terça-feira, 28 de setembro de 2010

Poema para acabar o dia

Tendo ainda como tema o vento, aqui fica um interessante poema de Ruy Belo,, que apesar de nos conduzir para o seu tom laudatório surpreende pelo fim inesperado.

O VALOR DO VENTO

Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras
e só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto.

A fotografia que ilustra o texto, não lhe respeita directamente, é um cartaz do filme "E Tudo O Vento Levou (Gone with the wind)", de 1939, com Vivian Leigh, Clark Gable e Olivia de Haviland, que ainda hoje, 71 anos depois, continua a ser um êxito. Por isso a quis aqui.

Passem um bom dia

"O essencial é ter o vento"


Até que enfim que consegui descobrir como se transferem vídeos para o blogue. Demorou, mas com paciência...

Este vídeo é a minha participação, no passado mês de Junho, na Festa na Baixa, organizada pelo Centro Nacional de Cultura. O evento chamou-se O Som das Palavras, realizou-se no átrio da Câmara Municipal do Porto, e teve a participação da Orquestra do Norte, dos dizedores Cidália Santos, Júlio Cardoso e Amílcar Mendes,que disseram poemas de Reinaldo Ferreira, e dos jovens bailarinos Ana Anunciação e Luis Faria.
O poema de Reinaldo Ferreira:

O essencial é ter o vento

O essencial é ter o vento.

Compra-o; compra-o depressa,

A qualquer preço.

Dá por ele um princípio, uma ideia,
Uma dúzia ou mesmo dúzia e meia
Dos teus melhores amigos, mas compra-o.
Outros, menos sagazes
E mais convencionais,
Te dirão que o preciso, o urgente,
É ser o jogador mais influente
Dum trust de petróleo ou de carvão.
Eu não:
O essencial é ter o vento.
E agora que o Outono se insinua
No cadáver das folhas
Que atapeta a rua
E o grande vento afina a voz
Para requiem do Verão,
A baixa é certa.
Compra-o; mas compra-o todo,
De modo
Que não fique sopro ou brisa
Nas mãos de um concorrente
Incompetente.

domingo, 26 de setembro de 2010

Poema para acabar o dia

Hoje apetece-me, para acabar o dia, falar-vos de uma quadrilha (não de malfeitores, nem parecida com aquelas de que falo no texto anterior), mas de uma quadrilha amorosa. Então aí fica o poema de Carlos Drummond de Andrade.

QUADRILHA

"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história."

Boa semana.

Seria bom que se entendessem

Isto, por muito que os iluminados queiram fazer crer que não, não está nada bem. Já todos o vamos sentindo. Isto, é a situação desastrosa do país. Os iluminados são os que nos governam, os seus apaniguados, mas também, e quando lhes convém, algumas figuras (eu ia a dizer figurões) da oposição. Veja-se as conversas, os discursos, agora é que vai ser, estamos de acordo, vamos salvar o país. Depois os arrufos, as zangas, as contradições, não converso mais com ele sem levar testemunhas, ele está a mentir, não senhor ele é que mente. E temos o destino do país entregue a esta gente. Seria bom, de uma vez por todas, saber quem é realmente o mentiroso. E que todos se entendessem, para de vez começarem a endireitar o que está torto. E há muita coisa que está. Esta, por exemplo: Dois indivíduos residentes em Santa Comba Dão, foram presos numa freguesia de Gaia, na posse de heroína, que tinham ido comprar ao Bairro do Aleixo. O facto nada teria de curioso, tão vulgar se tornou, não fosse o caso de ambos beneficiarem do Rendimento Social de  Inserção. Que tinham recebido no dia anterior. Quem paga a esta gente? Eu, você, todos os que procuram levar a vida honestamente. É tempo de fazer sentir a quem nos governa, que está na hora de começar a exigir que acabe esta rebaldaria.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A minha escola

Uns dizem que é o inicio. Outros, que é o recomeço. Para uns é o retomar da azáfama. Para outros é (como diz a cantiga) o primeiro dia do resto das suas vidas. Para todos é o ano escolar que começa. São os trabalhos, as canseiras, incluindo pais, avós ou outros familiares. Na cidade, até à pouco meio adormecida, vai começar a instalar-se o caos no trânsito, muito por culpa dos carros instalados em segunda fila, e pasme-se, às vezes até em terceira, junto aos colégios. Foi a pensar nisto, que me lembrei da minha primeira escola (nesse tempo ainda era "a escola primária"), e do meu primeiro dia. É das recordações que tenho mais presentes. Lembro-me perfeitamente que a minha mãe, sabendo da minha timidez e das poucas vezes que eu saíra debaixo da sua asa, começou com alguma antecipação a preparar esse primeiro dia. No dia aprazado, eu, na retranca, ensaiei uma sonora choradeira. Quanto mais a minha mãe insistia, mais eu chorava. Até que farta de me ver chorar conseguiu congeminar um estratagema, que só depois de muita resistência me convenceu:-"Vá, vamos, que o professor Rocha e os alunos mais velhos, vão fazer um magusto, assar castanhas (nessa época as aulas começavam em Outubro) e já estão à espera, só faltas tu". E eu, sentindo-me importante por obrigar o professor a esperar, lá fui. Só que, ó desilusão, magusto, nem vê-lo. E eu lá me convenci que tinha mesmo que ficar.E logo ali comecei o meu relacionamento com os novos colegas, alguns dos quais eu já conhecia. Depois vieram as bricadeiras, o estudo, as amizades, e por aí fora. E hoje, quando por breves períodos regresso à minha aldeia, revejo os meus amigos e não deixo de ir dar uma olhadela à minha escola, que embora sem o bulicio de outrora, por ter sido substituida por outra mais moderna, ainda lá está à espera de que a tornem permanentemente útil.

Palavras!

Palavras ouvidas a uma moradora de um dos bairros sociais, dos mais (talvez o mais)problemáticos do Porto, um dos grandes focos da criminalidade instalada, e que vai entrar em obras: - "Qualquer pessoa entra facilmente nas casas. Por exemplo, tenho um grande LCD na sala e tenho medo que mo roubem". Pelo exemplo imaginem a cena.
Irónico, duas vezes irónico. Vá, digam lá onde é que está a ironia.

sábado, 4 de setembro de 2010

Pudor e poesia

Pelo menos dois jornais desportivos de hoje colocavam na sua primeira página títulos mais ou menos assim: (cito de memória) "não gozem mais connosco", ou "não gozem mais com o povo". Isto, a propósito da desavergonhada e escandalosa exibição da nossa selecção "futeboleira". Como é que é possível não querer que os nossos "meninos" do chuto (na bola) gozem com a "maralha", se o indivíduo que ocupa o cargo de secretário de estado do desporto (para tal personagem, só grafado com letra pequena), entidade que também tutela o futebol, é o primeiro a dar o exemplo. Refiro-me à despudorada conferência de imprensa da passada 5ª-feira, sobre o processo instaurado ao seleccionador nacional.Para justificar o injustificável. Como é possível não dizer nada, e no nada que disse, dizer tantas asneiras? Começo a pensar (não sei se tarde demais) que, de facto, com tais governantes, este pobre país vai mesmo pró galheiro. Mas isto não é de agora,  já vem de longe. Veja-se o que nos dizia António Nobre em 1889 num seu soneto:...( mal despontava para a vida inquieta,/logo ao nascer mataram-lhe os ideais...) e no terceto final: Nada me importas, País! seja meu Amo/ O Carlos ou o Zé da T'reza... Amigos,/Que desgraça nascer em Portugal. Mas também Jorge de Sena no seu poema "A Portugal", de 1961, que começa assim: "Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Não é ditosa, porque o não merece./Nem minha amada, porque é só madrasta./Nem pátria minha, porque eu não mereço/a pouca sorte de nascido nela." e que acaba "... eu te pertenço. ès cabra, és badalhoca,/ és mais que cachorra pelo cio,/és peste e fome e guerra e dor de coração./Eu te pertenço mas ser's minha, não." E termino com a opinião de Alexandre O'Neill: "Ó Portugal, se fosses só três sílabas,... ó Portugal, se fosses só três sílabas/de plástico, que era mais barato/" e cujo termo é como ides ler: "Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,/golpe até ao osso, fome sem entretém,/perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,/rocim engraxado,/feira cabisbaixa,/meu remorso,/meu remorso de todos nós..." Como vêem! E para que não se perca tudo, aconselho-vos a ler os três poemas na íntegra.
Bom domingo.

Justificação

De vez em quando, e apesar da idade, temos que pôr a orelhinha a jeito, para o respectivo puxão. Não é que a carantonha filhota, no post anterior, exige um pedido de desculpas por tão longa ausência? E pronto, humildemente me curvo perante os carantonhas que me seguem, para que me perdoem tão longa ausência, embora esta se justifique por razões válidas. . Mas dou nota da minha satisfação por constatar que, pelo menos uma carantonha, continua vigilante. Prometo ser mais constante.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Vergonha

Filme: "O piloto automático"
Género: comédia negra
Actores: Portugal e Chipre
Local: Guimarães
Classificação: filme classe B

Confesso que há muito tempo não me ria tanto com esta comédia de humor negro, protagonizada por tão maus actores. Vergonhoso.Espero que o próximo filme com estes actores seja bem melhor.