com a política.
Nas cidades-estado da antiga Grécia, polis, quem governava ou detinha o poder eram os políticos. Em oposição a estes, estavam os que não tinham direitos (estrangeiros, escravos, mulheres) e os que por não terem vontade se alheavam da condução dos negócios da cidade, e ignoravam as decisões dos estrategos. Recebiam o nome de idiótes. Daqui, e através do latim idiota, nasceu o nosso idiota, que ainda na sua origem, por falta da tal informação política, ganhou o sentido de ignorante, sem instrução. A palavra surge na nossa língua, através do francês, em meados do séc. XIX, com o sentido de parvo, tolo. E aqui está como uma palavra que nos surge através da política, tem hoje um significado completamente diferente. E então quantos idiotas andarão por aí, enfronhados na política, a governar-nos?

domingo, 4 de outubro de 2009

Gracias, Mercedes


Amigos carantonhas, se puderem/quiserem, mais logo, com mais noite, olhem para o céu e poderão testemunhar a caminhada de uma grande senhora em direcção ao pó das estrelas. Se puderem/quiserem, apurem o vosso sentido de audição, e ouvirão que vai cantando "Gracias a la vida", poema da poetisa chilena Violeta Parra. Falo-vos de Mercedes Sosa a grande "cantante" popular argentina, que foi também uma acérrima defensora dos direitos humanos. Deixou-nos hoje, aos 74 anos. Gracias Mercedes por todo lo que hiciste.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Anedota


Gostava de voltar ao convívio dos estimados carantonhas que me seguem, com notícias sobre o que me levou a estar ausente durante tanto tempo. Mas não posso. Fica para depois, porque não posso deixar passar em branco aquilo que hoje(ontem) me fez rir quase até às lágrimas: a mais longa anedota que ouvi até hoje. A comunicação ao País do Presidente da República. E eu que pensava que o senhor não tinha sentido de humor!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Asfixia democrática

Imagem "roubada a chriisaliis.blogspot.com


A Dona Freira dos Leites, passada a aborrecida constipação que recentemente a atacou, segundo os noticiários televisivos deslocou-se à Madeira a fim de participar numa qualquer iniciativa organizada pelo sátiro presidente do governo regional. E então, a senhora questionada e pressionada pelos jornalistas, ainda sobre a liberdade de imprensa, disse esta coisa extraordinária, referindo-se ao sítio onde estava e ao seu correlegionário: "Ao contrário do que acontece no Continente, aqui não há asfixia democrática". Segundos depois, seguindo a mesma linha, o sátiro respondendo a uma pergunta, disse mais ou menos isto: "Liberdade democrática (o que quer que isso signifique, digo eu) é eu dizer o que penso e não o que os jornalistas querem". Se estes assuntos, -em política ou não-, não fossem demasiado sérios, era de rir a bandeiras despregadas. O que estes dois mereciam era levar com as "bolas" do Padre Inácio, nas trombas.
Diga-se que aqui os jornalistas são menos actores do que vítimas da pesporrência daqueles dois.

Jornalistas, trombas, trouxeram-me à memória a história que contava o Mário-Henrique Leiria.
Cá vai:

EXAGEROS

"O Alfredo atirou o jornal ao chão, irritadíssimo, e virou-se para mim:
- Estes jornalistas! Passam a vida a inventar coisas, é o que te digo. Então não afirmam que, no Sardoal, foi encontrado um frango com três pernas!Vê lá tu! È preciso ter descaramento.
Ajeitou-se melhor no sofá e, realmente indignado, coçou a tromba com a pata do meio."

O futebol que temos

Falemos hoje de futebol e da ineficácia dos nossos jogadores, tanto nos clubes como na selecção Depois de ter visto na nossa selecção serem feitos 36 remates para marcar um golo, e o seu opositor necessitar só de meia dúzia para fazer o mesmo; depois de à 3ª jornada do nosso campeonato, os golos (o factor de que vive o jogo, e o entusiasmo dos adeptos, no fundo, a sua essência) serem escassos, entendi que devia pôr-me em campo. Para quê? Ora, para arranjar goleadores e oferecê-los aos clubes e concomitantemente (de que palavra bonita e sonora me lembrei!) à selecção. E progressão aqui, finta acolá, não é que encontrei!
Vejam só aí em baixo.


Estes dois excelentes galifões são bons rematadores. Eu vi. Caros carantonhas, se souberem de algum dirigente que esteja interessado, mandem-no até mim, pois talvez possamos fazer negócio. E, quando estes belíssimos jogadores entrarem em campo, deixará de dizer-se que os guarda-redes “deram um frango”. Passará dizer-se que “tiveram galo”. E que se cuidem dragões, leões (ou gatinhos), águias (ou milhafres; agora parecem mais papagaios), castores, e até, embora andem mais por baixo, galos e panteras. Disse.

domingo, 6 de setembro de 2009

Liberdade de imprensa

Ele há cada coisa! Então não é que aquela senhora(?) burra, mal educada, inculta, "grossa", convencida, que apresentava um jornal na tv, pôs o país em alvoroço!Toda a gente opinou, e ainda opina, sobretudo os políticos, felizes por terem um motivo, em campanha eleitoral, para atacar o Governo, o nosso 1º, e o partido que os apoia. "Ataque à democracia", "asfixia da liberdade de comunicação", etc., etc. Até a outra senhora das entrevistas achou que "os espanhóis foram mais papistas que o Papa". Valha-nos Santo Inácio e "as suas nozes". O que mais me espanta é que tais opinadores, mas muito especialmente a Dona Freira dos Leites, não se tenham agora manifestado contra a chanceler alemã, por esta não ter permitido a presença dos jornalistas na sua breve entrevista com aquela. Aqui já houve uma ampla liberdade de imprensa. Valha-nos São Pancrácio e toda a sua família de santos.

HUMOR

Como todos sabemos,os brasileiros são mestres no humor. Tudo lhes serve para rirem e fazer rir. Vejam só. Para eles, o dia 6 setembro (6/9) é o dia mais pornográfico do ano. Se eles o dizem!! E então, calculem o que teriam sido os anos de 1969 e 1996!

O sono do Nico


O Nico (o meu gato), agora dorme, o safado. Pensa que está muito confortável, mãos esticadas e cabeça em cima do "portátel". Deve estar a pensar que eu também estou confortável a escrever. "Deixá-lo dormir, deixá-lo". Isto lembra-me "O Sono do João" de António Nobre, que começa por esta quadra:

O João dorme... (Ó Maria
Dize àquela cotovia
Que fale mais devagar:
Não vá o João acordar...)

Um dia destes deixo-vos aqui o poema todo. Agora vou eu dormir. Até amanhã.