sábado, 14 de abril de 2012

O momento já é de saudade

Chamava-se Bela Maria Dourado Ferreira Mendes. Era a Bela, a Bela Maria, até a Belinha. Sabiamos da(s) sua(s) fragilidade(s). Ela também. Sabiamos que estava cansada de viver. Não esperavamos é que tivesse resolvido partir tão cedo. Foi a MULHER que me "aturou" durante quarenta e cinco anos. "Deu-nos" um casal de filhos que amamos e três netos que adoramos. Mesmo na doença tentou sempre estar de bem com a vida, mas, de tanto lutar não resistiu ao chamamento e resolveu partir para a viagem sem retorno, hoje, manhã cedo. Sabemos que alcançou a paz que merecia. BEM HAJAS pelo que por nós fizeste enquanto estiveste connosco
Em sua memória aqui fica um poema de José Gomes Ferreira 

"Devia morrer-se de outra maneira.
Transformarmo-nos em fumo, por exemplo.
Ou em nuvens.
Quando nos sentíssemos cansados, fartos do mesmo sol a fingir de novo todas as manhãs, convocaríamos os amigos mais íntimos com um cartão de convite para o ritual do Grande Desfazer: «Fulano de Tal comunica ao mundo que vai transformar-se em nuvem hoje às 9 horas. Traje de passeio.»
E então, solenemente, com passos de reter tempo, fatos escuros, olhos de lua de cerimónia, viríamos todos assistir à despedida.
Apertos de mãos quentes. Ternura de calafrio. Adeus! Adeus!»
E, pouco a pouco, devagarinho, sem sofrimento, numa lassidão de arrancar raízes… (primeiro, os olhos… em seguida, os lábios… depois os cabelos…) a carne, em vez de apodrecer, começaria a transfigurar-se em fumo… tão leve… tão subtil… tão pólen… como aquela nuvem além (vêem?) – nesta tarde de outono ainda tocada por um vento de lábios azuis…"


                                              

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