domingo, 8 de dezembro de 2013

A MORTE DO PAI NATAL

Ora pois, já se respira por aí o cheirinho a natal. Confesso que, apesar de continuar a gostar da festa na (da) família, o espírito da quadra, como hoje se festeja, não me é particularmente simpático. É que, e não sou bota-de-elástico, continuo a olhar com alguma nostalgia, o natal dos meus tempos de criança, isto porque no meu Natal continua a ter mais lugar o Menino Jesus do que o simpático velhinho inspirado no arcebispo turco São Nicolau. Então deixo-vos aí

A MORTE DO PAI NATAL

Era um pai Natal barrigudo, com longas barbas brancas e um fato vermelho com capuz. Vivia no Pólo Norte e tinha um trenó puxado por seis renas.
Uma noite de Natal, andando ele a distribuir brinquedos, pousou o seu trenó no telhado coberto de neve de uma casa de lousa. Como a chaminé era estreita e o pai Natal não cabia, resolveu descer e bater à porta.
- Quem é? – perguntaram de dentro vozes de criança.
- É o Pai Natal.
- Não pode ser.
- Sou, sou.
- O Pai Natal não existe.
- Existe sim! Sou eu!
- …e nós somos órfãos.
- Coitadinhos!
- E se és o Pai Natal, porque vens bater à porta em vez de entrares pela chaminé?
- Porque a chaminé é estreita e a minha barriga muito grande.
- Balelas! Tu é que não és o Pai Natal!
- Sou eu, sim! Abram-me a porta! Deixem-me entrar!
- Se és o Pai Natal e queres entrar, entra pela chaminé.
O Pai Natal não teve outro remédio. Se queria que acreditassem nele, tinha de entrar pela chaminé. Subiu de novo ao telhado. Despiu a roupa toda e untou o corpo com manteiga, para escorregar melhor. Saltou.
Splash! Em cheio na panela que estava ao lume!
Nunca os meninos tiveram um Natal tão feliz!

Rui Souza Coelho, Fernando Pessoa contra o Homem Aranha,
Lisboa, Ulmeiro, 1986
Gosto · 

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