quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Lembrar Josè Afonso

25 anos é muito tempo? Para algumas coisas parece que foi ontem. Para outras, se a lei do esquecimento não as varrer da memória, um quarto de século é já a saudade que nos morde. No caso de Zeca Afonso, o maior cantor de intervenção português, que nos deixou num  23 de Fevereiro de há 25 anos, é (foi) a memória colectiva que ficou(a) mais pobre. O Zeca foi um prolífico autor de canções, que musicou. Mas para alé disso escreveu muitos poemas que não musicou. Escreveu e musicou também poemas para peças de teatro da Barraca.
Aqui fica o registo de dois dos poemas não musicados:

«VENÂNCIO ERA COELHO»

Venâncio era coelho
Numa outra geração
Transmigrava de noite
De dia sucumbia
Quatro coisas Venâncio
Adorava fazer
Ver, comer, rogar pragas
Cortar as patas às moscas
Viaja sempre
Com apelidos falsos
Não declara
A bagagem que leva
Diz-se ministro
Papa
Boletineiro
Tem um metro e setenta
Não se importa
Que lhe mijem em cima

Atenção é vampiro

A PALAVRA

A palavra gatinha
Sem nada por cima
A palavra rompe
                              investe
                                          perfura
Comprida a palavra perde-se
Em redor da mesa reveste-se organiza-se

A palavra precisa de ternura

 O poema Epígrafe para a Arte de furtar, cantado pelo Zeca, é de Jorge de Sena.

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