sexta-feira, 25 de outubro de 2013

E O OUTONO...

FOSSES TU
Fosses tu uma ave ou uma folha
E o Outono te viria desprender.

Daniel Faria

Estou sentada nas primeiras chuvas deste inesperado outono.
Abro as mãos e vejo um homem sorrindo. Os seus passos têm a medida dos meus. Um dia descobrirei porquê. Senta-se a meu lado, disposto
a esperar comigo a chegada do verão.
Pouco a pouco, uma música paira sobre o meu corpo. Agrafo os fios do sono para poder atravessar o outono de mãos dadas com ele. Foi quando percebi que lhe chamei amigo. Então, como se fosse um profeta, escreveu num muro branco o futuro dos gestos e da sede., falou-me de lugares onde os lábios rompema neve, e as gaivotas se tornam irmãs dos barcos, secretamente, num privilégio só concedidos ao mar.

Graça Pires, in Outono: Lugar Frágil


Gosto · 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

ACERCA DO OUTONO

“É outono, o lugar onde os temores se confundem com a coragem, onde é permitido recordar amores perdidos.
Outono, o lugar onde contorno um horizonte, alternadamente azul e mel, e a liturgia dos gestos se repete, intacta e definitiva.
Aprendo a direcção dos ventos nos braços das mulheres com quem convivo.
Uma andorinha incandescente pulsa na página onde transcrevo um adágio contraditório, enquanto uma ideia, flexível como sombras, contorna o lado indecifrável da cara dos dias.
Sei hoje que o amor e a morte são a matéria preferida dos que pernoitam debaixo de roseiras bravas e sabem que, tanto as garças como os papagaios de papel, voam sempre mais alto no outono. 
Vou no vértice desses bandos, numa migração de risos transparentes.
O restolho do milho é a cama que escolho para desvendar segredos nunca revelados por ninguém. É por isso que há franjas vermelhas pairando sobre as casas onde moram mulheres grávidas com um fogo fátuo marcado nos lábios”.

Graça Pires in Outono: Lugar Frágil

O BEIJO DA FOCA

Sabes, por cá começou já há alguns dias o outono. Chegaram já as primeiras chuvas, depois da luz intensa do verão. É o tempo do cair das folhas. Tempo de caminhar para o fim, tempo de penumbra. Tempo também de alguma solidão. É também o tempo de olhar para trás, tempo de balanço, tempo de encarar o fim com a tranqui8lidade que nos vem da experiência. Por cá, na solidão (relativa) em que vou vivendo, sinto a tua falta. Recordo-te com muita frequência. Chego a convencer-me que ainda andas por cá. E é recordando-te que compenso a tua ausência.
Sabes, hoje por aqui é o Dia Mundial do Animal, e então achei que seria bom recordar-te com o "beijo da foca". Lembras-te
Por hoje é tudo. Fica bem, pois eu vou minorando a tua ausência, recordando-te.