terça-feira, 7 de julho de 2009

Tempo de romarias, tempo de festas

Santo António já se acabou/O São Pedro está-se a acabar/S. João, S. João, S. João/Dá-me um balão para eu brincar. Era assim que se cantava (desconfio que ainda hoje se canta) cá pelo Norte na época dos Santos Populares. Estes já ficaram para trás mas as festas populares e as romarias continuam por todo o lado, principalmente no norte do país. É também altura de muitos portugueses da diáspora regressarem temporariamente às suas origens. É o tempo de o povo se manifestar, dar largas à sua alegria (nesta altura todas as agruras se esquecem, penso eu), descomprimir de um ano de trabalho árduo. É também boa altura para o povo manifestar a sua veia poética, nas cantigas ao desafio que se cantam em despique por vezes duro. E assim nascem muitas vezes os versos - quadras populares - que passam a andar na boca desse mesmo povo. Quadras muitas vezes de sentido crítico, e algumas (muitas) legando-nos um forte conceito de moralidade. Dito isto, porque não algumas quadras populares. Vamos a isso.

Debaixo do verde pinho
Se derrete a neve pura...
Amar a quem nos não ama,
É refinada loucura.

Ó meu amor a quem deste
O teu lenço de pintinhas?
Com quem foste repartir
O amor que tu me tinhas

O padre quando diz missa,
Abre o livro e diz: oremos.
Também te digo amor,
Desta feita acabaremos.

Não há pau como o carvalho,
Nem lenha como a de azinho;
Nem filhos como os do padre
Que chamam ao pai, padrinho.

Que triste sorte é a minha,
Tudo é o que Deus quer,
Inda hoje me casei
Já me pariu a mulher.

Todo o pássaro bebe água,
Só a coruja bebe azeite;
O seu canário, menina,
Come carne, bebe leite.

Ó meu amor, se tens penas
Eu ponho água a aquentar
As penas, com água quente,
São boas de depenar.

Menina, prenda o seu cuco,
Que me vai ao meu quintal.
Se lhe solto o meu canário,
O seu cuco fica mal.

Ó menina, dê-me, dê-me,
Uma vez não marca raia:
Um velo de lã merina,
Que tem debaixo da saia.

Sete vezes fui casada;
sete homens arrecebi.
Para falar a verdade
Inda 'stou como nasci.

À prima mais se lhe arrima,
Lá diz o velho ditado.
Ouve a voz do povo ó prima
E vem deitar-te a meu lado.

E por aqui me fico. Usufruam, carantonhas. Até um dia destes.

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