sábado, 3 de dezembro de 2011

No país dos sacanas

Vá lá, em que país estavam a pensar ao ler o título? Pois, é esse mesmo. É, é esse mesmo país no qual os que nos governam, fingem não saber quanto são sacanas. Para vosso gozo aqui fica o poema de Jorge de Sena.

NO PAÍS DOS SACANAS

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência,
a justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como  ser-se então neste país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro , e o gajo morreu na mesma.

Carantonhas, desfrutem bem do vosso domingo, se possível com leituras e ,se não for pedir muito, lendo poesia.

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