quinta-feira, 23 de outubro de 2008

OUTONO

Dos dicionários: estação do ano que começa em 22 de Setembro e termina a 21 de Dezembro. Colheita. (Fig) Decadência. Idade que precede a velhice: o outono da vida. (Pl.pop.)Cereais que se semeiam no outono. O Outono é o tempo que decorre entre o equinócio de Outono e o solestício de Inverno.
Outono, tempo em que a terra se deixa domar para que dela se extraiam os filhos que criou - as colheitas. Tempo de se abrir de novo para acolher novas sementeiras. Mas também tempo de fulvas claridades. Tempo de sonhar, de nos deixarmos embalar pela mornidão do tempo.
Outono, tempo do cair das folhas. Tempo de caminhar para o fim. Tempo de penumbra, tempo também de alguma solidão.
Outono, tempo de nostalgia, tempo de chegada das primeiras chuvas, depois da luz intensa do verão. Tempo de olhar para trás, tempo de balanço, tempo de encarar o fim com a tranquilidade que nos vem da experiência.
Outono, tempo de histórias contadas ao borralho enquanto nos comprazemos com o calor do madeiro que arde lentamente,até que na cinza quente possam ser depositados esses frutos deliciosos, as castanhas (pergunto eu: será que ainda há borralhos? Talvez mais fogões de sala)
O Homem das castanhas
Na Praça da Figueira ou no Jardim da Estrela
num fogareiro aceso é que ela arde
ao canto do Outono à esquina do Inverno
o homem das castanhas é eterno
Não tem eira nem beira nem guarida
e apregoa como um desafio
é um cartucho pardo a sua vida
e se não mata a fome mata o frio.
Um carro que se empurra um chapéu esburacado
no peito uma castanha que não arde
tem a chuva nos olhos e tem um ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde
Ao pé de um candeeiro acaba o dia
voz rouca com o travo da pobreza
apregoa pedaços de alegria
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas quentinhas
a estalarem cinzentas na brasa
Quem quer quentes e boas quentinhas
Quem compra leva mais calor (amor) para casa.
A mágoa que transporta é miséria ambulante
passeia na cidade o dia inteiro
é como se empurrasse o Outono distante
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.
José Carlos Ary dos Santos in As Palavras das Cantigas,
Edições Avante, Novembro de 1989

1 comentário:

De Amor e de Terra disse...

Meu querido VÔ Miquinhos, que importa que não esteja em quadras?
Está lá e é o que importa...
toda a gente lê e toda a gente entende; às vezes as máquinas pregam-nos destas!
Acho que como em muitas outras coisas, conta a intenção e essa, em ti, é como sempre tem sido, relembrar ou dar a conhecer.
Bem Hajas!

Beijo da Maria Mamede