segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Dia da Mãe

Sabe-se que as mais antigas comemorações do dia da Mãe tiveram origem na antiga Grécia em honra de Rhea, mulher de Cronos e mãe dos deuses, e depois em Roma em honra de Cybeles, mãe dos deuses. Tal como hoje se conhecem, as comemorações tiveram origem nos EEUU, onde a ideia partiu de Ana Jarvis que em 1904, aquando da morte de sua mãe, chamou a atenção para a criação de um dia especialmente dedicado às mães. Três anos depois, a 10 de Maio, foi celebrado o primeiro dia da Mãe na igreja de Grafton, e começou a campanha para um dia da mãe a nível nacional. Foi tal o êxito, que o Presidente Woodrow Wilson declarou oficialmente o 2º domingo de Maio como o Dia da Mãe. O acontecimento alargou-se a outros países, e hoje em dia, quase todo o mundo celebra o Dia da Mãe, embora em datas diferentes. Em Portugal, depois de muitos anos a ser celebrado a 8 de Dezembro, passou a ter como dia o 1º domingo de Maio.
Para mim o Dia da Mãe continua a ser o dia 8 de Dezembro. Por isso aqui vos deixo um texto poético e dois poemas.

Mãe!
vem ouvir a minha cabeça a contar histórias ricas que ainda não viajei! Traze tinta encarnada para escrever estas coisas! Tinta cor de sangue, sangue! verdadeiro, encarnado!
Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Eu ainda não fiz viagens e a minha cabeça não se lembra senão de viagens! Eu vou viajar. Tenho sede! Eu prometo saber viajar.

Quando voltar é para subir os degraus da tua casa, um por um. Eu vou aprender de cor os degraus da nossa casa. Depois venho sentar-me a teu lado. Tu a coseres e eu a contar-te as minhas viagens, aquelas que eu viajei, tão parecidas com as que não viajei, escritas ambas com as mesmas palavras.
Mãe! ata as tuas mãos às minhas e dá um nó-cego muito apertado! Eu quero ser qualquer coisa da nossa casa. Como a mesa. Eu também quero ter um feitio, um feitio que sirva exactamente para a nossa casa, como a mesa.

Mãe! passa a tua mão pela minha cabeça!
Quando passas a tua mão na minha cabeça é tudo tão verdade!

José de Almada Negreiros, Obras Completas – Poesia,
Editorial Estampa, Agosto de 1971


PARA SEMPRE

Porque Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água puro, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Porque Deus se lembra
- mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto do seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade


MINHA MÃE QUE NÃO TENHO

Minha mãe que não tenho meu lençol
de linho de carinho de distância
água memória viva do retrato
que às vezes mata a sede da infância

Ai água que não bebo em vez do fel
que a pouco e pouco me atormenta a língua.
ai fonte que eu não oiço ai mãe ai mel
da flor do campo que me traz à míngua

De que Egito vieste? De qual Ganges?
De qual pai tão distante me pariste
minha mãe minha dívida de sangue
minha razão de ser violento e triste.

Minha mãe que não tenho minha força
sumo da fúria que fechei por dentro
serás sibila virgem buda corça
ou apenas um mundo em que não entro?

Minha mãe que não tenho inventa-me primeiro:
contrói a casa a lenha e o jardim
e deixa que o teu fumo que o teu cheiro
te façam conceber dentro de mim.

José Carlos Ary dos Santos
In Obra Poética - Edições Avante - 1994

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